Pescadores pegam 15 toneladas de tainhas no primeiro dia de safra nas praias de Florianópolis

Pescadores pegam 15 toneladas de tainhas no primeiro dia de safra nas praias de Florianópolis

Valeu a pena esperar. Pelo menos 15 toneladas de peixe foram capturadas em praias de Florianópolis, ontem, primeiro dia da temporada oficial da tainha no litoral sul do Brasil. Os maiores lances foram feitos por pescadores da Barra da Lagoa embarcados em botes equipados com redes de caça de malha e, em alguns casos, sondas para localização dos cardumes. Os tradicionais arrastões com canoas a remo deram certo em dois cercos simultâneos no Campeche e um na Galheta, também praticamente no mesmo horário – pouco antes das 7h.

A Federação Catarinense dos Pescadores também foi informada de lances bem sucedidos em Garopaba, Imbituba e Laguna, no Sul do Estado. No entanto, somente na manhã de hoje receberá dados oficiais das demais colônias para fechar a quantidade exata pescada no dia de abertura da safra.

De acordo com levantamento anual da federação, só ontem foi capturado o dobro do registrado em todo o mês de maio de 2012, considerado o ano mais fraco da pesca artesanal em Santa Catarina desde 2007, com 425 toneladas. “Este primeiro dia é indicativo de que teremos uma safra boa”, prevê o presidente Ivo Silva. A meta para esta safra, segundo ele, agora passa de 800 para 1.200 toneladas. “Vamos esperar que o tempo continue ajudando”, completa.

Para quem pesca nas praias do Leste e do Sul da Ilha, o clima estava perfeito. O rebojo e a queda na temperatura, há uma semana, trouxeram cardumes da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, mas foi a virada do vento que proporcionou esta sensação de fartura nas redes. “Ainda bem entrou o nordeste, deu uma esquentada na água e o peixe que entrou ficou abrigado por aqui mesmo”, disse João Sabino, mestre do barco Abílio Silva, de Ingleses, o segundo a atracar no porto do canal da Barra da Lagoa na manhã de ontem, carregado com três toneladas de tainhas, a maioria com ova.

Apesar da falta de boias na boca da Barra, Laurentino Benedito Neves, 50, patrão das canoas Saragaço e Manezinha, estava seguro que os botes com redes caça de malha estavam fora dos limites para redes de arrasto. “Ainda não pegamos nada, só eles. Mas tem peixe para todo mundo, é só esperar”, garante. Bandeiras de plástico fincadas em pedaços de isopor substituem as boias de demarcação da pesca artesanal na Barra da Lagoa.

Cardumes monitorados a olho e por sondas

O dia começou cedo para a tripulação do Marieda, o primeiro a atracar carregado de tainhas em um dos trapiches do canal da Barra da Lagoa, na madrugada de ontem. Pai e filho, Aílton Lindomar, 54, e Carmozino Florindo, 28, donos do barco, e mais cinco pescadores foram para o mar logo depois da meia noite, e já sabiam que teriam muito trabalho pela frente.

Como o barco é equipado com sonda e vinham monitorando o cardume há uma semana, no entorno dos costões da praia Mole, às 2h já estava de volta com uma tonelada de peixe malhado.

Desmalharam rapidamente, navegaram até boca na barra, cercaram de novo e retornaram ao cais com mais três toneladas.

“O peixe está muito na costa, mas há bastante formação de cardumes”, disse o contramestre Zaidi Nunes, 56, enquanto tirava das redes uma tainha ovada e gorda.

Classificado como artesanal, o bote Marieda tem casario e é equipado com sistema de comunicação por rádio, sonda e guincho para içar a rede com peixe. A caça de malha usada ontem no Marieda tem 600 metros de comprimento por 50 metros de altura. Com 400 quilos de chumbo e 2.000 cortiças, a rede está avaliada em R$ 40 mil, segundo Carmozino.

Além do mestre, a tripulação é composta pelo chumbareiro, encarregado de soltar o chumbo; o corticeiro, que solta a cortiça; o proeiro, que monitora o cardume e define o momento do cerco; o paneiro, responsável pelo pano da rede; e o cozinheiro da embarcação.

Redes saem de mãos femininas

Iete Nunes, 47, estava ansiosa e acordou cedo, antes mesmo de ouvir o ronco do bote Marieda voltando ao canal. Nem tomou café, foi direto ao trapiche e começou a ajudar a encher as caixas de tainhas fresquinhas.

“Estou doida da para comer uma, fritinha ou assada”, disse enquanto escolhia uma das maiores. Mulher do contramestre

Zaidi Nunes, são eles que montam as redes de tainha utilizadas não só pela tripulação do barco, mas de toda a comunidade da Barra.

São 40 dias de trabalho ininterruptos, 12 horas por dia. “Aprendi na infância, com meu pai”, conta. Iete explica que faz a formação da rede desde o perfil ao entralhamento, aos pedaços que depois são emendados lado a lado. No verão, quando não está costurando redes, o casal cuida de pousada na beira do canal. Ontem, o almoço foi feijão, arroz, salada e tainha frita em postas. “Para matar o desejo”, brincou a mulher.

Dono de barco reclama da falta de mão de obra

Dono do segundo barco a atracar com tainhas ontem no canal da Barra da Lagoa, Abílio Antônio da Silva, 82, é pescador de Ingleses. No caso dele, a maior dificuldade durante a safra é a falta de mão de obra para ter uma tripulação permanente.

Principalmente em Ingleses, onde a falta de trapiche dificulta a operação de embarcações maiores. “Quem trabalha comigo são aposentados, pessoas que têm outra profissão e estão na pesca para reforçar o orçamento. Jovens, são poucos”, diz.

Segundo o pescador, a construção de trapiche em local que não interfira nas redes de arrasto seria fundamental para a sobrevivência da pesca em Ingleses. “Enquanto lá não temos, somos obrigados a descarregar e fazer manutenção na Barra da Lagoa”, acrescenta.

O lance de ontem, de acordo com o mestre João Sabino, foi ao sul da Ilha do Campeche, e demorou cinco horas desde que a rede foi lançada ao mar até ser recolhida a bordo. O Abílio Silva também tem sonda para localizar cardumes.

No Campeche, pescadores arrastam duas toneladas

Parecia festa no Campeche. Na praia ou na avenida Pequeno Príncipe, homens e mulheres voltaram sorridentes para casa, todos levando tainhas frescas para o almoço.

Às 9h horas, os peixes ainda estavam amontoados em dois pontos distintos, próximos ao riozinho, resultado de dois cercos com as tradicionais redes de arrasto e canoas a remo. Contadas, as tainhas somaram cerca de duas toneladas. “O peixe ainda está muito fora da costa, mas está muito bom para o primeiro dia”, comemora Adriano Alexandrino Daniel, 87, um dos donos da parelha. Levadas pelas canoas Fada e Carochinha, duas redes dele voltaram com 1.600 tainhas – pouco mais de 1,5 tonelada. A outra rede, de Getúlio Manoel Inácio, pescou 181 peixes, completando a boa pescaria na manhã de ontem.

Patrão da canoa Fada, Fabio Eusébio Daniel, 72, explicou que metade do peixe fica com o dono da rede, que paga os quinhões do vigia, do chubareiro, dos remeiros e do próprio patrão. A outra metade é dividida entre os 80 camaradas da parelha e com eventuais colaboradores. Ontem na praia, eles vendiam a R$ 6, sem ova, e R$ 8, com ova.

(ND, 16/05/2013)

Polêmica em meio a 28 toneladas

O amanhecer do primeiro dia da temporada oficial de pesca da tainha em Santa Catarina teve para a comunidade pesqueira uma notícia animadora e uma que liga o alerta. As pelo menos 28 toneladas de ontem podem ser o indicativo de que a safra deste ano será boa. Mas a multa aplicada pelo Ibama em um pescador por uso de rede de pesca irregular gerou protesto ontem em Florianópolis.

A Instrução Normativa do Ibama 171 prevê que os barcos de pesca artesanal (que capturam entre 800 metros e cerca de 9 km) devem utilizar rede de espera na pesca da tainha e não rede de cerco. Mas os pescadores alegam que tal rede não é apropriada para a pesca da tainha. O pescador da Praia do Pântano do Sul, em Florianópolis, foi multado em R$ 1,4 mil. Em Passo de Torres, no Sul do Estado, outro pescador foi advertido pelo Ibama.

– Com a rede de espera, a tainha passa por cima ou por baixo e não conseguimos pescar. Eu tenho 50 anos e pesco desde os meus 13 anos. Sempre pesquei com rede de cerco. Não tem outra forma de pescar – reclama o presidente da Associação de Pescadores Artesanais da Praia dos Ingleses, Odilon Dercídio de Souza, 50 anos.

O presidente da Federação de Pescadores de Santa Catarina, Ivo de Souza, pretende levar a questão até Brasília.

– Vamos pedir que o Ibama suspenda esta medida para esta safra, para não prejudicar os pescadores.

Hoje, às 13h, pescadores vão se reunir na sede da federação para discutir o assunto e encaminhar um ofício para o Ibama.

Largada da safra da tainha é considerada animadora

Enquanto as questões legais não são resolvidas, na areia há comemoração. As cerca de 28 toneladas capturadas ontem só na região de Florianópolis – a federação não tinha informações sobre as quantidades pescadas no Litoral Sul –, foram animadoras.

– Este primeiro dia foi excelente, acima das expectativas. Para se ter uma ideia, no ano passado as primeiras tainhas foram capturadas só no dia 20 e não foi nem 10% do que foi pescado hoje – afirma o presidente da Federação de Pesca.

Agora há uma torcida especial para que o tempo traga mais frio e o vento Sul porque com eles, normalmente, vem a tainha.

(DC, 16/05/2013)