21 nov Mobilidade na Capital: “Mudar paradigma”
Por Lilian Mendonça, arquiteta, vice-presidente da Asbea (Blog do Moacir Pereira, DC, 21/11/2011)
“Prezado Moacir,
Primeiramente gostaria de manifestar meu prazer um conversar contigo (se me permites).
Na condição de Arquiteta, nascida na Av. Hercílio Luz, moradora da Rua Almirante Alvim, Centro da Cidade, sou uma defensora incondicional da qualidade de vida urbana.
A propósito da reunião de ontem no Costão do Santinho, me ocorreram outras questões que compartilho contigo.
Penso que não podemos nos furtar em utilizar este momento para refletir acerca da (ausência) qualidade urbana em nossa cidade.
A mudança de paradigma a qual eu me referia, nada mais é que agregar nos projetos além da infraestrutura viária, rodoviarista, a visão de urbanidade, no mais amplo sentido da palavra.
Rodovias rápidas nada mais são do que verdadeiras “barreira urbanas”, que além de segregar o espaço urbano, promovem vias mais perigosas em todos os sentidos.
As novas intervenções urbanas passam necessariamente por uma mudança de escala, onde o homem deve ser o protagonista, não o automóvel.
Problemas de mobilidade urbana não podem continuar a ser tratados baseados no transporte individual. A solução está, acima de tudo, no estabelecimento de políticas públicas inovadoras e inteligentes de transportes de massa, com implantação de uma “rede” multimodal de transportes e de terminais de transbordo. As vinculações das novas redes viárias deverão estar conectadas com a malha urbana existente.
Da forma como a proposta da Nova Ponte e seus acessos estão colocadas, me parece que estamos caminhando na contramão do mundo civilizado, desconsiderando totalmente que já existe uma cidade, uma malha urbana consolidada com suas funções inerentes. Cidade são feitas de “esquinas” para promover encontros, trocas sociais, comércios, negócios, gastronomia, lazer urbano.
As cidades criativas no mundo inteiro se desenvolvem baseadas no seu potencial e na sua identidade. Os bordos de água por aqui tem sido tratados como “fundos” desconectados da trama urbana.
Se o aterro é realmente necessário, porque não rever os conceitos? Porque privilegiar o automóvel em detrimento do homem? Porque o homem tem que subir as passarelas (que são rejeitadas pela população de uma forma geral) e o automóvel passar no nível? Porque não inverter a situação e “mergulhar” o automóvel a exemplo do conceito utilizado nos aterros do Rio de Janeiro, e criar uma grande praça urbana, com bordo de água, as tão desejadas marinas e outros equipamentos náuticos e de lazer urbano? Até quando iremos reproduzir os mesmo equívocos? Porque não aprendemos com nossas (más) experiências?
São algumas perguntas que me inquietam.