07 jan Turismo: A imagem arranhada
Setor turístico contabiliza perdas com a saída prematura dos visitantes e projeta os impactos da falta de luz e água no retrato da Ilha como destino capaz de atrair grandes eventos internacionais
Depois de contabilizar os estragos provocados pela falta de água e luz em Santa Catarina, o trade turístico avalia o impacto que o episódio pode causar à imagem do Estado. As saídas antecipadas dos visitantes, com promessas de que não pretendem voltar para o Carnaval, preocupam empresários do setor, mas são minimizadas pelo setor público.
O presidente do conselho de administração do Convention & Visitors Bureau de Florianópolis, Eugênio Neto, acredita que o episódio prejudica o trabalho de divulgação feito pela entidade.
– Esta falta de abastecimento afeta a imagem da cidade como um todo e prejudica o trabalho do Convention e da Santur de divulgação turística de Florianópolis. É um absurdo dizer que não podemos divulgar a cidade se a nossa economia depende do turismo. O governo precisa fazer a sua parte e dar conta de abastecer essa demanda – opinou Neto.
Para o diretor executivo da Fecomércio-SC, Marcos Arzua, esta temporada revelou um esgotamento da estrutura básica nos principais destinos litorâneos do Estado. No caso de Florianópolis, é preciso extrapolar o conceito de cidade com potencial turístico e transformá-lo em realidade, com a garantia de que os visitantes sairão satisfeitos.
Investimentos feitos para tentar minimizar as perdas
Na Pousada dos Sonhos, em Jurerê, faltou água durante 12 dias. De 24 de dezembro a 4 de janeiro, os hóspedes tiveram que conviver com torneiras secas e curtos períodos de abastecimento improvisado. Enquanto isso, os proprietários precisaram desembolsar R$ 25 mil na água de caminhões-pipa e em caixas d’água extras.
Este é um caso que se repetiu em diversos hotéis de Florianópolis e Balneário Camboriú. Segundo pesquisa da Fecomércio-SC com hotéis das duas cidades, 38,9% deles foram afetados por falta de luz ou água na Capital e 47,8% em Balneário Camboriú.
– Tentamos contornar o problema pedindo para os hóspedes economizarem, redistribuindo para o consumo a água da chuva que captávamos para a limpeza e piscina e contratando caminhões-pipa. Mesmo assim, tivemos desistências nas reservas e hóspedes dizendo que não voltariam para o Carnaval como planejaram. Todo ano enfrentamos o mesmo problema, mas esta temporada foi pior – disse o gerente da Pousada dos Sonhos, Paulo Teixeira Pavão.
O levantamento da Fecomércio mostrou também que 14,3% dos hotéis em Florianópolis e 18,2% em Balneário Camboriú tiveram check outs antecipados. De acordo com Arzua, da Fecomércio, as desistências geram prejuízo financeiro para os empresários.
– O hotel antecipou o capital para receber o turista, mas não teve o retorno esperado. Gastou e não recebeu o pagamento. É muito difícil na hotelaria fazer uma reposição imediata daquele hóspede que saiu antes do esperado. E pensando em não deixar a diária parada, o empresário prefere fazer uma promoção – explicou Arzua.
Sobre a situação do abastecimento de água e luz na cidade para o Carnaval, Arzua é incrédulo, dizendo não enxergar soluções a curto prazo.
(DC, 07/01/2014)
Empresários também têm responsabilidade na qualificação
Além da falta de água e luz, os turistas precisam enfrentar na alta temporada de Santa Catarina preços inflacionados nos hotéis, restaurantes e supermercados, assim como locais lotados, que exigem paciência para estacionar ou pegar uma mesa.
É neste sentido que Beto Barreiros, dono de um dos restaurantes mais tradicionais de Florianópolis, o Box 32, observa que os empresários do setor também têm a sua cota de responsabilidade na qualificação do turismo.
Ele defende que os restaurantes sindicalizados, ligados à Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SC), não pratiquem um aumento desproporcional ao custo na alta temporada, ao contrário de muitos. Também diz que os consumidores precisam ficar atentos à limpeza dos estabelecimentos nesta época, principalmente devido à falta de água.
Outro ponto a considerar é o atendimento. Os restaurantes, segundo Barreiros, não têm desculpas para explicar a baixa qualificação dos garçons. Ele diz que mesmo os estabelecimentos das praias, que trabalham com funcionários temporários, podem se preparar fechando a equipe com antecedência e oferecendo treinamento.
– Os problemas de abastecimento e os serviços falhos afastam o turista que vem para cá disposto a gastar, mas que acaba se sentindo lesado.
Ele acrescenta que Florianópolis tem perdido a capacidade de atrair o turista de alto poder aquisitivo.
Já sobre o aumento de preços praticado pelos hotéis na alta temporada, Eugênio Neto, presidente do conselho de administração do Convention & Visitors Bureau de Florianópolis, defende ser uma prática legítima com base na lei de oferta e demanda.
– Não defendo o aumento excessivo das tarifas, mas se o consumidor está absorvendo este preço, então é o que vai valer. Cabe ao empresário prestar um serviço de qualidade – afirmou Neto.
(DC, 07/01/2014)