25 mar (F)Ilha amada
(Por Sergio da Costa Ramos, DC, 23/03/2013)
Todos consideram como sua a terra-mãe. No caso de Floripa, sinto que a mãe também é filha, é ilha, em torno da qual adejam todos nós, seus filhos. Somos filhos desta ilha-mulher muito querida, a quem se ama como única.
Ela exibe curvas e encantos, enseadas e umbigos – dois! – as lagoas do Peri e da Conceição. Não há como a anatomia da ilha deixar de ser sensualmente feminina – e naturalmente bela, debaixo da primeira luz do outono.
Cumprimente-se a si mesmo, leitor, e agradeça ao Criador por morar neste berço que [Ele] desenhou caprichosamente, molhando a ponta do lápis entre os lábios, como se fazia antigamente, quando se queria desenhar ou escrever com carinho, esmero, primor.
Tome umazinha de manhã no Mercado, celebrando o dia “bento”, sem esquecer de deixar, no solo sagrado de nossa feira popular o gole do santo…
O dia será ainda mais festivo para aqueles que, um dia, aspiraram a maresia no cais da rua Antônio Luz, debruando a baía sul, ao lado do Miramar. Todas as cervejas ali consumidas eram logo processadas pelo fígado e tinham suas uréias expulsas naquele Castelinho da Casan, que ainda está lá, encalhado e perplexo como um galeão-urinol, que se flagrasse encalhado no refluxo da maré.
É ainda mais festivo o dia para quem chupava um “beijo-frio”, ali pertinho, na Sorveteria do Barão, e, depois, tentava imprimi-lo nos lábios da namorada, na sessão vespertina do [Imperial], cinema vizinho à Companhia do Cabo Western.
É data cheia para quem pulava o Carnaval ali na rua João Pinto, no já “veterano” Clube Doze – ou para os foliões embriagados, que se esvaiam em “traçados” ali no [João Bebe Água], boteco histórico, pai compreensivo de todos os pinguços. Havia freguês que tomava “porre” de caderno, pra pagar só no fim do mês, depois do último soluço.
Todos são titulares desta festa e desta “querência”, os mais antigos e os mais novos. Todos os que ajudaram a construir esta escultura à beira-mar, obra de arte que hoje completa 287 anos de vida, paixão e sorte. Mas é ainda mais genuína a alegria de quem comeu uma empada de massa podre no Chiquinho, tomou uma Cola-Marte no Bar Rosa, comprou um “Correio da Manhã” na banca do Beck, cortou o cabelo com o “seu” Mello no Salão Record, almoçou dobradinha no Restaurante Estrela, do Manoel Tourinho, e flertou com a própria mulher, hoje avó, nas barraquinhas do Divino.
Feliz 23 de março, (f)ilha querida.