Resíduo orgânico que vira oportunidade para moradores do Monte Cristo, em Florianópolis

Resíduo orgânico que vira oportunidade para moradores do Monte Cristo, em Florianópolis

Cerca de metade do peso dos resíduos sólidos coletados é matéria orgânica. Em Florianópolis, isso representa 85 mil toneladas por ano. Até que os resíduos orgânicos sejam recolhidos, muitas vezes eles ficam expostos nas ruas e lixeiras, criando um ambiente propício para a proliferação de ratos, baratas e doenças. Em 2009, um surto de leptospirose na comunidade do Monte Cristo, região continental da Capital, levou a Cepagro (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo) e parte dos moradores a adotarem estratégias de combate e prevenção. Assim, surgiu o projeto “Revolução dos Baldinhos”.

Em vez de jogar a matéria orgânica com o resto do lixo em sacos plásticos e depositá-los nas calçadas, a comunidade passou a separar o resíduo orgânico em baldes. Os baldes viraram grandes tonéis e, até hoje, são levados para o quintal de uma escola municipal, no Monte Cristo, onde são feitas cinco leiras de compostagem, com capacidade de produzir duas toneladas de adubo. Depois de pronto, parte do material é doada aos moradores e outra parte é vendida. “A gente percebe que há um grande desperdício de comida. Coletamos, damos valor e devolvemos às famílias para que elas possam plantar alimentos saudáveis nos quintais de casa”, disse Ana Karolina da Conceição, 33, coordenadora do projeto.

O incentivo à horta caseira também tem outra razão. De acordo com dados da Anvisa, mais de 33% do que vai para a mesa dos brasileiros tem níveis de agrotóxicos acima do permitido por lei. “Aquilo que comemos está lotado de agrotóxico. São mais de 400 tipos, sendo que metade deles é proibida nos EUA e na Europa. Isso causa problemas ambientais, na medida em que, com as chuvas, penetram no solo e vão para o lençol freático, córregos, rios e mar. Também entram na cadeia produtiva e são absorvidos pelo organismo. Todas as mães têm pelo menos um agrotóxico no leite”, comentou Antônio Marius Bagnati, presidente da Comcap.

Mesmo que esteja em constante expansão, a consolidação da “Revolução dos Baldinhos” levou a equipe do projeto a abraçar novas causas. “Na comunidade tem muita fritura de salgadinho. Daí, começamos recolher o óleo. Com ele, fazemos sabão com ervas medicinais, como babosa e arruda”, contou Gisele França Marinho, 30. De acordo com o marido de Gisele, Hamilton Jesus, 33, toda família que doa óleo recebe uma barra de sabão.

Agora, seis anos após a implementação da “Revolução dos Baldinhos”, o projeto busca meios para regularizar a atividade junto ao poder público. “Pretendemos formalizar uma associação até o final de agosto. Cada tonelada de todo o material misturado levado ao aterro sanitário custa R$ 131, por isso a gente gostaria de uma remuneração pelas toneladas que já tiramos de dentro do bairro. Em seis anos foram aproximadamente 850 toneladas de resíduos orgânicos. Também é uma maneira de dar mais oportunidade aos moradores do bairro que gostariam de trabalhar com a gente”, finalizou Ana Karolina.

(Notícias do Dia Online, 08/08/2015)