O lixo que virou luxo

O lixo que virou luxo

O nome é fictício mas seu trabalho é verdadeiro. Eli hoje tem 49 anos mas passou 30 na rua, percorrendo cidades e fazendo história. Veio de São Vicente (SP) mas conheceu Mato Grosso, Bahia, Goiás, Porto Alegre, até chegar ao município de Florianópolis. Há 9 meses, o grupo de abordagem de rua o achou deitado na rodoviária da cidade. Cansado fisicamente, e de seu passado, ele aceitou o convite e foi para a Casa de Apoio Social, serviço da assistência social que ajuda na ressocialização da população em situação de rua.

Aos 2 anos a irmã de Eli o fez conhecer um dos males que mudaria sua trajetória, colocando bebida alcóolica em sua mamadeira. Aos 15 anos já usava maconha e ganhou a primeira arma de sua vida. De lá pra cá a vida nunca mais foi a mesma. Foi preso diversas vezes onde, na cadeia, aprendeu o trabalho manual que executa e ensina hoje em dia.

Com materiais reciclados, como garrafas de plástico e caixa de leite, Eli usa o talento próprio para refazer o que via nas andanças pelo país. Flores de plástico são suas obras de preferência e que mostram o que o artista já afirmou muitas vezes “tive uma vida torta mas tenho um coração”.

Apesar de sua deficiência, causada por um acidente de carro e que o fez perder metade da perna esquerda, o artesão não desiste. Há aproximadamente um mês, ele firmou uma parceria com a AFLODEF (Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos) onde ensina outros participantes da entidade a desenvolver trabalhos. “Hoje ele tem objetivos de vida, uma esperança. Não aperfeiçoa suas técnicas sem perspectivas mas pensando em passar o conhecimento adiante”, contou Neuza Maria Goedert, assistente social e coordenadora da Casa de Apoio.

As oficinas são ministradas de segunda à sexta, das 10h às 12h. Hoje o artista ensina 4 pessoas e para Eli esta é sua realização, um sentido de vida para continuar a lutar contra a dependência química, “sempre quis ser útil para a sociedade e essas pessoas da Casa de Apoio e da AFLODEF me deram essa oportunidade. Agora o lixo virou luxo”, contou.

Antes da despedida, perguntamos ao artista qual era seu sonho, se tinha um plano de vida, e ele confidenciou: “Quero poder um dia juntar pessoas com o mesmo ideal que tenho e buscar quem precisa de ajuda, assim como fizeram comigo. Essa é a minha chance de terminar a minha vida feliz”.

A Casa de Apoio Social ao Morador de Rua fica no Jardim Atlântico, e é um espaço social de acolhimento de pessoas em situação de rua, com vínculos familiares fragilizados ou rompidos. O centro oferece serviços 24 horas como: Cuidados básicos com a higiene pessoal, alimentação, pernoite, acompanhamento de educador social, assistente social, psicológico e de saúde. O encaminhamento deve ser feito através do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP).

(PMF, 02/05/2013)