10 jun Desenvolvimento urbano na Capital: planejar sem reconstruir
Artigo de Dalmo Vieira Filho, secretário de Meio Ambiente e desenvolvimento urbano de Florianópolis (DC, 10/06/2013)
Por confiança do prefeito de Florianópolis, estamos em pleno exercício de funções públicas que têm por obrigação trabalhar com o futuro de Florianópolis. Enfrentamos esse desafio com uma premissa: a cidade tem tudo para ser um dos lugares especiais do mundo. Para tanto, não é suficiente salientar as belezas da natureza, ou as singularidades da cultura. Florianópolis tratou com desdém os avanços do urbanismo contemporâneo, estacionou no tempo e precisa se livrar dos simplismos que lançaram sombras sobre seu futuro.
Propor metas verdadeiramente responsáveis para o futuro de Florianópolis precisa partir de noções atualizadas de mundo. Não é possível continuar desconhecendo as variadas maneiras pelas quais as principais cidades proporcionam qualidade de vida aos moradores e ampliam a atratividade sobre visitantes.
Pensar entes complexos que são as cidades exige conhecimento técnico atualizado, bom senso e sensibilidade, necessários para distinguir os verdadeiros problemas urbanos e transformá-los em soluções, mas detectar oportunidades é ainda mais importante: os ideais futuros não devem ser limitados pela régua das dificuldades; precisam, sim, ser amplificados pelos sonhos dos potenciais. Em cidades como Florianópolis, não pode haver projeto forte de futuro, por mais realista que queira ser, sem a dosagem adequada de sonhos – própria do urbanismo – impregnada do algo mais que diferencia propostas e move multidões.
Cidades não são apenas sistemas funcionais, mas sofisticadas expressões sociais, dotadas de corpo e alma, onde a tecnologia e os aspectos técnicos jamais poderão prescindir da presença das ciências humanas.
A Florianópolis do futuro não precisa ser construída de novo: basta que seja apropriada de maneira mais cuidadosa. A cidade tem que ser devolvida aos cidadãos, com ações de planejamento territorial lastreados na natureza a na trajetória histórica, e não se sobrepondo a eles.
Entretanto, para que os futuros possíveis e desejáveis se realizem, é preciso mais do que boas ideias e projetos adequados. É necessário que os momentos sejam certos, que os responsáveis estejam à altura. Estamos em uma cidade que perdeu muitas oportunidades e não deve desperdiçar as próximas.
Por isso, também por vocação, mas principalmente por dever de ofício, devemos dizer o que a cidade do presente está fazendo pela Florianópolis do futuro, e felizmente já há muito que dizer. A cidade retomou seu Plano Diretor, mantendo o compromisso de remetê-lo à Câmara Municipal em setembro de 2013.
Não se trata de um plano simples nem burocrático: trabalha-se com parâmetros inovadores, como a paisagem urbana e a primeira apresentação formal da proposta, que teve como mote a busca por equilíbrio e agradou a empreendedores e preservacionistas. A humanização da cidade iniciou pelo chamado setor Leste, em pleno centro, com propostas verdadeiramente diferenciadas.
O projeto envolve confeitarias, bares, restaurantes e o comércio de um modo geral. Usuários, lojistas e a CDL participam ativamente, incluindo uma proposição surpreendente para o Aterro da Baía Sul. Aliás, todos os aterros centrais estão sendo adaptados para o conceito de parques urbanos. O município está assumindo o papel central que lhe cabe em assuntos estratégicos, como o uso da Ponte Hercílio Luz, a ligação Ilha-Continente, transporte marítimo, a atualização do sistema viário e o transporte coletivo.
O projeto de transformar as cabeceiras da ponte no grande lugar de reencontro da população com o mar está em fase de detalhes e, por si só, terá o dom de mexer com a própria mística da cidade.
As ciclovias de domingo, pela vontade do prefeito municipal, devem ser inauguradas agora, em meados do ano. A dimensão dessa ação vai surpreender a sociedade e acrescentar novas alternativas de lazer para toda a população. A prefeitura está trabalhando pesado na humanização do Centro, executando por setores projetos completos de qualificação urbana, envolvendo calçadas dignas, acessibilidade e faixas de pedestres em nível.
A restauração da Casa de Câmara e Cadeia está sendo licitada e os tombamentos do Ribeirão da Ilha, Santo Antônio de Lisboa, mosaicos de pedras portuguesa da Praça XV, do artista Assis, e Pedras de Itaguaçu irão reabrir os processos de integrar definitivamente patrimônios da natureza e da cultura no rol das coisas definitivas de Florianópolis. São ações que querem ser uma demonstração de amor à cidade e que sintetizam o que ela mais precisa: atualidade e dedicação.
Será equilibrando tradição e transformação, natureza e empreendedorismo, somando acúmulos e realizações e não suprimindo uns para impor outros, que Florianópolis vai surpreender o Brasil com seus projetos de futuro.
Para que futuros desejáveis se realizem, é preciso mais do que projetos adequados. É necessário que os momentos sejam certos, que os responsáveis estejam à altura. Estamos em uma cidade que perdeu muitas oportunidades e não deve desperdiçar as próximas.