27 jul Bazar nativo
(Por Sergio da Costa Ramos, DC,26/07/2015)
O Mercado Público – revitalizado para o renascimento do centro histórico – ressurgirá neste próximo agosto e restituirá um pouco da cédula de identidade do DNA nativo.
Os cheiros do Mercado estão indelevelmente entranhados em cada poro, em cada milímetro do tecido ilhéu. Desde os tempos em que a mercearia da cidade fazia ponto na Praça XV, baixos do Miramar. Depois, em 1898, o prédio se tornaria vizinho do Largo da Alfândega, sempre como um sortido tabuleiro de “vivos” e “víveres”, miscelânea de sons, cores, cheiros e mesas para o frutos do mar e a arte popular.
A casa é o palco vivo da alma nativa, colorida pelos alhos rosados, pimentões verdes e vermelhos, tomates, beringelas, abobrinhas, acelgas, alcachofras, abóboras, beterrabas, ervas-doces, azeitonas verdes e negras, carnes, embutidos e peixes de todos os matizes. Tudo ali se encontra: do gris puro ao cinza esbranquiçado das tainhas, do róseo dos salmões até o amarelo-ouro das ovas. Uma festa dos sentidos, um aquário e uma aquarela de cores, uma extensão do mar e de seus frutos.
O primeiro Mercado ancorava suas bancas no sopé da Praça da Matriz, mais ou menos ali onde se encontra o “castelinho” amarelo da Casan. Implicaram com o local e com os seus cheiros, argumentando que “não ficava bem” um mercado logo ali na boca da Praça, na sala de visitas da cidade.
Ora, o local era perfeito. Com um mínimo de asseio, a Casa Amarela poderia ter continuado ali mesmo, pois o cheiro de um mercado é o cheiro da sua gente. A mudança, diga-se, não prejudicou o comércio de gêneros, nem o ponto de encontro entre pessoas, hábitos, costumes e folclores.
E é ali, neste ponto hoje “mediterrâneo” da cidade, que se processa e se aperfeiçoa, todos os dias, a fotossíntese do viver ilhéu.
A única e lamentável ausência é a do mar, batendo no antigo cais de “desova” dos peixes, ancoradouro das canoas bordadas e coloridas, que chapinhavam no trapiche daquela feira de sons e cores.
Do alto de suas torres amarelas, 117 anos de cheiros e temperos nos contemplam e nos emocionam.