05 jun No caminho da humanidade, a preservação
Ao caminhar por um terreno delicado, deixamos marcas. É assim na areia, na grama, até no barro e na lama. Cada passo fica ali, símbolo do impacto causado pela nossa passagem. É assim também com a Terra.
Aquele produto novo, a última refeição consumida, a escolha de onde morar e como se locomover, o tempo no banho e o gasto de energia: tudo causa um impacto no ambiente. Em maior ou menor grau, isso indica se uma pessoa vive de maneira compatível com a capacidade natural de regeneração do planeta. É a chamada pegada ecológica, que mede o impacto de cada um nos recursos naturais.
O diferencial desse índice está no apelo individual. Cada pessoa pode, por meio de um questionário simples, saber o quanto consome, em média, dos recursos naturais do planeta. O resultado é acessível: nada de quantidade de gases emitidos ou créditos de carbono necessários – cálculos muito importantes, mas pouco tangíveis. Sua pegada ecológica é determinada em hectares, uma forma de traduzir qual o tamanho do território que uma pessoa utiliza para se sustentar.
– Temos de nos conscientizar sobre o impacto causado na natureza com o nosso padrão de consumo. Atualmente, temos consumido mais do que a natureza pode prover. Com a pegada ecológica, cada um pode determinar seu impacto no cotidiano e pensar em formas mais sustentáveis de viver no planeta – avalia a bióloga Terezinha Martins, analista de conservação do WWF-Brasil.
Calcular esse rastro ambiental é uma tarefa que engloba, principalmente, os hábitos de consumo. Quem não dispensa uma porção de carne vermelha por dia (ou mais!) exige recursos naturais em demasia, assim como quem prefere percorrer distâncias curtas de carro. Tomar banhos demorados, deixar luzes ligadas enquanto o Sol brilha lá fora, colocar todo lixo no mesmo saco: tudo isso contribui para aumentar seu impacto no mundo.
E mudar hábitos que prejudicam o local onde vivemos passa, primeiro, por entender que algumas atitudes, mesmo aquelas que não parecem ter muito ação no ambiente, podem afetar a Terra como a conhecemos. Um modo de vida mais sustentável implica em exigir menos da natureza – garantindo, assim, uma pegada mais leve. Não é o caso de evitar o que uma pessoa já se acostumou a fazer, mas identificar maneiras de contornar o alto consumo de algumas práticas.
– É importante as pessoas perceberem a sua contribuição pessoal na pressão sobre os recursos naturais. O conceito de consumo sustentável é uma utopia: a solução está em as pessoas perceberem os cenários e os desafios e, a partir daí, vislumbrar as contribuições pessoais que podem fazer no dia a dia para sair dessa rota de colisão com a insustentabilidade – adverte Genebaldo Freire Dias, PhD em ecologia e funcionário aposentado do Ibama.
Ter consciência do próprio efeito sobre o ambiente tende a fazer a diferença: ainda que alguns hábitos nunca mudem, repensar as atitudes individuais leva cada um a entender melhor como contribuir para o futuro – e o presente – do planeta.
(DC, 05/06/2014)