17 jun Governo estadual lança edital para obra de esgoto nos Ingleses, em Florianópolis
Não há previsão para começo da obra, mas o amplo gabinete do governador Raimundo Colombo (PSD) ficou apertado na manhã desta terça-feira (16), durante lançamento do edital para implantação do sistema de esgoto de Ingleses. Ao lado do vice Eduardo Pinho Moreira (PMDB), que tem casa de veraneio na praia do Norte da Ilha, do prefeito Cesar Sousa Júnior (PSD) e do presidente da Casan, Valter José Gallina, o governador recebeu políticos, lideranças comunitárias e empresários do Norte da Ilha, e todos comemoraram efusivamente o anúncio R$ 64,4 milhões em investimentos no setor.
Não muito longe dali, a menos de 25 quilômetros do Centro Administrativo do Estado, os irmãos Antônio, 60, e Osmar Grapes, 65, não sabiam, mas estão entre os 42.335 moradores beneficiados. Pescadores como os próprios pais e avós, eles conhecem o rio Capivari desde a infância, quando cardumes de tainhas entravam pela foz rio acima, e robalos, caranhas e carapevas eram fartos na mesma água límpida em que mergulhavam para nadar de uma margem até a outra.
“Hoje só tem porcaria, é esgoto dia e noite”, diz Antônio, com a tarrafa preparada para o caso de ver tainhas pulando perto da arrebentação. Vizinho dos irmãos Grapes, Miguel Vitorino, 78, cresceu ao lado da foz, e também lamenta o crescimento desordenado do bairro e a morte do rio Capivari. “Hoje é quase uma cidade, veio muita gente de fora e tem prédios para todos os lados. O esgoto brota das bocas de lobo”, diz.
O projeto para Ingleses prevê a construção de 58,6 quilômetros de rede coletora, oito estações elevatórias e a estação de tratamento do rio Capivari, totalmente poluído. O dinheiro vem da Jica (Agência Japonesa de Cooperação Técnica), com licença ambiental prévia já liberada pela Fatma (Fundação Estadual do Meio Ambiente) para tratamento em nível terciário do esgoto produzido nas áreas central, norte e sul e praia do Santinho.
Rede atual despeja em Canasvieiras
O novo sistema abrangerá 14 bacias de esgotamento sanitário, com 4.421 ligações domiciliares. Atualmente a rede coletora atende apenas o centrinho de Ingleses e leva o esgoto para ser tratado na estação de Canasvieiras e despejado no rio do Braz, em Canasvieiras. Esta interligação, segundo Valter Gallina, poderá ser eliminada.
“É um investimento estratégico, que vai contribuir muito com o turismo no Norte da Ilha”, destacou o governador Raimundo Colombo, que prevê para 90 dias o lançamento da ordem de serviço. Após a assinatura do contrato com a empresa vencedora, o prazo para conclusão da obra é de 30 meses. Para o prefeito Cesar Souza Júnior, trata-se de “momento histórico para a cidade”, que sacramenta a parceria entre prefeitura, Estado e Casan.
Com um plano de investimentos de R$ 1,8 bilhão, a Casan trabalha para elevar a cobertura e o tratamento de esgoto em Florianópolis para 75% até 2018. A Capital tem atualmente índice de cobertura de 55,66%, segundo dados da Casan. “No Norte da Ilha a ampliação do esgotamento sanitário é importantíssima para conservação do Aquífero dos Ingleses, que fornece água para abastecimento da região”, destaca Gallina.
Obras e ligações clandestinas
Em Ingleses, além da ineficácia do sistema interligado à estação de tratamento de Canasvieiras, as obras clandestinas aumentam a carga de esgoto in natura despejado no rio Capivari e nas galerias da rede pluvial. São pelo menos três pontos de contaminação aparentes na praia, dificultando as atividades de pesca ou simples caminhadas. Mau cheiro e a coloração escura que diariamente reduzem o passeio matinal do casal Marcos Dornelles, 53 anos, e Janaina Gonzaga, 53, que há quatro anos trocaram Porto Alegre pelo Norte da Ilha.
Para o diretor da regional de Ingleses da Acif (Associação Comercial e Industrial de Florianópolis), Jaime Júnior, o edital é um passo importante no processo de recuperação ambiental da praia, mas o desafio não para por aí. “O poder público precisa intensificar a fiscalização e evitar construções clandestinas”, diz. Outra prioridade, segundo o empresário, é conseguir linhas de financiamento para viabilizar as ligações domiciliares quando a nova rede estiver em operação.
Pelos cálculos da Acif, cada ligação à rede de esgoto custa, em média, R$ 8.000. “É um valor alto demais. Muitos moradores não terão condições de pagar, mesmo com rede na frente de suas casas”, emenda.
(Notícias do Dia Online, 16/06/2015)