Florianópolis registra uma das piores mobilidades do país

Florianópolis registra uma das piores mobilidades do país

Congestionamentos podem ser percebidos em todas as regiões da cidade em qualquer horário do dia
A Capital catarinense tem o pior deslocamento entre 21 das principais capitais brasileiras. A conclusão está em um estudo desenvolvido pela Universidade de Brasília. Pelas ruas, a prova prática do caos no trânsito de Florianópolis está nos longos congestionamentos que já tomaram todas as regiões da cidade sem hora certa para se formar. Na tarde de ontem, às 14h30, período considerado fora do horário de pico, a fila na via expressa (BR-282), principal acesso à ilha, se estendeu por nove quilômetros tomando as ruas estreitas de Barreiros, em São José. Na ilha, os motoristas também enfrentam trânsito lento no Norte, Sul e Leste. O motivo, segundo o especialista em mobilidade urbana Elson Manoel Pereira é um só: o carro ser considerado como único meio de transporte para a maioria da população.
Estatísticas do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) dão força à afirmação do especialista. Nos últimos cinco anos, a frota de veículos na cidade aumentou 22% o que equivale a 43.762 veículos a mais, uma média de acréscimo de oito mil todos os anos. Para Elson, outro aspecto deve ser levado em conta. “O sistema viário de Florianópolis não oferece alternativas de tráfego. Para se chegar à cidade, por exemplo, só temos a ponte Pedro Ivo Campos e o mesmo problema se repete nos bairros”, explica.
Hoje, os pontos com maior formação de congestionamento estão na SC-401, Norte da Ilha, entre o trevo de Jurerê e Canasvieiras, onde o Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura) dá seguimento às obras de duplicação, na SC-405, Sul da Ilha, entre o trevo do Rio Tavares e o trevo da Seta, também em obras, e nos cinco quilômetros de extensão da via expressa, na área continental. Juntas, estas regiões comportam um fluxo de 220 mil veículos por dia e não há mais alternativas para fugir das filas. “Não temos mais horário de pico, porque os congestionamentos podem surgir a todo o momento e as alternativas de desvio já não resolvem mais, tudo pelo exceto de carros nas ruas transportando apenas uma pessoa”, enfatiza o major da Polícia Militar Rodoviária, Fábio Martins.
Mais de meio bilhão em investimentos destinados a obras paliativas
Para tentar amenizar os congestionamentos na Capital, tanto o governo estadual como o municipal investiram pesado em obras de ampliação de rodovias e construção de elevados. Com o elevado do trevo da Seta, no Sul da Ilha, inaugurado em março deste ano, foram gastos R$16 milhões, na mesma região a terceira pista da SC-405 consumirá R$12 milhões. No Centro, são R$ 8 milhões para o elevado do Rita Maria e no Norte mais R$22 milhões para a duplicação da SC-401. A meta dos governos com as obras é uma só: diminuir as filas. Mas até quando?
Tanto para o especialista em mobilidade urbana Elson Manoel Pereira como para Leandro Andrade, da Polícia Rodoviária Federal, só as obras não solucionam o problema, mas sim, o transferem para os anos posteriores. “Para acabar com as filas é necessário diminuir o número de carros nas ruas investindo em melhorias no transporte público e incentivar a prática do transporte alternativo como a bicicleta”, sugerem os profissionais.
Primeiro passo: sistema BRT
A prefeitura de Florianópolis anunciou no último mês o lançamento do edital para o projeto de implantação do sistema BRT que faz com os ônibus passem a circular mais rápido do que os carros. As empresas interessadas têm 15 dias para apresentar suas propostas. Depois deste prazo, a prefeitura contará com mais um mês para analisar a documentação e definir a empresa, que quando escolhida terá seis meses para entregar o projeto pronto.
A proposta inicial é que sejam implantados três eixos que interliguem o aeroporto internacional Hercílio Luz e a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) com o Centro. O primeiro eixo ligaria o Ticen (Terminal de Integração do Centro) com os bairros que ficam no Continente, em trajeto ainda não definido. O segundo eixo ligaria o Ticen à Universidade pelo mesmo trajeto operado pela linha UFSC Semidireto, incluindo o Terminal de Integração da Trindade no seu itinerário. Por fim, o eixo entre Ticen e aeroporto é semelhante ao percorrido pela linha Corredor Sudoeste, com passagem pelo Rio Tavares.
O Bus Rapid Transit é um sistema de ônibus de alta capacidade que utiliza corredores exclusivos em vias urbanas, simulando o desempenho e outras características atrativas dos modernos sistemas de transporte sobre trilhos.
BOX
As alternativas que não são mais viáveis
Norte da Ilha
SC-401
Extensão do trecho com congestionamento: 4km
Média de tempo na fila: 30 minutos (de Canasvieiras ao trevo de Jurerê)
Alternativa que costumava ser usada: seguir em direção ao Leste da Ilha pelo bairro Rio Vermelho chegando à Lagoa da Conceição. O trajeto é de 28km e o tempo médio de percurso é de 25 minutos fora da temporada de verão.
Sul da Ilha
SC-405
Extensão do trecho com congestionamento: 5km
Média de tempo na fila: 40 a 50 minutos
Alternativa: seguir em direção ao Leste da Ilha pela rodovia Antônio Luz Gonzaga até a Vereador Osni Ortiga. O trajeto é de 8km e o tempo médio de percurso é de 20 minutos fora da temporada de verão.
Continente
BR-282
Extensão do trecho com congestionamento: até 10km
Média de tempo na fila: de 1h a 2h
Alternativas que costumavam ser usadas: pelo bairro Estreito e Coqueiros. O trecho de percurso em cada um deles é de 6km, no entanto, nestes pontos o trânsito também é lento.
(Por Aline Rebequi, ND, 19/10/2011)