Cor e energia explodem na exposição de Tércio da Gama, manezinho da gema e do coração

Cor e energia explodem na exposição de Tércio da Gama, manezinho da gema e do coração

A vivacidade e o bom humor são expressos em uma explosão de cores. Assim são as telas de Tércio da Gama, um dos artistas catarinenses mais representativos da sua geração, da arte regionalista e mais fortemente, hoje, da arte contemporânea. Uma profusão de tons que permitem construções em terceira dimensão e nos dão a sensação de movimento, de contentamento e nos permitem ver a vida mais colorida. Até o final do mês de agosto, mais de 100 obras do artista, de 81 anos, podem ser apreciadas na maior exposição de sua carreira, no Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), do Centro Integrado de Cultura (CIC), em Florianópolis.

Imerso na arte contemporânea há algum tempo, o filho de pescador, amante da natureza e das expressões da Ilha de Santa Catarina, avalia este movimento como mais livre e com ênfase na criatividade, na inventividade, no uso da cor. Atualmente, ele pouco investe em arte regionalista, como já o fez com frequência, no passado. “Não continuo a fazer aquela pintura descritiva, que tinha como ênfase mostrar as formas. Hoje o tema está subordinado à cor. Não risco há mais de 20 anos. Faço tudo na hora, com o pincel, uma mistura do abstrato com o figurativo para criar uma série de elementos, de outra forma, outra maneira de representar o real. A arte contemporânea é uma arte de liberdade”.

A inspiração, que vem da natureza, dos animais, e é expressa numa explosão de cores, também se apoia na música. “Eu sou um apaixonado pela cor e sempre digo que se eu não fosse pintor eu seria, possivelmente, um compositor, porque ligo muito a cor à melodia. A música tem a mesma composição que existe no quadro, só que em termos musicais, nos sons. Eu trabalho compondo com as cores”.

Autodidata, Tércio da Gama conta que foi observando paisagens, animais, elementos da natureza, sentindo o poder da música que passou a criar. Ele relembra seu inicio na pintura, quando retratava mais fielmente as cenas de seu cotidiano, como os ranchos de pescadores, as canoas, o folclore de Florianópolis. Mas, certo dia, achou que, se fosse para fazer dessa forma, seria melhor fotografar e, assim, resolveu criar com maior liberdade.

Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis – Grapf

Em 1958, formou-se o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis – o GAPF. O GAPF contava com nove jovens artistas, entre eles Tércio da Gama, Pedro Paulo Vecchietti, Hugo Mund Júnior, Thales Brognoli, Dimas Rosa, Aldo Nunes, Rodrigo de Haro, Meyer Filho e Hassis.

O primeiro salão do GAPF foi tomado pela crítica de arte e pela historiografia local como a introdução do modernismo nas artes plásticas, a exemplo do que ocorrera há uma década, no campo da literatura, com o Círculo de Arte Moderna, que se tornaria conhecido por Grupo SUL. Uma das características do modernismo em Florianópolis, segundo Luciene Lehmkuhl, é a sua relação direta com aquilo que se denomina de positivação da cultura local.

Energia para continuar

Interligada à história de Santa Catarina, às manifestações folclóricas e culturais, a produção artística iniciada por ele, em 1958, se estende até o momento. Está em sua quarta exposição no Museu de Arte de Santa Catarina. As três primeiras ocorreram em 1980, 2003 e 2008.

De sua participação no GAPF, o artista que se auto considera uma criança, ganhou mais entusiasmo para continuar criando. A pintura, para ele, é quase como uma compulsão. “Sem a pintura eu já teria morrido. Hoje me sinto com saúde, embora já tenha tido câncer, infarto no miocárdio, estou ótimo. Pinto quase todos os dias”.

Colecionador compulsivo, também, Tércio confessa que compra tudo o que as crianças gostam, seja em viagens ou mesmo por aqui. Umas de suas últimas pinturas foi um cavalinho de balanço feito para crianças, que ele expõe na sua casa como uma obra de arte, totalmente colorida, claro.

“Eu digo para minha mulher que a cada ano eu fico mais moço. Eu digo que biologicamente tenho uma idade de uns 30 e poucos anos e cronologicamente eu tenho 81 anos. Ela diz que é um perigo eu regredir muito porque daqui a pouco posso virar criança, pegar um sarampo e morrer. Eu me acho cada vez mais criança”, conta com alegria infantil o florianopolitano que nunca sequer imaginou deixar sua colorida ilha para viver em outro lugar.

Quarta e maior exposição em Florianópolis

Para Tércio da Gama, sua quarta e maior exposição no MASC, representa muito. Primeiro, porque é a primeira vez que um artista ocupa todo o museu. Segundo, pelo reconhecimento em sua cidade e estado natais. “Pra mim é um orgulho encher o museu todo com obras minhas, a ponto de colocar uma em cima da outra. Tive o prazer de ser sempre valorizado e apreciado pelos críticos. Eles sempre me colocaram entre os maiores artistas catarinenses. Pericles Prade me coloca entre os grandes artistas internacionais. Expor nesse museu, o quarto do Brasil em obras, é uma grande homenagem que me prestaram e que eu tento prestar para as pessoas daqui”.

(Agência ALESC, 08/08/2014)