05 jan A tradição do mercado público
A tradição do mercado público, por Laudelino José Sardá*
Imagine você chegando ao Mercado Público de Florianópolis e lhe é oferecido, com a vogal bem escancarada, carne de sol, feijão de corda, camarão seco, tapioca e ainda a alternativa de deliciar um sanduba com batata frita e refrigerante?
“Até aqui….” reagiria o turista paulistano, já habituado a conviver com milhões de nordestinos que ajudaram a construir o Estado mais expressivo da economia brasileira. Nada contra os nordestinos, que constituem a mais legítima identidade cultural brasileira. O problema é a amnésia cultural da Ilha.
A restauração do Mercado Público não se resume apenas à recuperação do prédio. É toda uma composição cultural que implica no fomento das tradições.
Claro que no Mercado Público São José, lá na Ribeira do Peixe, em Recife, também há produtos do Sul, mas nada compromete o sentimento e o ar nordestino. A diferença é que em Florianópolis não se respira cultura da terra e não nos surpreenderá se o sertanejo universitário marcar a reinauguração do nosso mercado.
As atitudes e planos modernosos do poder público têm foco de dentro para fora. Ou seja, pensa-se a restauração do prédio sem sequer sentir que aquela construção do século 19 faz parte da alma da Ilha e que precisa permitir que os moradores a sintam como um passeio pelas tradições de uma cidade recheada de histórias, magias e de artesanatos belíssimos, de causar inveja até aos nordestinos.
Somos de visão curta e de sentimentos adormecidos como se esta Ilha se resumisse aos belos mares, de praias curtas, balneários degradados. Não. Precisamos inverter o processo. Tudo o que se pensasse ou fizesse na Ilha precisaria ter a ótica da identidade cultural.
Quem sabe as denominações de ruas não mais resultassem de apreços pessoais e nossos museus e teatros estivessem abertos, esnobando a nossa cultura. E, assim, o turista poderia retornar das férias levando na bagagem uma boa lembrança do nosso orgulho.
*Jornalista e professor
(DC, 05/01/2015)