Cidadãos de segunda categoria

Cidadãos de segunda categoria

Da coluna Ponto final, por Carlos Damião (ND, 20/02/2014)

Nas redes sociais, nas rodas de bate-papo, na informalidade do café ou do botequim, muitos florianopolitanos se manifestam querendo padrão Fifa para a segurança pública, para saúde, educação e infraestrutura. Recebi e-mails, comentários e mensagens de gente estarrecida com os acontecimentos que envolveram o Congresso Técnico da Fifa, da distribuição de apelativo anúncio para o turismo sexual ao poderoso esquema de segurança, que teve participação de Forças Armadas, Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar e Polícia Civil. Tudo para proteger delegações estrangeiras chamadas ao encontro preparatório da Copa do Mundo. “Pelo tratamento dispensado pelo governo federal e pelo governo estadual, podemos pelo menos ter uma certeza: nós, moradores, somos cidadãos de segunda categoria. Não somos padrão Fifa”, disse-me Fernando Carlos Pereira, morador de Ingleses. Ele até entende que o evento “deveria ter mesmo um tratamento especial, pela grandiosidade e repercussão internacional. Mas nós, que pagamos impostos, merecemos a mesma (ou melhor) atenção do Estado”.

Acostumados

O leitor tem suas razões, assim como tantos outros que se manifestam, por e-mail ou em comentários nas redes sociais. Claro que, findo o encontro, voltaremos à rotina de violência que marca a vida dos nossos bairros, porque o aparato de segurança estará desfeito. Até porque, como ironizou um amigo, “nós já estamos acostumados mesmo”.

Dinheiro que…

Admir Roberto Ronsoni, do Instituto Lions do Distrito LD-9, questiona a destinação de R$ 3,9 milhões do governo do Estado para o Congresso Técnico da Fifa. O Instituto Lions está construindo em Palhoça o Hospital de Olhos, dependendo de recursos próprios e de contribuições da sociedade, conseguidas a duras penas. Depois de pronto, o hospital atenderá uma demanda oftalmológica que o Estado não consegue suprir.

... nos faz falta

Trecho do desabafo do dirigente do Lions encaminhado à coluna: “Não é de ficar indignado, nobre amigo, fomos ao governador e ele disse que não tem dinheiro e essa farra aí escancarada, que é isso? Cadê os deputados que devem fiscalizar esse governo que não sai do papel, e cadê o Ministério Publico que não diz para quê existe? (…) Não sou contra a Fifa estar aqui, mas ela que pague a sua conta”.

Repulsa

“Como mulher e nativa me senti ofendida, insultada e indignada”. Da leitora Maria Goulart, sobre material publicitário de estímulo ao turismo sexual, distribuído no primeiro dia do Congresso Técnico da Fifa.

Estarrecido

Também o leitor Roberto Grisard Clausen faz questão de registrar sua indignação: “Constrangidos e estarrecidos deveriam ficar (os governantes) com a exorbitância dos volumes financeiros gastos com os elefantes brancos. Não existem numerários para melhorar as escolas – aulas em Florianópolis foram adiadas por falta de estrutura das mesmas –, mas sobram para receber a elite do futebol ao preço, este sim, estarrecedor”.

Bom tamanho

E o técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe (Felipão) Scolari, veio para Florianópolis na quarta (19) e não perdeu a chance de fazer média com a cidade, dizendo que não entendia por que não fomos incluídos no roteiro da Copa do Mundo. Não, Felipão, mil vezes não! Pelo que vimos até aqui, só com o Congresso Técnico da Fifa, já chega, está de bom tamanho.