Com aval da prefeitura de Florianópolis, hotel de 18 andares na Ponta do Coral depende de autorização da Fatma

Com aval da prefeitura de Florianópolis, hotel de 18 andares na Ponta do Coral depende de autorização da Fatma

Após a prefeitura de Florianópolis aprovar o projeto da Hantei Construções e Incorporações Ltda. para a construção do Hotel Ponta do Coral, na Beira-Mar Norte – uma das áreas mais nobres de Florianópolis –, a obra agora depende apenas da autorização da Fundação do Meio Ambiente (Fatma).

Sem aterro e com menos de um terço do tamanho previsto no projeto original, a construção não terá um cronograma divulgado enquanto não forem emitidas todas as licenças.

A edificação é orçada em R$ 200 milhões, segundo a Hantei, e prevê uma ocupação de aproximadamente 30 mil m², heliponto, restaurante panorâmico, 210 apartamentos e 18 andares.

A autorização da prefeitura de Florianópolis ocorreu via Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SMDU). Diretor executivo da Hantei Engenharia, Aliator Silveira disse que ainda não havia sido oficialmente informado da decisão até o começo da tarde desta quinta, mas que entregou toda a documentação no tempo determinado e realizou os estudos requisitados pela pasta.

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A Hantei Engenharia espera a conclusão da análise pela Fatma para obter a Licença Ambiental Prévia (LAP) – uma espécie de lista de exigências ambiental verificada na fase de planejamento da obra. A Fatma analisa os documentos desde o meio de 2014 e especialistas do órgão se reuniram com técnicos da Hantei na semana passada.

Via assessoria, a Fatma explica que a Hantei poderá requisitar a Licença Ambiental de Instalação (LAI) apenas depois de obter a LAP. Não há data limite para a emissão da LAP, mas o parecer estaria em fase de conclusão e estima-se que o órgão pode dar uma resposta – positiva ou negativa – ainda este mês. Já a LAI costuma levar de 30 a 60 dias para ser entregue, explica a Fatma.

O secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Dalmo Vieira Filho, está em viagem e até as 16h35min desta quinta-feira não havia sido localizado pelo Diário Catarinense.

Projeto continua prevendo 18 andares, mas sem aterro

A principal diferença entre os projetos original e substituto é a drástica redução no porte da obra. A primeira versão previa um edifício que ocuparia uma área de 101 mil m² – mais que o triplo dos 30 mil m² indicados no planejamento atual.

O número de dormitórios previstos também caiu mais de dois terços, de 660 para 210 quartos. O Centro de Convenções, que seria de 6 mil ², foi modificado para ter de 1,8 mil m².

O número de andares previstos, entretanto, continua sendo 18. O Plano Diretor de Florianópolis, de novembro de 2013, permite construções de até seis andares na área, mas o projeto do hotel foi protocolado antes das mudanças na legislação e enquadrado nas regras anteriores.

O aterro de 33 mil m² de extensão – uma das principais críticas de movimentos sociais e dos órgãos ambientais – deixou de existir no projeto aprovado pela SMDU, tal qual a marina para pequenas embarcações. Por outro lado, o desenho novo indica um heliponto e um restaurante panorâmico, que não existiam no planejamento anterior.

– Perdeu boa parte do diferencial, agora será um prédio igual a qualquer outro da Beira-Mar Norte – comenta Aliator Silveira.

Caso o prédio seja construído, a borda d’água permanecerá de acesso livre para o público, criando uma continuidade do passeio da Avenida Beira-mar – uma das exigências da SMDU para a aprovação.

Histórico de discórdias sobre o local

A Ponta do Coral possui um longo histórico de conflitos entre população, proprietários particulares, governos municipal, estadual e União. O cobiçado terreno já abrigou um depósito de combustíveis de uma empresa estrangeira na década de 1930 e um abrigo para menores de idade a partir de 1940 – este, incendiado no começo da década de 1980.

Após o incêndio, o então governador Jorge Bornhausen decretou a venda do terreno para construir um novo abrigo em Palhoça. A venda foi intensamente contestada, uma vez que precisaria de aprovação da Assembleia Legislativa de SC (conforme previsto pela Constituição Estadual em vigor na época), o que não ocorreu.

Em 1981, o novo proprietário – o empresário de mineração Realdo Santos Guglielmi, natural do Sul do Estado – propôs a construção de um hotel cinco estrelas no local.

Como o projeto foi barrado pela União, Guglielmi tentou sem sucesso vender o terreno até falecer, em 2001, deixando a área para a viúva Maria Bernadette Pinho Moreira Guglielmi, irmã do atual vice-governador de SC, Eduardo Pinho Moreira (PMDB).

Em 2008, a família proprietária oficializou parceria com a construtora Hantei, que se comprometeu a quitar a dívida de um empréstimo dos Guglielmi caso conseguisse a aprovação para o hotel.

Desde então, diversas alternativas foram propostas por movimentos contrários à instalação de um empreendimento privado no local. A que mais repercutiu foi a criação do Parque Cultural das Três Pontas, do Movimento Ponta do Coral 100% Pública, que propõe unificar as pontas do Coral, do Lessa e do Goulart.

O Três Pontas contaria com centro de informações culturais, serviços de atendimento aos esportistas com instrutores e os equipamentos de biometria, quatro cooperativas voltadas para arte e artesanato da atividade pesqueira, gastronomia tradicional, barqueiros e pesca.

(DC, 06/02/2015)