30 jun Moradores denunciam nova intervenção em sambaqui da rua Fúlvio Aducci, em Florianópolis
Uma nova intervenção no sítio arqueológico “Aldeia da Fúlvio Aducci”, localizado entre os números 413 e 473 da rua que leva o mesmo nome, no Estreito, voltou a preocupar moradores do bairro. O patrimônio já havia suscitado polêmica em 2012, quando o proprietário da loja Harley-Davidson quis construir um estacionamento no local, mas foi impedido após protesto da professora Regina Brasil. Agora, potenciais compradores de um dos terrenos que fazem parte do sítio estão realizando testes de solo, o que compromete a preservação dos vestígios dos paleoameríndios (primeiros povos que habitaram a América).
De acordo com o fotógrafo Luiz Carlos Brasil, 49, irmão de Regina e vizinho do terreno, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis) já foram avisados da situação. “Fui no Ipuf e no Iphan. Estão cavando de novo no local. Na semana passada, fizeram um buraco com auxílio de uma retroescavadeira para fazer teste de solo”, contou Luiz Brasil. “Nos assusta, porque nesse teste eles injetam argila no solo. Isso vai deteriorar o que tem embaixo e vai destruir a razão histórica do terreno”, completou Regina.
O fotógrafo relata que solicitou apoio da Secretaria Municipal de Continente, mas teve o pedido negado. “Até o prezado momento, eu não tenho certeza nenhuma que existe um sitio arqueológico ali. Pedi informações ao Iphan, mas nunca me deram. Cabe a eles a responsabilidade de preservar o local, caso haja o sítio mesmo”, argumentou o secretário Deglaber Goulart.
Sem sinalização, o local mais parece um terreno baldio. O Iphan diz que há inúmeras possibilidades de utilização do espaço, mas exime-se de qualquer responsabilidade. “Quem deve propô-las é o proprietário do lote, e a orientação do instituto será voltada ao tipo de pretensão específica. Ao proprietário cabe também a sinalização”, indicou a superintendente Liliane Nizzola, por e-mail.
Enquanto não se define este novo imbróglio, os moradores do bairro torcem para que o sítio arqueológico seja estudado e aproveitado como o patrimônio histórico que indica ser. “O que a gente quer é que se faça um trabalho, veja o que interessa para museus, por exemplo, e depois liberem o terreno. Nossa história é tão bonita, tem que preservar”, afirmou Luiz Brasil.
Descoberta de ossadas
Registrado no CNSA (Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos) desde 2003, o terreno foi local de estudos do Iphan recentemente. “Foram realizadas sondagens e prospecções que dimensionaram o material arqueológico ainda presente, o que inclui diversos sepultamentos. Este estudo findou recentemente”, informou a superintendente do Iphan Liliane Nizzola, sem especificar a data dos trabalhos.
A professora Regina Brasil, ativista pela preservação do sítio arqueológico, conta que ficou emocionada ao descobrir que sua luta teve resultados materiais. “Alguns arqueólogos estiveram lá pesquisando, fizeram perfurações e conseguiram encontrar uma parte de um crânio. Foi uma cena emocionante, porque a gente luta pelo abstrato. Na hora que localizaram o crânio de um ancestral, um pedaço da história, tudo fez sentido. Vale todo o estresse de ficar na frente de um trator e escutar bobagens”, disse Regina, lembrando seu protesto em 2012.
Patrimônio – registro e interferências
2003 – Após localização de vestígios, o terreno é registrado no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos com o nome de Patrimônio Arqueológico “Aldeia da Fúlvio Aducci”.
2012 – O proprietário da loja Harley-Davidson, que fica em frente ao terreno, tenta construir um estacionamento no local, mas é impedido pela prefeitura após protesto da professora Regina Brasil.
2015 – Possíveis compradores de um dos terrenos onde está o sítio arqueológico realizam testes de solo, injetando argila no local que abriga vestígios dos paleoameríndios. Em seguida, moradores procuram o poder público para pedir a preservação do patrimônio.
(Notícias do Dia Online, 29/06/2015)