28 ago Funcionários do transporte coletivo passam a manhã de olhos vendados
A prática faz parte de um projeto do SEST SENAT, que incentiva motoristas e cobradores a respeitar deficientes.
Com os olhos vendados, 23 funcionários da empresa de transportes Canasvieiras tentam localizar o ônibus. A única forma de se situarem é usando a audição, assim procuram ouvir de onde vem o barulho indicador da marcha à ré. Caminhando vagarosamente eles começam a tatear até que finalmente conseguem encontrar o coletivo. Então chega o momento de subir os degraus, alguns quase caem, mas conseguem cumprir essa etapa.
Depois que cada um lentamente se acomoda, é hora de fazer um passeio. Sem poder enxergar, eles tentam adivinhar em que local estão, a maioria não acerta. Após muitas voltas eles enfim param na praça de Jurerê e lá começa uma nova batalha.
Sob o olhar curioso dos moradores, os motoristas e cobradores descem os degraus do ônibus, encaminhando-se para fazer exercícios na academia ao ar livre.
Alice Gorges é proprietária de uma empresa de congelados em Jurerê. Ela e as funcionárias assistiram à cena e ao saberem do que se tratava apoiaram a ideia. “É um belo gesto de conscientização. Quem não tem uma vivência dessas não sabe como é”.
Na volta para a garagem da empresa eles permanecem agoniados, com vontade de tirar a venda e quando o fazem se sentem aliviados.
Vivência
A vivência é parte de um curso de capacitação do SEST SENAT (Serviço Social do Transporte/Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte), criado por Claudiano Reis, há cerca de quatro meses, para que os trabalhadores saibam quais as dificuldades de um deficiente visual e assim aprendam a ter paciência e respeitar o outro. A prática é desenvolvida também na Estrela e Insular.
A psicóloga da Canasvieiras, Fabíola Lima, conta que a empresa aderiu muito bem ao curso, tanto que adquiriu uma cadeira de rodas e alguns objetos inusitados como barriga falsa e peruca de cabelos brancos. Dessa forma, estendeu o projeto para que os funcionários possam compreender as dificuldades de gestantes e idosos. “Com todo esse aprendizado eles começam a entender mais a limitação do outro e assim sabem o que fazer em situações cotidianas”, afirma.
Experiência
Rogério Moreira é motorista da empresa e diz que o momento mais difícil foi quando estava dentro do ônibus. “É tudo muito confuso, eu usei todos os meus outros sentidos para tentar descobrir onde estava, mas tem muito barulho, muitas pessoas falando ao mesmo tempo e fica difícil se concentrar”, declara.
O motorista conhece bem a realidade dos deficientes. Durante nove anos cuidou da mãe que após um derrame, passou a usar cadeira de rodas. Além disso, tem uma sobrinha que é deficiente visual. “Eu sempre compreendi bem essa realidade, mas agora fica ainda mais claro”, completa.
Lei
De acordo com a lei n° 12.587, de 3 de janeiro de 2012, que institui as diretrizes da política Nacional de Mobilidade Urbana, a Secretaria de Transportes, Mobilidade e Terminais de Florianópolis, atendendo ao art. 24, parágrafo IV, que estabelece “a acessibilidade para pessoas com deficiência e restrição de mobilidade”, está implantando em parceria com as empresas de ônibus e o SEST SENAT, o projeto que visa conscientizar motoristas e cobradores sobre as dificuldades que as pessoas portadoras de necessidades especiais enfrentam. “A adesão de todas as empresas ao projeto tornará o transporte coletivo em nossa cidade mais humano”, afirma Marcelo Roberto da Silva, secretário de transportes.
(PMF, 27/08/2012)