20 jan Antes de mergulhar, olhe a placa
Quem quer dar um mergulho no mar ou só contemplar a praia não precisa, obrigatoriamente, atravessar a ponte rumo à Ilha de Santa Catarina. A porção continental da Grande Florianópolis concentra, inclusive, pontos de referência para os praticantes de mergulho. Infelizmente, não são raros os locais conhecidos por serem impróprios para banho. Mas a fama pelas belas paisagens é bem mais antiga. Além de Palmas, em Governador Celso Ramos, e da Guarda do Embaú, em Palhoça, que permaneceram, até pouco tempo, à vista de poucos privilegiados, a opinião de que as praias próximas a Itaguaçu, em Florianópolis, estavam entre as mais belas atravessou gerações. Por essa ligação desde a infância, Leonora Brognoli Recco preserva a casa de veraneio, à beira da Praia das Palmeiras, na Capital.
– Desde 1948, minha família passa o verão nesta praia. Chegamos a ficar ilhados quando a maré enchia, isolados, só pelo gosto por essa paisagem e tranquilidade – conta.
O pesquisador Nereu do Vale Pereira, que percorre desde criança os balneários de Florianópolis, também destaca as belezas naturais da região e, em especial, da Praia de Itaguaçu.
– Para mim, as pedras, a Ilha do outro lado dão um panorama muito bonito – conta.
(Por Gabrielle Bittelbrun, DC, 20/01/2012)
Costa continental da Baía Sul
Além de ser cenário de fenômenos bruxólicos, como apontou o estudioso Franklin Cascaes, as praias da parte continental da Baía Sul ficaram conhecidas como ponto de encontro de jovens até meados da década de 1960. O historiador Nereu do Vale Pereira, 83 anos, conta que os balneários pertenciam à parte mais urbana do município há cinco décadas e por isso eram os mais frequentados. Na época, Pereira ficava na casa de um tio na Praia da Saudade.
– Era onde se encontravam os amigos, a namoradinha. A Praia de Itaguaçu já era mais reservada, mais tranquila de movimento – diz.
Nos últimos anos, essas praias da região continental receberam o pesado título de contaminadas. O relatório de balneabilidade, divulgado na semana passada pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), apontou sete pontos de avaliação, todos impróprios para banho. Mesmo sabendo da poluição, Maria de Lourdes Corrêa, 52 anos, não vê problemas no neto de cinco anos mergulhar na Praia das Palmeiras.
– Todo mundo daqui toma banho e nunca tiveram problemas de saúde. Para mim, essa água é igual à dos Ingleses, de Jurerê, a Ilha toda está ficando poluída – diz.
Quem viu o que a praia era prefere ficar só na contemplação da paisagem.
– É só para ver mesmo, não dá nem para colocar o pé na água – diz o professor Pereira.
(DC, 20/01/2012)
Costa continental da Baía Norte
Leonora, que mora no Estreito, já frequentou o balneário do bairro com a família. Com a contaminação no decorrer das décadas, para ela, tomar banho na região novamente, só em sonho. De acordo com a Fatma, as praias do lado do Continente da Baía Norte, assim como a porção ilhoa, estão contaminadas.
O oceanógrafo João Luiz Baptista de Carvalho explica que a circulação reduzida de água nas baías Norte e Sul, aliada ao pouco volume de água, dificultam a renovação da água. Para ele, a solução seriam estações de tratamento, eliminando 99% das bactérias, implantadas juntamente com emissários submarinos.
– Sempre terá a emissão ou na baía ou no oceano. Eu defendo no oceano, onde o 1% restante do tratamento seria diluído rapidamente e não teria prejuízo – ressalta.
O oceanógrafo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sílvio de Souza Júnior, complementa que as fontes contínuas de esgoto fazem com que os pontos dos balneários permaneçam impróprios. Ele ressalta que, caso fosse uma contaminação única e temporária, o mar poderia dar conta de matar ou dissipar os microorganismos prejudiciais à saúde.
(DC, 20/01/2012)
São José, Palhoça, Biguaçu
Como as praias de São José e Palhoça ainda sofrem pela contaminação da Baía Norte continental, os moradores dessas regiões até esquecem que têm praia. Em São José, o único ponto analisado pela Fatma, na Praia de Guararema, no Bairro Ponta de Baixo, está impróprio para banho. O oceanógrafo João Luiz destaca que a presença de rios nas localidades, como aquele em frente à vila na Guarda do Embaú, em Palhoça, também aumenta a possibilidade de contaminação. Segundo ele, rios podem ter ligações clandestinas, com o despejo direto de esgoto. Além disso, em períodos de chuva, eles acabam recebendo sujeira das ruas, como dejetos de animais.
O profissional destaca que quanto mais longe dos focos de contaminação de esgoto e quanto maior a circulação de água, mais limpa será a praia. Por isso, a Praia de São Miguel, em Biguaçu, já é considerada própria.
(DC, 20/01/2012)
Governador Celso Ramos
Algumas praias do município, como a Praia da Armação da Piedade, já sofrem pela maior quantidade de casas despejando esgoto, principalmente no verão. O oceanógrafo Sílvio de Souza Júnior destaca que nem sempre as fossas são a resolução do problema. Ele destaca que algumas são colocadas muito próximas ao lençol freático, contaminando a água.
As regiões do município que conseguem escapar da poluição evidenciam águas tão claras que facilitam o mergulho. No ponto de Palmas, que fica mais distante do Rio Águas Negras, por exemplo, o tom claro de azul esverdeado do mar se deve, inclusive, pela formação geológica. A praia é voltada para o mar aberto, facilitando a circulação e renovação de águas. A atuação de correntes na região também ajuda para que o local seja um dos pontos privilegiados para banho e até para mergulho na região continental da Grande Florianópolis.
(DC, 20/01/2012)
Por que faz mal à saúde?
A balneabilidade é a qualidade das águas destinadas à recreação, em que há contato direto e prolongado com a água e a possibilidade de ingerir líquido é elevada. O indicador básico da balneabilidade, em termos sanitários, é a densidade de coliformes fecais, presente nas fezes. Além dos níveis aceitáveis, essa contaminação pode causar diarreia e infecções no intestino, nos rins e na pele, como explica a clínica geral Zulma Carpes.
Tomar banho em água poluída ainda aumenta as chances de se contrair doenças, como a hepatite A. A médica explica que estão mais suscetíveis às doenças pessoas com alguma lesão ou enfermidade, por já estarem com imunidade baixa. Os riscos à saúde também são maiores para as crianças, pois elas costumam engolir mais água e desidratar com facilidade, tendo também imunidade mais baixa.
Por isso, a médica pede consciência, principalmente aos pais, antes do banho em qualquer praia. Ela recomenda ainda o acompanhamento aos relatórios semanais da Fatma e a observação nas próprias praias.
– Se a praia tem lixo, dejetos de animais, despejo de esgoto, não dá para tomar banho. Também somos responsáveis pela nossa saúde – ressalta.
Para quem já tomou banho em água contaminada, a indicação é cuidado redobrado com a saúde. Em caso de qualquer sintoma, como diarreia, vômito ou ardência para urinar, é fundamental procurar um médico.
Os relatórios semanais da Fatma ficam disponíveis no site guiadepraiassc.com.br.
(DC, 20/01/2012)