04 jun O futuro dos cobradores no sistema de transporte coletivo de Florianópolis
Fora da pauta. Município de Florianópolis, que tem cerca de mil cobradores de ônibus, não discute substituição desses trabalhadores
As empresas do transporte coletivo de Florianópolis estão no vermelho, segundo o Setuf (Sindicato das Empresas de Transporte da Grande Florianópolis). Essa questão levanta um questionamento sobre custos do sistema, que não são fiscalizados pela prefeitura como mostrou a reportagem do fim de semana do ND, e a manutenção dos cobradores, já que 80% dos passageiros usam o sistema de bilhetagem eletrônica.
Um cobrador custa hoje R$ 900 somados ao anuênio ou biênio (adicionais por tempo de serviço). São cerca de mil deles só na Capital. Segundo o presidente do Setuf, Waldir Gomes da Silva, o gasto com remuneração e benefícios para os cobradores representa em torno de 15% da tarifa.
O assessor do Sintraturb, Ricardo Freitas, defende a manutenção desses trabalhadores, alegando, entre outros motivos, a segurança que ele representa para o usuário. “Catraca eletrônica não ajuda criança a passar ou idoso descer”, lembra. “A população é enganada quando se faz a relação direta entre valor da tarifa com presença do cobrador.”
Em Joinville, não há cobrador e nem por isso a tarifa é barata, observa Freitas. “A questão não é só dinheiro. É irrisório tirar cobradores perto dos custos absurdos do sistema, da quilometragem improdutiva, isso é que precisa ser discutido”, diz. A passagem na cidade do Norte do Estado custa R$ R$ 2,75 (cartão) e R$ 3,10 (dinheiro).
Se houvesse negociação entre Setuf e Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano) , seria necessário manter parte dos cobradores, pois o sistema de bilhetagem eletrônica contratado pelo Setuf não foi projetado para operar sem eles.
Uma solução, diz Silva, seria manter algumas linhas com cobrador e outras sem. “Nas linhas sem cobrador haveria um aviso por fora dizendo ‘só cartão’. E elas incentivariam o uso do cartão, porque chegariam ao destino mais rápido”, projeta.
Atualmente, linhas diretas com Centro-Rio Tavares (Ticen-Tican) e Centro-Canasvieiras (Ticen-Tican) e ônibus executivos não têm cobradores.
Catraca eletrônica na convenção coletiva
Desde 1998, quatro anos antes do início da implantação de bilhetagem eletrônica, está na convenção coletiva dos trabalhadores (contrato entre eles e donos das empresas) uma cláusula chamada “Catraca Eletrônica”. Essa cláusula determina que qualquer modificação das relações de trabalho em consequência de controle eletrônico de fluxo de passageiros exige negociação prévia. A discussão não está na pauta do município, administradora do sistema.
O secretário de Transportes e Terminais, João Batista, porém, acredita que a figura do cobrador deva ser extinta. “Mas não defendo a demissão de ninguém”. Segundo ele, a partir do melhoramento do transporte, o cobrador deve sair do ônibus e operar nas estações de transbordo. “Mas tem linhas em que eles são necessários e precisam ser mantidos.” Para o Setuf, a implantação deste modelo seria gradativa. “Ninguém seria demitido.”
(ND, 04/06/2012)