18 nov Escocês reduz lixo orgânico em bairro de Umuarama com projeto educativo
O escocês, hoje umuaramense de coração, Douglas McKenzie Boyle, foi um dos convidados da comitiva britânica para participar do Seminário Internacional de Experiência Britânica em Gestão de Água e Resíduos Sólidos, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Além disso, Boyle é um dos moradores do Conjunto Patrimônio Umuarama que faz a diferença promovendo a diminuição de resíduos orgânicos de toda a comunidade.
Em entrevista à reportagem do Jornal Umuarama Ilustrado, Douglas Boyle ressaltou que o Brasil gera 60 milhões de tonelada de lixo por ano, sendo que 30 mil são de orgânicos, como resto de alimentos, e parte desse montante poderia ser tratado no local onde foi gerado, na casa das pessoas. Tal ação desafogaria os aterros sanitários e lixões diminuindo a emissão de gases do efeito estufa, como também promovendo vários ganhos à comunidade.
Com as experiências vividas em diversos Países, o geólogo trouxe consigo da Escócia uma tecnologia de compostagem, a máquina chama de Rocket. O equipamento ecologicamente correto transforma os resíduos orgânicos em adubo de alta qualidade.
Quando Douglas chegou ao bairro percebeu a necessidade de projetos para transformar os resíduos, nesse momento decidiu montar um projeto junto com a comunidade, com objetivo de educação ambiental e diminuir os resíduos que eram depositados no lixo comum. “Na primeira vez que passei pelo Brasil assisti a novela O Casarão, na qual um homem ficava mexendo em um balde com estrume para virar ouro. Eu sou esse homem, mas meu lixo virou ouro em forma de adubo, que é repassado para a comunidade”, ressaltou Boyle.
O projeto do bairro Patrimônio Umuarama foi montado a mais de 10 meses com parceria da Associação dos Moradores do Sol Nascente e do Patrimônio Umuarama e de acordo com o entrevistado, mesmo nesse curto período, a população já conseguiu captar a mensagem. “Objetivo é dar educação para o povo e as crianças, como também aproveitar a matéria orgânica do bairro para gerar ganhos. Na natureza nada se gasta, tudo se aproveita” ressaltou.
Para participar do projeto os moradores ganham um balde para depositar os restos orgânicos que seriam jogados no lixo. Quando o recipiente estiver cheio ele é entregue para o geólogo, sempre fechados para não gerar problema com a vigilância sanitária. “Todos os participantes são cadastrados e depois que recebo o material orgânico ele é colocando na máquina com a mesma quantidade de poda de árvore triturada que a prefeitura dá para mim” ressaltou.
Na Rocket os resíduos permanecem por 14 dias, onde as bactérias começam a realizar a transformação de lixo para adubo. “A Rocket tem um eixo central com pás que se movimenta a cada 30 minutos, por apenas 30 segundos. Essa manobra vira delicadamente a massa de compostagem. Várias espécies de bactérias que surgem naturalmente efetuam a decomposição rápida do material. Outra maravilha da natureza é que essas mesmas bactérias elevam a temperatura da maquina até 80°C garantindo a morte dos micros organismos que causam doenças, ou em outras palavras, ocorre a pasteurização”, informou o geólogo.
Após esse período, o material é colocado em uma caixa para amadurecer durante 20 a 30 dias. Em seguida é peneirado e retorna para os participantes do projeto. “Todos os participantes utilizam o adubo emseus quintais e os que não têm um espaço de terra estão comprando vasos ou caixotes para fazer uma pequena horta em casa. Nelas são plantados saladas e ervas. Tudo pode ser colhido na hora fresquinho”, garantiu o escocês.
Eficácia do projeto
Dos bairros participam regularmente 25 moradores e segundo Boyle, no início do programa a quantidade de lixo produzido por casa no bairro era de 6,7 quilos por semana e hoje é 4,6, uma redução de 30%. “Eu gostaria que o projeto fosse ampliado, mas para isso precisamos de apoio. Cada tonelada de produto compostado produz 30 quilos de gás de efeito estufa, porém esses resíduos jogados nos lixões são 365 quilos de gás, principalmente o metano, por tonelada”, ressaltou.
Outros ganhos
Outro efeito do projeto foi a diminuição de resíduos jogados pelos moradores e com isso redução nas despesas domésticas. Estamos mudando a mentalidade de fazer as compras em excesso, as pessoas não desperdiçam tantos alimentos, como também está fortalecendo a união dos moradores. O povo entende muito mais do que o poder público pensa que ele entende” contou o entrevistado.
Sonho de ampliar
Duglas Boyle sonha em ampliar o projeto não só para os bairros de Umuarama, mas para todo o Brasil. Para isso novas máquinas e um suporte firme com apoio das prefeituras seria o ideal. “A ideia e que esse projeto se estenda para os bairros e gostaria de utilizar o catador de lixo daquela região e os empregar para operar a Rocket, eu poderia ficar na supervisão. O sonho da gente é a multiplicação dessas máquinas não só em Umuarama, mas no Brasil todo. Porém, para isso tem que ser um projeto firme e forte com apoio da prefeitura” explicou com um sotaque carregado.
O idealista finalizou a entrevista ressaltando uma frase de Albert Einstein “Nesse mundo que vivemos existem problemas que não podem ser resolvido do mesmo jeito quando foram criados, por isso temos que mudar o pensamento”.
(Umuarama Ilustrado, 20/10/2013)