MPF diz que audiências do Plano Diretor de Florianópolis foram feitas em desacordo com as leis

MPF diz que audiências do Plano Diretor de Florianópolis foram feitas em desacordo com as leis

A Prefeitura de Florianópolis vai recorrer até quinta-feira (21) no TRF (Tribunal Regional Federal), em Porto Alegre, da decisão liminar que barrou a tramitação do Plano Diretor na Câmara de Vereadores. O projeto estava previsto para ser votado na terça-feira (19), em primeiro turno. O município alegará ao Tribunal que foram realizadas mais de 1.700 audiências públicas nos sete anos que esteve em pauta. O MPF (Ministério Público Federal), proponente da ação, questiona a qualidade dessas reuniões.
Para o procurador-geral Julio Cesar Marcellino Júnior, a decisão da Justiça foi surpresa, porque não houve tempo hábil para a prefeitura apresentar a documentação necessária. “Fomos comunicados na quinta-feira de que teríamos até domingo para reunir todas os documentos necessários, ou seja, com o feriado, não tivemos nem um dia útil para apresentar as provas”, argumentou Julio.
Para o MPF as audiências foram feitas em desacordo com as leis. Segundo a procuradora Analúcia Hartmann, autora da ação civil pública que pediu o cancelamento da tramitação do Plano, as reuniões não tiveram a divulgação adequada, com 15 dias de antecedência, e não contavam com os documentos exigidos. “Em Santo Antônio de Lisboa, por exemplo, membros das comunidades relataram que faziam perguntas e os técnicos diziam que não sabiam responder e que os interessados deveriam procurar o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano)”, contou.
Em sua decisão, o juiz Marcelo Krás Borges concordou: “Deve ser salientado que as audiências realizadas foram feitas formalmente, não proporcionando a efetiva participação da comunidade”, escreveu na sentença. Para acatar a ordem judicial, a Câmara de Vereadores cancelou a votação de terça e disse que enviará o Plano para a prefeitura. As 618 emendas feitas ao documento, propostas por vereadores e pelo poder Executivo, também param de ser analisadas. Segundo o presidente Cesar Faria, se for derrubada a liminar em Porto Alegre, o projeto volta à pauta imediatamente. Porém, se a decisão for mantida, o município será obrigado a promover 13 audiências públicas distritais em 60 dias.
Posição das entidades
Sinduscon (Sindicato da Construção Civil da Grande Florianópolis) e Crea-SC (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) concordam com a paralisação do Plano Diretor. Na visão das entidades, é preciso mais tempo. Porém, a CDL (Câmara de Dirigentes Logistas) vê o risco de o projeto não ser aprovado a tempo.
Segundo o presidente do Sinduscon, Hélio Bairros, o sindicato havia solicitado mais prazo para contribuir com o projeto. “Não é porque ficou sete anos em discussão que precisa ser aprovado na pressa”, afirmou. Em nota, o Crea informou que a decisão agradou o Conselho. Na última semana, a entidade se mobilizou com OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Corecon (Conselho de Economia) e CAU (Conselho de Arquitetos e Urbanistas) para pedir mais tempo. A OAB não quis se pronunciar após a decisão.
Por outro lado, Kissao Thais, que representou a CDL no Núcleo Gestor, acredita que está na hora de a prefeitura finalizar o projeto. “Não acredito que precise das 13 audiências públicas. No máximo, mais uma geral”, avaliou.
Debate sobre a ruptura com Núcleo Gestor
Segundo a prefeitura, as audiências aconteceram em todas as regiões da cidade, sendo 54 encontros distritais somente no segundo semestre deste ano. “Tornamos o processo o mais objetivo e transparente possível. As mais de 1.000 pessoas que procuraram o Ipuf foram ouvidas”, disse o superintendente do Ipuf, Dalmo Vieira Filho.
Além da problemática apontada pelas audiências, o MPF questionou a ruptura da Prefeitura da Capital com o Núcleo Gestor do Plano Diretor, criado em 2006. Em uma votação realizada em setembro, segundo a procuradora Analúcia Hartmann, o grupo definiu que deveriam ser realizadas 13 audiências públicas.
A procuradora disse ter promovido a ação por ter uma demanda de vários setores da sociedade, como OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Crea (Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo), IAB (Instituto de Arquitetura e Urbanismo) e representantes do Núcleo Gestor.
Entre eles está Gert Schinke, representante do Pântano do Sul. “Sempre dissemos que teria que realizar as audiências distritais. Era necessário voltar a essas regiões para obter a chancela”, esclareceu.
(ND, 20/11/2013)