Memória de Florianópolis Desterro, Floriano e a República

Memória de Florianópolis Desterro, Floriano e a República

Da coluna de Carlos Damião Carlos Damião, Jornalista. (ND, 15/11/2014):

O 15 de Novembro é muito marcante em Florianópolis, nos nomes dos logradouros públicos, nas lembranças gerais da Proclamação da República e até no nome da cidade – homenagem a um dos marechais que lideraram a derrubada da monarquia, em 1889, Floriano Peixoto.

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É curioso que Floriano está no nome da Capital há 120 anos, mas é banido da memória local, não dá nome a praças ou ruas, ao contrário de outras capitais e grandes cidades. Essa repulsa tem uma relação direta com o massacre de Anhatomirim, onde 185 desterrenses foram fuzilados em 1894, num dos episódios mais sangrentos da Revolução Federalista, que marcou os primeiros anos da República. É um dos raros personagens da maçonaria e do Exército na Velha República que não são cultuados na cidade (Deodoro, o primeiro presidente, é nome de rua em Florianópolis).

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Em 1979, quando a proclamação completava 90 anos, o último presidente da ditadura militar, João Figueiredo, mandou instalar placa de bronze na Praça 15 de Novembro – a praça da República – assinalando uma homenagem do governo brasileiro ao marechal.

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A data de inauguração da placa, 30 de novembro de 1979, foi justamente o dia da Novembrada, um levante popular contra o regime militar. A massa, na praça, até não era muito grande no início das solenidades oficiais, mas engrossou à medida que o protesto aumentava, com palavras de ordem exigindo democracia, constituinte, anistia, fim da inflação, entre outras. No auge da manifestação, João Figueiredo, que estava na sacada do Palácio Cruz e Sousa, reagiu aos populares com gestos de irritação, causando ainda mais tumulto.

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Foi no meio dessa confusão que um grupo de florianopolitanos irados, muitos deles jovens, resolveu destruir a placa em homenagem a Floriano Peixoto, que já estava instalada no local escolhido – no lado Sul da figueira. Foram momentos tensos, com muita repressão policial, mas ficaram marcados para a História pela rejeição da cidade à ditadura militar e a Floriano, personagem símbolo da República e da violência contra a Revolução Federalista.

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A placa foi guardada pelo coronel Nilo Marques, da PM, que a conservou em casa até 2009, quando foi repassada à Casa da Memória, por se tratar de uma relíquia histórica.