21 mar Ponte Hercílio Luz: Desafio
(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 21/03/2014)
Espanta ouvir pessoas dotadas de bom QI pregando a demolição da ponte Hercílio Luz. Deixa cair, dizem. Parecem ignorar que tudo teria o seu custo, até a sua queda. Quanto custaria deixar cair, além do custo patrimonial, moral estético e histórico?
Custa a crer que cabeças tecnicamente dotadas refiram-se à ponte apenas como um bibelô na paisagem, e não como equipamento para desembaraçar a imobilidade urbana. Seus sapatos estão fundados numa profundidade de 16 metros e seu vão livre chegou a ser um dos maiores do mundo – 340 metros pairando sobre as águas do Estreito. Sua restauração é de alta complexidade técnica, o que não justifica tantos atrasos e tantos imbróglios, acumulados já há quase três décadas.
Carga pesada
A ponte foi construída com fundamentos para suportar cargas pesadas: uma locomotiva de 50 toneladas, puxando vagões de 30 toneladas; a canalização da água, a razão de 600 quilos por metro corrente; um soalho por toda a sua extensão, pesando 100 quilos por metro quadrado; pedestres a razão de quatro pessoas por metro quadrado ou 300 quilos, o que daria a cada vivente o direito de pesar elegantes 75 quilos.
Se durante mais de meio século, entre 1926 e 1982, ela suportou trânsito de alta tonelagem sobre o seu dorso, por que, restaurada, não haveria de retomar seu pleno papel de desobstruidora de caminhos? Aos 88 anos agora em maio, a velha senhora renasce aos poucos para uma vida de duplo sentido – utilitário e estético.