História em discussão

História em discussão

Venda e possível demolição do prédio considerado o mais antigo de Coqueiros divide opiniões
Considerado o edifício mais antigo de Coqueiros, o Condomínio Normandie está sendo pauta de uma discussão que invadiu a rede social. Depois que a construtora Cota mostrou interesse, há um ano, em comprar os 26 apartamentos para investir em novos blocos, moradores dividem opiniões sobre a destruição do patrimônio.
Os pontos de vista tomaram conta de um site de relacionamento e acabaram em um abaixo-assinado virtual contra a demolição do local. Os donos dos apartamentos, que defendem a venda, dizem que o prédio está com muitos problemas, como infiltração e falta de acessibilidade, e que o investimento para reforma seria muito alto.
O projeto do arquiteto Roberto Félix Veronese, construído em 1964, conta com pilares altos e faz parte da memória arquitetônica de Florianópolis. O prédio número 1.798 da Rua Desembargador Pedro Silva é, na opinião da vizinhança, um marco na edificação moderna da vanguarda da época. Um antigo morador, que não quis se identificar, criou na internet uma tentativa de preservar o prédio. Com quase 500 assinaturas, o documento, segundo ele, será entregue para a prefeitura.
Para a moradora Gabriela Júlia Mohr, 28 anos, destruir o edifício é, também, acabar com uma parte da sua vida. Ela mora no apartamento 01 desde os 12 anos, quando ainda brincava no pátio de 500 metros nos fundos do condomínio:
– Hoje, o meu filho brinca aqui. A área verde é um prato cheio para as construtoras, mas temos que pensar no bem-estar da população. É um patrimônio cultural, histórico e social para o bairro, a cidade. Não vou aceitar vender o apartamento para destruírem depois. O que eu gostaria era de que a construtora mantivesse a parte da frente e ampliasse os fundos. Mas destruir, nem pensar.
Segundo a história contata pelos moradores, o projeto inicial era construir um hotel cassino. Mas a prefeitura embargou a obra, que não foi concluída. Por isso, segundo Gabriela, os pilares são altos e os apartamentos, que seriam os quartos do hotel, foram vendidos. Os corredores têm detalhes em madeira e a escadaria lembra cena do filme Titanic, com degraus largos e arredondados. Hoje, 10 apartamentos estão ocupados.
– Houve uma época que se criou um pânico entre os moradores mais antigos, que saíram daqui – explica Gabriela.
O atual síndico do prédio, Nilton Rodrigues, conta que o principal problema do condomínio é a falta de manutenção, como infiltrações e parte elétrica. Segundo ele, a determinação legal para a venda ou demolição do prédio é da aprovação de 70% dos donos dos apartamentos.
– Este número já atingimos, mas existem alguns que não aceitam. O prédio foi adaptado, porque ele não seria residencial. E com isso falta muita coisa, como elevador, corrimão. Fizemos um levantamento técnico para saber quanto custaria restaurar e adaptar toda a estrutura. O custo pode atingir R$ 2 milhões. Valor que ninguém quer pagar. Sou a favor da venda simplesmente porque não temos condições de pagar a reforma e nem continuar aqui – diz.
De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) da Grande Florianópolis, Hélio Bairros, a instituição não tinha conhecimento da discussão, mas afirma que é válido analisar os valores históricos do edifício. Conta ainda que o sindicato vai investigar e olhar com mais atenção a situação do condomínio:
– Se o prédio merece ser tombado é um segundo passo a ser debatido. Agora, a venda do dele depende exclusivamente dos donos dos apartamentos. E precisa ser unânime.
A construtora Cota foi procurada pela reportagem, mas não quis falar sobre o assunto.
GABRIELA JÚLIA MOHR, moradora
“A área verde é um prato cheio para as construtoras, mas temos que pensar no bem-estar das pessoas. É um patrimônio cultural, histórico e social.”
NILTON RODRIGUES, síndico
“Sou a favor da venda simplesmente porque não temos condições de pagar a reforma e nem continuar aqui.”
HÉLIO BAIRROS, presidente do Sindicato da Indústria da Construção (Sinduscon) da Grande Florianópolis
“A venda do prédio depende exclusivamente dos donos dos apartamentos, e precisa ser unânime. Se merece ser tombado, é outro debate.”
1964 é o ano em que o prédio foi construído
500 assinaturas já foram recolhidas
2 milhões de reais é o valor da reforma
(DC, 11/11/2011)
Demolição descartada
O secretário do Continente, Deglaber Goulart, garante que a Defesa Civil de Florianópolis não interditou os apartamentos e que a secretaria não tem a intenção de demolir o prédio. O que existe, segundo ele, é um impasse entre os moradores.
– A construtora Cota quer comprar apartamentos para colocar no chão e fazer novos prédios. A prefeitura não vai intervir nisso. O prédio é antigo, mas não corre risco de desabar. Não há como comprarmos o edifício e fazer uma restauração – explica.
O arquiteto Edson Cattoni, presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção Santa Catarina (IAB/SC), defende a preservação do Normandie pelo seu valor referencial para o bairro, para Florianópolis e também para Santa Catarina. O ideal, segundo o arquiteto, seria garantir a preservação da edificação.
(DC, 11/11/2011)
IPUF quer a preservação
O processo de viabilidade de compra do condomínio pela Cota, que tramitou na secretaria do Continente, há cerca de um ano, teve parecer desfavorável do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf), que declarou ter interesse histórico, cultural e arquitetônico no edifício.
Conforme a assessoria de imprensa do Serviço de Patrimônio Histórico, Artístico e Natural de Florianópolis (Sephan), o que falta para o condomínio ser tombado é a análise de um laudo técnico feito por um engenheiro, que deverá ser enviado ao órgão. O documento ainda não foi entregue ao Sephan.
(DC, 11/11/2011)