Serviços puxam inflação para cima

Serviços puxam inflação para cima

Por mais que tenham pesado no bolso do cidadão nesses três primeiros meses do ano, não é o preço do tomate e da batata que tem tirado o sono da equipe econômica do governo em ano eleitoral. É a alta no custo dos serviços, um dragão considerado bem mais difícil de controlar, que acendeu a luz vermelha para políticos e empresários: o mercado, pela primeira vez, projeta inflação acima do teto da meta em 2014.

Pesquisa realizada semanalmente pelo Banco Central (BC) com mais de cem instituições financeiras, aponta que a previsão para inflação no final do ano passou de 6,47% para 6,51%. É um indicativo de especialistas de que o governo não conseguirá manter os preços dentro do limite traçado para a inflação, que é de 6,50% ao ano. O resultado vem logo após a forte alta dos preços em março, a maior para o mês desde 2003.

Quem está com férias planejadas para o meio do ano ou pretendia fugir do agito da Copa já percebeu a mordida na carteira. Preços de passagens aéreas e hospedagem estão mais salgados por conta do mundial de futebol que se aproxima. Mas não é só isso. Mão de obra para reparos também está mais pesada, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

– É uma tendência natural de um mercado de trabalho aquecido. Conforme as pessoas aumentam a renda passam a utilizar serviços que antes não tinham acesso, como convênio de saúde e cursos de idiomas. A inflação nesse caso responde diretamente à renda dos trabalhadores – avalia Rafael Costa Lima, professor da USP e responsável pelo índice IPC-Fipe.

Após subir, preços do setor custam a cair

O dragão no setor de serviços é justamente o mais difícil de domar, afirmam economistas. Diferentemente de produtos industrializados, não sente a prensa dada pela alta de juros e não sabe o que é concorrência de mercadorias importadas.

Também não responde tão prontamente à lei de oferta e procura como é o caso dos alimentos, que tendem a baixar o preço assim que a nova safra chega às prateleiras. Depois que os preços sobem, custam a cair.

A dificuldade de segurar os preços no setor fica ainda mais complicada com o início da Copa do Mundo no meio do ano. Ao trazer turistas para o país, o evento pode jogar ainda mais para cima preço de itens como alimentação fora de casa, passagens aéreas e hospedagem durante junho e julho, dois meses em que o dragão tradicionalmente costumava voar baixo. Nos últimos anos, a desaceleração de preços no meio do ano foi fundamental para deixar o índice dentro da meta lá em dezembro.

(DC, 23/04/2014)