03 dez Sinaleira estragada potencializa acidente fatal em Florianópolis
GILBERT PERES MORREU ontem em um cruzamento na Via Expressa Sul, na Capital. Um semáforo do local estava sem manutenção desde quinta-feira, o que gerou jogo de empurra ao longo do dia
A semana se iniciava boa para o pedreiro Gilbert Peres, 40 anos. A filha de 12 anos havia passado de ano, a mulher continuaria no emprego depois de dois anos e meio afastada por um acidente e o Vasco da Gama, o time do coração, voltado para a Série A do Campeonato Brasileiro.
A vida corria em sinal verde para o pedreiro morador no bairro Tapera, em Florianópolis. Até que na manhã de ontem, por volta das 6h20min, a motocicleta conduzida por ele foi atingida fatalmente por um Fiat Uno, na Via Expressa Sul, na Capital.
O impacto do choque projetou Gilbert à frente. O capacete caiu-lhe da cabeça. Pouco puderam fazer os socorristas, se não cobrir o corpo dele com um lençol.
A cena do homem deitado e da moto amassada foi vista por quem passava. Inclusive por Delomar Peres, 65 anos, também pedreiro, e que ao chegar na obra, no bairro Agronômica, comentou com um colega que tinha visto algo muito triste. No meio da manhã, ao ver que um familiar tentou contato várias vezes, Delomar decidiu retornar à ligação. O choro e a pronúncia do nome Gilbert o fez entender:
– Aquele rapaz ao lado da moto era meu filho.
À tarde, enquanto aguardava o começo do velório, Delomar dizia ter feito confusão entre as cores da moto do filho (preta e branca) como se fosse outra (vermelha).
Para os familiares que o abraçavam, melhor que tenha sido assim. Por mais triste que tenha sido a conversa por telefone, a última imagem que guarda do único filho homem – tem mais duas mulheres – é da conversa animada que teve há 10 dias em um posto de gasolina onde ambos abasteciam suas motos e falavam de coisas do dia a dia.
Quem não pode fazer confusão foi a esposa de Gilbert, que recebeu a notícia da morte ao lado da filha adolescente. Ela havia retornado ao trabalho em um condomínio quando o telefone tocou avisando sobre a morte do marido.
Em férias, a menina acompanhava a mãe para não ficar sozinha em casa. A viúva lembrava que, antes de seguir para a construtora, em São José, o marido repetiu a rotina de fazer café e dar comida aos cachorros. Como de costume, foi até o quarto para beijar ela e a filha e desejar bom dia.
CRUZAMENTO TERIA SIDO DESOBSTRUÍDO
O acidente ocorreu no acesso ao Pantanal, onde o semáforo para quem trafega pela rodovia em direção ao Centro, não funcionava há cerca de uma semana, e foi feito um bloqueio com cones que impediam o cruzamento de acesso ao bairro.
Familiares e amigos ficaram inconformados com a morte prematura de Gilbert. A dor se soma à indignação pelo fato de, pouco depois do acidente, o equipamento ter sido consertado.
O motorista do Uno, Alex Pinheiro da Silva, 21 anos, disse à polícia que o cruzamento estava sem os cones, portanto, desobstruído, e que ele teria acompanhado o fluxo.
Testemunhas disseram ter visto, no amanhecer, um motorista tirar os cones. Motoristas, inclusive do transporte coletivo, começaram a usar novamente a entrada para o Pantanal. A maioria acreditava estar liberada em função de o semáforo para quem cruza a Via Expressa em direção ao bairro estar funcionando, algo que quem trafega pela Expressa não consegue perceber.
O acidente em que morreu Gilbert está sendo investigado pela 2a Delegacia de Polícia, Bairro Saco dos Limões. O enterro está marcado para 10h de hoje, no cemitério São Cristóvão, área continental de Florianópolis.
(DC, 03/12/2014)