TCU aponta aumento irregular do pedágio

TCU aponta aumento irregular do pedágio

Relatório de auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União concluiu que contrato de concessão da rodovia tem desequilíbrio que representa 15,4% da tarifa cobrada dos usuários

Compensação indevida de receitas, elevação irregular da tarifa básica de pedágio, demora em três anos da conclusão de obras obrigatórias, como o contorno viário de Florianópolis, cuja construção nem sequer começou.

Estas são algumas das principais irregularidades constatadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em auditoria dos contratos sobre a Autopista Litoral Sul, a concessionária da BR-101, e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que fiscaliza a concessão.

Os documentos elaborados pela Secretaria de Controle Externo (Secex) do TCU em Santa Catarina concluem que a rodovia, mesmo com pedágio, ainda é de péssima qualidade. O trabalho constatou desequilíbrio prejudicial aos usuários no contrato de concessão que representariam 15,4% do valor da tarifa. Como faltam 21 anos para a conclusão, a economia seria de R$ 790 milhões.

As observações foram referendadas na quarta-feira, com a publicação do acórdão pelo TCU, no qual os ministros exigem providências tanto da Autopista Litoral Sul quanto da ANTT.

Consta que a elevação da tarifa teria resultado do acréscimo indevido de encargos referentes à administração, operação e conservação das vias laterais pavimentadas existentes na faixa de domínio da rodovia à época da licitação. Segundo a auditoria, estes encargos deveriam estar embutidos no orçamento-base da proposta apresentada pela concessionária.

Um dos destaques é o atraso do contorno da Grande Florianópolis, que já deveria estar concluído, mas ainda não saiu do papel, mesmo sendo prioridade das prefeituras da região. Agora, o TCU determinou que a obra tenha 47 quilômetros e que termine até fevereiro de 2015.

Quanto à ANTT, o TCU avaliou que há falhas gritantes na fiscalização do contrato de concessão e destaca que chama a atenção o fato de a agência justificar as falhas com base em insuficiência de tempo e pessoal. Ironicamente, diz o TCU, processos de aumento de tarifa sempre tramitam com “surpreendente rapidez”.

O documento especifica também problemas na agência, como falta de exigência em relação a planejamentos, relatórios, dados e prazos para correção de defeitos. E ainda relata falta de agilidade dos procedimentos de fiscalização, que não empregam recursos modernos da tecnologia de informação.

(DC, 09/12/2012)

Problemas vêm do início do contrato

A empresa OHL assumiu a concessão do trecho entre Curitiba e Florianópolis em 15 de agosto de 2008, e a relação foi cercada de contratempos e desencontro de interesses. No começo, os serviços de ambulância e guinchos não funcionavam de forma adequada. Também faltava capacidade técnica para atuação no controle de fluxo quando havia acidentes. A Polícia Rodoviária Federal constatou que os cones eram colocados muito próximos aos locais das batidas e não era possível reduzir a velocidade com segurança. Houve ameaça de levar o caso para a Agência Nacional de Transportes Terrestres, mas o problema foi contornado.

O começo da cobrança também gerou impasse. A OHL, grupo espanhol, venceu a licitação em fevereiro de 2007 e constituiu a Autopista Litoral para administrar o trecho que passaria a operar no ano seguinte. Ocorre que a empresa não conseguiu construir os quatro postos de pedágio a tempo, e a lei brasileira só autorizava o pagamento quando todos fossem concluídos. O governo federal alterou a lei para favorecer a empresa. Mais tarde, o assunto gerou questionamentos jurídicos.

A localização da praça de pedágio em Palhoça foi polêmica. Prefeitura e moradores reclamaram porque seria necessário pagar para ir de alguns bairros até o Centro. Houve até envolvimento da hoje ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, na mudança do local. Não adiantou e a cobrança começou só em junho de 2009, mais de um ano após o prazo.

Ousadia em leilão garante concessões e visibilidade

A OHL ficou conhecida no Brasil em fevereiro de 2007, quando fez lances ousados, incluindo pedágios de R$ 1, para vencer os leilões de cinco rodovias. O trecho da BR-101 de Florianópolis a Curitiba estava neste grupo, e o preço fixado foi de R$ 1,02. O valor chamou a atenção porque incluía várias obras – como o contorno viário de Florianópolis – que demandavam fortes investimentos. O mesmo atraso ocorreu na duplicação da Serra do Cafezal, na Rodovia Régis Bittencourt, principal ligação entre as regiões Sul e Sudeste. Prevista para fevereiro, somente quatro quilômetros estão concluídos.

(DC, 09/12/2012)