Floripa chinesa

Floripa chinesa

(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 08/05/2015)

O labirinto do trânsito, quebra-cabeças encarcerado entre o mar e as montanhas, é um ingrediente dramático no crescente mau humor da Floripa do século 21 – cujos engarrafamentos vieram para ficar.

Na Xangai de 1982 – que conheci no limiar da era Deng Xiaoping –, o formigueiro humano não se movia em quatro rodas, mas em duas. Podia-se respirar, ao selim de milhões de bicicletas. Hoje, a grande cidade chinesa às margens do rio Guam-Pu – um tributário do Yang-Tsé – transformou-se numa sub-Nova York, conflagrada pelo delírio dos arranha-céus e ocupada pela maior frota de automóveis circulantes numa só cidade.

As cartilhas que ensinam o povo a ser um bom anfitrião elegem As Quatro Belezas: Do Espírito; da Linguagem Asseada; do Bom Comportamento; e do Respeito ao Meio Ambiente. Quatro belezas cosméticas, especialmente a última. Não há ambiente mais degradado do que o das cidades chinesas – ares infectados pelas chuvas ácidas, o dióxido de carbono, as inversões térmicas. Somadas, operavam no centro de Pequim e de Xangai nada menos que 15 indústrias siderúrgicas, as mais centrais fechadas temporariamente, ao ensejo da Olimpíada. Mas com data marcada para voltar a produzir o chumbo atmosférico.

Olho para Floripa com um aperto no coração. Queremos repetir a experiência de Xangai, de desvairada ocupação do solo?

Conheço, talvez, a mesma sensação do escritor anglo-americano Henry James (“The Bostonians”, “The Americans” e “Retrato de uma Lady”), que em 1900, aos 57 anos, retornou da Inglaterra para a sua cidade natal, NY, depois de um séjour de 20 anos em Londres. O nativo de Manhattan quase sofreu uma dispneia pré-agônica:

“É uma almofada de alfinetes, na qual os edifícios, como pregos, vão espetando os seres humanos”.

A verdade, como sempre, está no meio. Floripa não precisa ser Nova York, nem a quase roça que era Xangai antes do Grande Desenvolvimento.

O crescimento é inevitável – os projetos de boa e humana arquitetura serão bem-vindos. Sejam eles pontes, hotéis, trapiches ou marinas a serviço do homem.

Desde que levem em conta o pulmão da humanidade e a sua vital necessidade de respirar bom oxigênio, e não dióxido de carbono.