Descaso produz mais esgoto na Lagoa da Conceição

Descaso produz mais esgoto na Lagoa da Conceição

Lideranças comunitárias e em­presariais da Lagoa da Conceição não têm dúvidas de que a contaminação da água e do subsolo está diretamente relacionada à inefici­ência do sistema de tratamento de esgoto da Casan, como comprova relatório divulgado em junho por técnicos da Fatma (Fundação Es­tadual do Meio Ambiente). Mas reconhecem que a degradação ambiental é agravada pela falta de consciência de parcela significativa de moradores e comerciantes, tan­to na orla quanto no entorno.

Em lugares que não existe rede de coleta, há casas e pontos co­merciais que descartam dejetos na rede pluvial. Mas também há mo­radores servidos pelo sistema que pagam a tarifa de esgoto e continu­am despejando resíduos líquidos e sólidos na tubulação que deveria dar vazão apenas à água da chu­va. “Não conseguimos quantificar essas pessoas. É preciso trabalho conjunto da Casan, da Fatma e da Vigilância Sanitária para fazer este levantamento, e punir quem polui”, diz Aléssio Passos, que reassumiu a presidência da Amola (Associação dos Moradores da Lagoa).

Além disso, a empresa explica que o extravasamento de esgoto em dias de chuva não é problema de tubulação quebrada, mas sim de ligações clandestinas de águas pluviais à rede coletora de esgoto. “Em conjunto com Vigilância Sani­tária, trabalhamos na fiscalização das ligações clandestinas”, afirma Carlos Melo, porta voz da estatal.

O sistema da Casan foi projeta­do para 900 casas, em 1985. Atual­mente são mais de 3.500 famílias, cerca de 13 mil pessoas moram na orla da Lagoa. Segundo a estatal, o número de imóveis cadastrados e atendidos hoje por coleta e trata­mento de esgoto é de 2.047.

MP investiga ligações irregulares

Não é por acaso a elevada concentração de algas na porção sul da lagoa, entre as comunidades do Canto e do Porto e no trecho da avenida Osni Ortiga. O aspecto esverdeado da água e o odor que causa náuseas motivaram inquérito civil público, instaurado em 2011 pela 32ª Promotoria Ambiental do Ministério Público de Santa Catarina. Os suspeitos são moradores, comerciantes e pousadas, mas ainda há prazo para conclusão da investigação.

Entre 2005 e 2008, a empresa investiu R$ 5.808.856,32 para ampliação e melhoria do sistema do Canto da Lagoa, com rede coletora, ligações prediais, emissários, interceptores e estações elevatórias. Para a Vigilância Sanitária, no entanto, esses investimentos não resolveram o problema. “Seria preciso ampliar a estação de tratamento e a própria rede, que está saturada. Acreditamos que existem mais ligações do que ela suporta”, afirma o biólogo Cristovam Muniz Thiago, fiscal da Vigilância Sanitária do Distrito Leste.

Enquanto isso, uma ação paliativa continua sendo a retirada das algas acumuladas. Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano, José Carlos Rauen, há seis meses foi solicitada uma nova etapa do serviço à Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital). E novo mutirão deve ocorrer ainda na atual gestão.

Trabalho conjunto

O prefeito eleito Cesar Souza Júnior tem consciência dos problemas na Lagoa e, apesar de ainda não ter indicado o novo superintendente da Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente), aponta a definição do mapa do saneamento básico na cidade como uma das prioridades a partir de janeiro. “Pretendo conduzir um grande processo de avaliação da balneabilidade”, disse.

Segundo Cesar, a prefeitura, por meio da fiscalização da Floram e da Vigilância Sanitária, pretende trabalhar em conjunto com Fatma e Casan para definir o quadro ambiental da Lagoa. “Precisamos ter um termômetro de como estará a situação no auge da temporada”, acrescentou.

Em novembro, a Floram apurou 64 denúncias ambientais. A Lagoa registrou o maior número de queixas crimes ambientais, com 11% do total das reclamações.

(ND, 12/12/2012)