19 dez A mobilidade e a omissão das autoridades
Quase uma hora para sair da Ilha de Santa Catarina na quarta-feira à noite, bem além das 20h, pude constatar algumas situações que ajudam a explicar a nossa consagrada imobilidade de todos os dias.
Merece o “troféu estresse” o gênio que colocou aquela sinaleira no meio da Avenida Gustavo Richard, para a conversão dos ônibus. Foi no governo de Dario Berger e atendendo a pressões das empresas do transporte coletivo, para economizar combustível e evitar o retorno pela Prainha. Grande parte da retenção no Aterro da Baía Sul tem relação com a maldita sinaleira.
Outra, com o acesso pela Hercílio Luz, que poderia ser deslocado para mais adiante – ou simplesmente fechado nos horários de pico. Ajudaria também se um guarda de trânsito aparecesse por ali, para uma organizada básica na zona. Mas, guarda de trânsito?
Objeto de luxo em Florianópolis. Numa reflexão surrealista, enquanto ouvia The Doors para suportar o para-e-anda do trânsito rumo à Ponte Colombo Salles, imaginei que o Continente é um paraíso terreno inacessível e distante, é como se Hercílio Luz não tivesse construído sua ponte, nem Colombo Salles e Pedro Ivo as suas… Temos pontes, não temos acessos; somos reféns dos automóveis e da vida selvagem que prospera nos engarrafamentos.
A questão
A prefeitura de Florianópolis pode até ter se atrapalhado na apresentação do projeto inicial de revisão do IPTU, mas, para quem ainda não entendeu, a Planta Genérica de Valores está defasada desde 1997, fazendo com que moradores de bairros nobres paguem o mesmo imposto que moradores de bairros da periferia. Essa é a grande questão, de justiça tributária, que precisa ser debatida com urgência na Câmara.
Consenso
A reunião de entidades empresariais e profissionais com parlamentares da Capital, realizada na quinta (18), pelo menos indicou um caminho, proposto pelo vereador Afrânio Boppré (PSOL): a revisão da Planta Genérica de Valores ao longo de 2015, para aplicação dos novos índices de reajuste prevista para 2016. Não é o que a prefeitura espera, mas parece ser uma alternativa de consenso.
Com a barriga
Cálculos extraoficiais indicam que a região Norte da Ilha tem mais de 70 mil moradores fixos. Com as impressionantes deficiências de segurança pública, como oferecer tranquilidade para os milhares de turistas – além da população local – que já estão chegando para a temporada? Falta planejamento, falta visão e vontade política do governo, que segue empurrando as questões da segurança pública com a barriga.
Lucidez
Gostei de uma frase dita pelo deputado Maurício Eskudlark (PSD), que votou contra o fundo de previdência da Assembleia Legislativa: “Mandato político não é profissão”. Cargo comissionado também não, mas tem gente que se segura anos a fio no “emprego”, escorregando por diferentes escalões de poder… Agora, e sem concurso público, reivindica o direito a previdência especial, parcialmente custeada pela sociedade.
Falácia
Os deputados que defendem a AlescPrev – apenas quatro votaram contra – dizem que a criação do fundo de previdência da Assembleia não vai impactar os cofres públicos, porque os recursos virão do orçamento do próprio legislativo.
Criam, assim, a ilusão de que não haverá dispêndios do poder público, quando a verdade é bem outra. Ao bancar 8% da contribuição de cada deputado ou comissionado, ocorrerá redução nas devoluções de sobras do duodécimo para o governo.
(ND, 19/12/2014)