08 dez Brasil, Capital Floripa
(Da coluna de Sérgio da Costa Ramos, DC, 07/12/2014)
Tomem seus banhos com dois meses de antecedência, ó ilhéus asseados! No alto da temporada todos terão que dividir as serpentinas dos chuveiros com os povos que chegam. Haja energia e sabonete!
Há, aliás, uma certa paixão descontrolada, um “caso” do Brasil com a Ilha, do mundo com a velha Desterro. Estamos na Newsweek, no New York Times, no Daily Star e em quantas outras estrelas?
Todos querem embarcar em nossa arca – e de seu tombadilho reparar neste nosso recanto de terras e águas que é dos mais belos do planeta.
Antevejo americanos, belgas, franceses, argentinos, chilenos e uruguaios arrumando suas malas para desembarcar na Ilha. Vejo bandeirantes e mineiros, vejo (e ouço) a negritude baiana e seus afoxés, chegando a esta terra que é também do Nosso Senhor dos Passos – tão baiano quanto o Senhor do Bonfim.
A Ilha está “assim”, aconchegante como útero de mãe, acolhendo seus adventícios com o irresistível chamariz de sua beleza lancinante. E não há blasfêmia alguma em reconhecer que o próprio Cristo gostaria de ter subido aos céus lá do outeiro do nosso Morro da Cruz.
Ao terceiro dia, ressurgiria dos mortos lá dos altos do Antão e flutuaria até a Lagoa, para um reencontro com as águas e com os seus apóstolos-pescadores.
Com eles “caminharia” sobre as ondas da Conceição, ali da Avenida das Rendeiras até o Canto da Lagoa, levitando sobre um cristalizado lençol, esculpido em água, sol e dunas. O próprio “amarelo” da Lagoinha acordaria numa manhã de sol com uma “pensão”, uma “preocupação”, que lhe tirava o “assucego”:
– Pruquié que esse povo todo “arrevolveu” se achegá e botá teto aqui na Ilha como si fosse saracura em pantano? Nunca vi tanto gringo “quereno” armá barraca na roça alheia!
Há, é claro, uma gota de ciúme no olhar do “amarelo” da Lagoinha, que não gosta de ver “estrangero” botando reparo nas “fermosura do lugá”.
Abraça as dunas da Lagoa, faz um carinho nas espumas flutuantes da Mole, beija – como os papas – o chão de Jurerê, tudo à guisa de prece.
Açoriano nunca foi de lavoura, o Mané da Lagoinha é homem de puçá e de atirar a rede. Mas o amarelo nunca esteve tão assustado:
– Se jugá a tarrafa, dá mais gringo que biacu!