16 jan Plano Diretor: Falta continuidade
Um plano diretor existe para zelar por uma harmônica ocupação do solo, gabaritos e zoneamentos para a construção civil, com indispensáveis estudos de “impacto de vizinhança”.
Serve para balizar os rumos que a cidade vai tomar em sua expansão, ocupando-se da mobilidade urbana e dos seus meios de transporte e – mais importante – elegendo uma visão prospectiva do futuro, ou seja, um desenho do que será a cidade daqui a uma ou duas gerações.
Em Floripa, contudo, não há senso de continuidade. Os vários planos diretores jamais foram executados. O prefeito que chega apaga o passado e produz outro, que também não será implementado.
Ao contrário do que se passa em Curitiba, por exemplo, onde cada plano complementa o anterior e o planejamento urbano (bem como o transporte público) já conta com um planejamento de 40 anos – aqui, cada prefeito assina a sua mudança, revogando a do antecessor.
Assim foi com o Plano Diretor Metropolitano, concebido pelo arquiteto Luiz Felipe Gama d’Eça na década de 1980. Previa a construção da PC-3 no continente, avenida paralela à atual Via Expressa, com a qual dividiria o trânsito pesado de hoje.
Veio um prefeito de São José e eliminou essa via no plano diretor de lá. E, como prefeito de cá, colocou uma pá de cal na via que seria a salvação do atual labirinto urbano continental.
Em 1989, o PD previa organizar o Campeche em superquadras, contornadas por avenidas que absorveriam o tráfego de passagem, com corredores de transporte coletivo – numa área 4,5 vezes maior do que a área continental do município. Veio um novo prefeito e, junto com os contras e seus mantras populistas, demoliu o plano. O resultado é o Campeche de hoje…
O Plano Diretor de 1997 previa a quarta ponte. Um certo prefeito disse que faria um túnel. Um governador levou escola de samba para celebrar o lançamento do metrô de superfície, que estaria pronto em 2010, junto com a recuperação da Hercílio Luz – que continua servindo de boa plataforma para fogos de artifício.
Assim caminha a humanidade na Ilha mais bela e mais engarrafada do mundo – vítima de uma descontinuidade administrativa capaz de envergonhar o gestor de uma carrocinha de pipoca.
Os planos existem, mas nunca saem do papel. A “turma” gosta mesmo é de campanha e de enrolar o distinto público.
(DC, 16/01/2015)