Abandonados ou levados para passear, a presença de cães nas praias ainda é alta

Abandonados ou levados para passear, a presença de cães nas praias ainda é alta

Todo ano é a mesma história. Com a temperatura começando a subir, algumas pessoas levam seus cães à praia para brincar e se divertir. Outras, detestam ver os peludos na areia, fazem manifestações contra, apitam quando há algum animal passeando, e a confusão está feita. Cachorro na praia ainda é motivo de grandes discussões.
A estudante de engenharia civil da Univali, Katherine Jordão, é veemente na resposta quando questionada sobre sua posição em relação aos animais na praia. “Morro de nojo, sou totalmente contra. Vai ver se alguém leva cachorro pro shopping. A praia é um lugar público. No máximo no calçadão, né?”, defende Jordão, que possui um cão de estimação desde a infância.
Já a acadêmica em publicidade e propaganda na FURB, Thaisa Vieira, diz que leva, sim, seu cão à praia. “Sou a favor porque meu cachorro é mais vacinado que muita gente por aí, e eu realmente acredito que a sujeira e poluição da praia seja principalmente pela má educação das pessoas. Jogar lixo, fazer necessidades no mar, deixar dejetos na areia acabam sendo bem mais prejudiciais pra praia do que levar um cachorro”. Mas a estudante pondera “acredito que levar o cachorrinho à praia depende muito do bom senso do dono. Utilizar de coleiras, levar ‘junta-caca’ e ficar sempre atento para o passeio não se tornar prejudicial para as pessoas que estão na praia”.
O fato é que segundo especialistas, os cães podem, sim, transmitir doenças aos homens – as zoonoses.
Os cachorros bem tratados, ou seja, livre de doenças e parasitas intestinais dificilmente transmitem doenças. Mas como não dá para ter o controle sanitário de todos os cães que frequentam a praia, por questões de saúde pública, existe um dispositivo legal que proíbe a circulação de cães nas areias.
Em Florianópolis, segundo a lei complementar número 94, de 2001, foi instituído o Código de Proteção Animal. A determinação visa assegurar a integridade física e a saúde da população. O artigo oitavo diz que “é expressamente proibida a presença de cães, gatos ou outros animais em praias a qualquer título”. O descumprimento à lei pode render uma multa de 158 reais ao dono. Ruas e calçadões estão liberados, desde que com coleira e guia.
Quem faz a fiscalização nas praias da cidade é a Vigilância em Saúde, órgão da prefeitura municipal. Já o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) cuida de todo o trabalho de prevenção e orientação na capital. A veterinária do CCZ, Eva Ota, diz que a proibição existe não porque o cachorro incomoda, mas pelo perigo da trasmissão de doenças. “Não tem como saber se todos os animais foram vacinados e desverminados. Em primeiro lugar deve estar a saúde humana”.
Zoonoses
Uma das enfermidades transmitidas através do contato com as fezes de cães e gatos infectados, e frequentemente adquirida por pessoas na praia, é a Larva Migrans Cutânea. Mais conhecida por bicho geográfico, é uma doença de pele transmitida por larvas de um parasita intestinal comum em cães e gatos chamado Ancylostoma caninum. O animal infectado ao defecar na areia libera ovos desse verme, que se transformam em larvas, podendo penetrar na pele das pessoas e causar feridas e forte coceira. As partes do corpo mais afetadas são os pés, pernas e mãos.
Estas larvas são muito resistentes às ações do meio ambiente tais como calor, frio, umidade e seca. Podem permanecer no ambiente por até um ano. Para prevenir a possibilidade do animal transmitir essa doença, ele deve ser submetido a exames de fezes a cada seis meses e vermifugado se necessário. Recolher as fezes do seu animal em praças, parques, jardins e praia, também ajuda a evitar o problema.
Outra zoonose que pode ser transmitida é a raiva. Se um cachorro infectado com o vírus da doença atacar alguém, a vítima deve, obrigatoriamente, passar por uma série de vacinas. A veterinária do CCZ, Eva Ota, conta que, na capital, quando há ataques, o cachorro é capturado e fica sob observação durante dez dias para diagnóstico da existência ou não do vírus. Em caso negativo, a pessoa atacada pode suspender a vacinação.
Bem-estar do próprio animal
O que muitas vezes os donos esquecem é que ao levar o seu cão à praia pode estar fazendo mal ao próprio bichinho. Segundo o veterinário Mário Marcondes dos Santos, caso os proprietários do animal desejem levá-lo para as férias na praia sem colocar a saúde do animal em risco, devem tomar uma série de cuidados. “Um dos problemas principais a que os cães e os gatos ficam expostos é a doença do verme do coração, que é transmitida por pernilongos encontrados no litoral em quantidades muito maiores do que nas áreas com maior concentração urbana”.
Em geral, conta o especialista, animais que sofrem desse mal precisam passar por um tratamento complicado que, normalmente, envolve internação em hospital e cirurgia. “Os sintomas podem demorar anos para se manifestarem e são relacionados ao aparelho cardiovascular, como tosse, falta de ar, cansaço, inchaço nos membros, barriga inchada e língua arroxeada”.
Para prevenir o contágio, o melhor é aplicar uma medicação no animal 30 dias antes da viagem, logo após o retorno para casa e 30 dias depois. Caso os donos viajem constantemente com o cão ou o gato para o litoral, o jeito é vermifugar o pet sempre, como recomenda o veterinário.
No entanto, o verme do coração não é o único mal a que os animais estão expostos na praia. O contato com a areia, segundo Santos, pode causar conjuntivite, problemas de pele e outras verminoses, já que cães e gatos de rua podem defecar na região, depositando fezes contaminadas.
Vale lembrar ainda que, como o calor costuma ser maior nessas cidades, o cuidado com a desidratação precisa ser redobrado. “É fundamental deixar o bicho sempre em um lugar fresco e manter à disposição água abundante – além de trocá-la constantemente”, orienta Santos.
Cães abandonados
Além dos animais levados à praia pelos seus donos, é comum a incidência de cachorros abandonados nas praias. Em Florianópolis, uma das praias que mais abriga os bichinhos é a Barra da Lagoa.
No entanto, surpreende que até mesmo na isolada da Lagoinha do Leste, cães vivam sem dono. Nesta praia só é possível chegar de barco ou por uma trilha de em média duas horas de caminhada, atravessando um morro em meio à mata atlântica. A foto que mostra os animais abandonados na Lagoinha é do Blog da Cachorrada.
A Diretoria de Bem-estar Animal de Florianópolis atua em conjunto com o CCZ, e faz castrações para controlar a população de cachorros. Segundo o coordenador-administrativo da diretoria, Marcelo Dutra Cunha, desde 2004 já foram realizadas 32 mil castrações. Ele ainda conta que anteriormente os cães eram recolhidos e sacrificados. “Hoje, o recolhimento só é feito às espécias vítimas de maus-tratos”, conta.
Para fazer a castração gratuitamente é necessário ser morador de Florianópolis e possuir renda de até três salários mínimos. O órgão ainda faz as operações a preços sociais. O endereço da Diretoria de Bem-Estar Animal e do CCZ é a rodovia SC-401, sem número, ao lado do cemitério do Itacorubi. O telefone para contato é o (48) 3338-9004.
(Cotidiano, 12/09/2012)