31 ago Florianópolis conta ruas alagadas pela chuva
O bairro Rio Vermelho foi o mais prejudicado pela chuva que marcou o mês de agosto na Capital
No jardim as estátuas de gesso em formato de animais boiavam em uma lâmina de 30 centímetos de água acumulada pela chuva dos últimos dias. A varanda é o único espaço que a aposentada Hedi Arnold, 66, consegue acessar antes de molhar os pés. Moradora da servidão Manoel Pedro Teixeira, no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis, ela conta que teme se aproximar da água até mesmo para alimentar o cachorro, que está ilhado na casinha. O Norte da Ilha é a região da Capital que mais preocupa a Defesa Civil.
“Fico com medo de pegar alguma doença”, diz aflita. O caso de Hedi não é uma excessão no Rio Vermelho localizado na região Norte da Ilha, onde praticamente todas as servidões que dão acesso à Rodovia João Gualberto Soares, a principal do bairro, estão alagadas desde o começo da semana, como mostrou a reportagem do Jornal Notícias do Dia desta terça-feira (29).
Como a chuva não deu trégua durante a madrugada de terça-feira (30) a situação do bairro piorou. Na servidão Malabares, o nome da viela parece ter sido escolhido a dedo, visto os malabarismos que moradores e motoristas precisam fazer para conseguir atravessá-la. “Tem alguns pontos que a água chega na cintura”, aponta Inglostade Neves, 44, que vive há um ano na servidão.
Na mesma Malabares, a moradora Aline Pacífico, 23, precisou faltar ao trabalho por não ter condições de deixar a casa que está ilhada desde a tarde de segunda. “Meu receio é sair e, nesse tempo, a água entrar pela lavanderia”, lamenta a moradora.
Situação no Campeche também preocupa moradores
A velocidade dos carros unida à lama e à água acumulada pela chuva do mês de agosto não formam uma boa combinação para os moradores da rua Valdomiro José Vieira, no bairro Campeche. A rua é frequentemente utilizada por motoristas que cortam caminho da congestionada SC-405, fato que deixa o local ainda mais esburacado.
“Quando a chuva fica mais forte preciso colocar uma madeira para tentar conter que a água entre na minha garagem”, diz Adicélia Bastão, 43, que perdeu as contas de quantas vezes teve que limpar as calçadas de casa durante a enxurrada dos últimos dias. “Temos casos de idosos que moram na rua e não têm como sair de casa porque tudo está alagado”, reclama.
Os moradores Gilberto Ferrugem, 53, e Gleidso Ferrugem, 17, salientam que a água acumulada da rua permanece por semanas, mesmo com a presença do sol. “Não existe drenagem nessa rua”, salienta.
Muro cai no Jardim Atlântico
Há semanas nenhum morador estava autorizado a estacionar o carro na garagem do condomínio Elisa Losana, no bairro Jardim Atlântico, na parte continental de Florianópolis. A prevenção foi a sorte dos condôminos que na manhã desta terça-feira (30) foram acordados pelo barulho do estacionamento desmoronando. “As rachaduras apareceram faz um tempo. Mas ninguém imaginou que chegaria a esse ponto”, conta o síndico do prédio, Maurio Borges.
Se estivessem na garagem, ao menos cinco carros teriam caído junto com o muro. “Agora vamos acionar a construtora para exigir nossos direitos”, reforça o síndico.
Defesa Civil
O coordenador da Defesa Civil de Florianópolis, Luiz Eduardo Machado, considera o bairro Rio Vermelho o mais caótico depois da chuva constante do mês de agosto. “Não temos como fazer nenhuma ação de emergência porque este é um caso de drenagem. O que pedimos aos moradores é que saiam de casa se a água invadir os cômodos”, diz. A grande surpresa para os técnicos da Defesa Civil é o comportamento do Maciço do Morro da Cruz. “Estamos monitorando a região mas ainda não registramos nenhuma ocorrência de deslizamento grave”, sinaliza.
O engenheiro da Secretaria de Obras de Florianópolis, Antônio Simões Neto, lembra que para a região do Rio Vermelho será feita a drenagem emergencial de 12 ruas que alagam independentemente da quantidade de chvua. “Estamos em obras desde dezembro, porém esse trecho foi embargado pela Fatma (Fundação do Meio Ambiente). Vamos retomar esse trabalho o quanto antes para melhorar a situação destes moradores”, reforça o engenheiro.
(Por Saraga Schiestl, ND, 31/08/2011)
Famílias na Praia Comprida aguardam aluguel social em áreas de risco
Recurso da Assistência Social é pago retroativo a 2008. Moradores com casas interditadas recentemente esperam por tempo indeterminado
Prazo para conclusão da obra foi prorrogado para o final do ano, por conta das chuvas
Pelo menos 10 localidades são monitoradas em São José, principalmente pela ocorrência de deslizamentos de terra, e por conta disso, a Defesa Civil trabalha em estado de alerta. Os mais afetados, desde as chuvas do último dia 8, são Solemar, Colônia Santana, Fazenda Santo Antonio, Serrarias, São Luiz, Santos Saraiva, Forquilhas, Vila Formosa e Praia Comprida. Neste último bairro, a obra de contenção e taludes numa encosta na rua Sebastião Lentz, continua a preocupar os moradores, que passaram as últimas noites em claro.
“Era para a obra ter terminado em julho, mas as chuvas estão atrapalhando. Tenho um terreno ao lado, que cedi para a União fazer a contenção e ajudar as famílias de cima”, diz o morador, Saul Antônio Carneiro, 55, que mora no local há 25 anos. A vizinha, Michele Américo, 25, conta que tem passado as noites em claro, com medo de que a encosta caia em cima de sua casa. “Moramos em três adultos e uma criança, vivemos com medo de que esse morro desabe sobre nós, o que acho que pode acontecer a qualquer momento”, diz.
Situação mais complicada vive Rita Carina da Rosa, 32. Com as chuvas do dia 8, parte do terreno foi levado, o que fez com que a Defesa Civil Municipal interditasse a moradia. No dia seguinte, a dona de casa fez o cadastro na Prefeitura Municipal, para receber o aluguel social. “Nos obrigaram a sair de casa dizendo que receberíamos ajuda financeira para alugar uma casa e até agora nada. Cada semana a Assistência Social dá uma desculpa diferente”, reclama Rita, que mora temporariamente em um ranchinho cedido pela mãe, também em área de risco.
Rita apresenta termo de interdição da casa, expedido pela Defesa Civil
A demora no pagamento do aluguel social, de acordo com o chefe de gabinete da Secretaria Assistência Social de São José, Airton Muniz, se dá por conta da demanda de famílias cadastradas, desde 2008. “Conseguimos aprovar um projeto de lei na Câmara em março e estamos pagando retroativo”, informa. Muniz conta que a secretaria enviou novo pedido de recursos ao Governo Federal, mas diz que não há previsão de recebimento. Com isso, as famílias que realizaram cadastro junto ao Município este mês, ficam sem previsão para receber o cheque do aluguel social.
O serviço de estabilização e taludes na rua Sebastião Lentz, na Praia Comprida, era pra ter finalizado no dia 14 de julho. O recurso de R$ 1 milhão foi disponibilizado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. Segundo o secretário de Infraestrutura, Túlio Maciel, o prazo foi prorrogado até o final do ano. “Estamos com 70% da obra pronta, mas não podemos dar continuidade com chuvas. Retomaremos o trabalho assim que o tempo melhorar”, prevê o secretário.
(Por Carol Ramos, ND, 31/08/2011)
Que venha o sol
Mesmo com a melhora do tempo, risco de deslizamentos ainda existe nas cidades mais atingidas
Até domingo, deve dar uma trégua a chuva que atingiu 56 municípios catarinenses, deixando dois em estado de calamidade pública (Anchieta e Formosa do Sul) e nove em situação de emergência (Campos Novos, Urubici, São Domingos, Tigrinhos, Jaguaruna, Irati, Ponte Serrada, Brunópolis e Erval Velho). A precipitação entre segunda-feira e ontem afetou 233.332 mil pessoas, sendo 3.108 desabrigadas e 634 desalojadas.
Apesar de a previsão indicar a volta do sol a partir de hoje, a Defesa Civil do Estado ficará a quarta-feira em alerta. O major Márcio Luiz Alves observa que como em agosto choveu três vezes mais do que a média mensal, o solo está bastante encharcado e deslizamentos de terra não estão descartados. As áreas de maior atenção são Vale e Alto Vale do Itajaí.
A população que vive próxima a encostas e barrancos deve observar sinais de deslizamentos.
– Um muro inclinado, por exemplo, ou um corte no terreno são alguns indícios. A população ainda deve permanecer em alerta – ressaltou o major.
Entre as cidades mais atingidas estão Anchieta, no Extremo-Oeste, e Formosa do Sul, no Oeste, que decretaram estado de calamidade pública. Mas as fortes chuvas, vento e granizo nas últimas 48 horas castigaram cidades de todas as regiões, como na Grande Florianópolis. Em Palhoça, cerca de 60% das ruas do Bairro Praia de Fora ficaram submersas. Já na Serra, em Lages, o Rio Carahá transbordou em pelo menos cinco pontos da cidade, alagando ruas.
Queda de barreira pode ter soterrado homem na SC-456
A rodovia estadual SC-456, entre os quilômetros 125 e 126, em Anita Garibaldi, na Serra Catarinense, está com o tráfego interrompido,nos dois sentidos devido a queda de barreira. A previsão era remover a terra até sexta-feira.
Um homem pode estar soterrado. Até as 20h de ontem ele não havia sido encontrado. As buscas foram suspensas devido ao risco de novas quedas de barreira. Na Serra, na SC-430, em São Joaquim, o trânsito, que estava interrompido entre os km 27 e 71, foi liberado em meia-pista.
Em Corupá, na BR-280 no Km 90, uma queda de barreira interditou a pista. A limpeza da rodovia começou a ser feita na noite de ontem. Em Gaspar, uma cratera se abriu na BR-470 e o trânsito está em meia pista no Km 30.
A Central RBS de Meteorologia e a Epagri/Ciram indicam uma melhora no tempo, pelo menos até domingo, com a entrada de uma massa de ar frio e seco. Apenas em Joinville deve permanecer nublado no período da manhã. A partir de segunda-feira pode entrar uma nova frente fria no Estado.
– Mas essa informação iremos confirmar ao longo da semana. Ainda não temos como prever qual será o comportamento dessa frente fria, pode não chover muito, por exemplo – esclareceu a meteorologista da Epagri Marilene de Lima.
Apesar do tempo chuvoso, a precipitação não tem sido tão constante e em quantidade igual à de 2008, quando choveu em quase todo o segundo semestre, ocasionando a maior tragédia natural do Estado. O major da Defesa Civil informa que monitoramentos estão sendo feitos e que as informações apontam para chuvas dentro e abaixo do esperado para a primavera que começa dia 23 de setembro.
(Por Julia Antunes, DC, 31/08/2011)
Após três semanas, mais uma enchente
Grande parte de Lages ficou debaixo d’água devido às fortes chuvas. Dezenas de ruas ficaram alagadas e muitas famílias precisaram deixar as suas casas. O problema ocorre três semanas após a última enchente. A Defesa Civil estima que 1,5 mil famílias foram atingidas pela chuvarada em Lages.
O município está em situação de emergência desde o dia 9, quando os alagamentos e os deslizamentos atingiram pelo menos 30 dos 68 bairros. Só que agora foi mais grave. No fim da tarde de ontem, a Defesa Civil contabilizou 33 comunidades com estragos, e o decreto de emergência foi atualizado.
A situação começou a ficar crítica na noite de segunda-feira, quando o Rio Carahá transbordou. Ao longo da terça-feira a água baixou em vários bairros, mas começou a subir no Habitação. O Rio Caveiras não dava conta de receber a água do Rio Carahá. A situação mais grave foi no Bairro Boqueirão. Os pais e os irmãos do mecânico Márcio Moreira, 34 anos, foram um dos prejudicados.
– Perdemos móveis, roupas e até de fotografias.
(Por Pablo Gomes, DC, 31/08/2011)
Palhoça teve 40% das ruas alagadas
Moradores de diferentes regiões de SC contam com o acerto dos meteorologistas para voltar à vida normal. A previsão do tempo indica que hoje a chuva, enfim, dará uma trégua. Enquanto isso, a população torce para que os níveis dos rios não subam demais e os alagamentos de ruas não atinjam casas. Na Grande Florianópolis, a madrugada de ontem foi tensa. Em Palhoça, 40% das ruas ficaram alagadas, a região sul da cidade foi a mais atingida.
Na manhã de ontem, alguns moradores do Pontal permaneciam ilhados. Elizângela Leonel Luiz, 25, grávida do terceiro filho, aguardava dentro de casa a chuva parar. A filha mais velha não foi à aula nos dois últimos dias e deve perder a semana escolar.
– Aqui, mesmo que pare de chover vai demorar uns quatro ou cinco dias para poder sair de casa – conta da porta da casa de madeira.
Para conseguir ir para o trabalho, desde o início da semana o marido dobra as calças até a altura dos joelhos e leva os sapatos na mão. A situação é a mesma sempre que chove. Elizângela mora na mesma casa há sete anos e já está até acostumada. Em lugares onde a água não chegou a impedir o acesso o terror das donas de casa é com a umidade. Pisos e paredes ficam molhados e, mesmo tentando secar os cômodos, o trabalho acaba sendo em vão.
Na Grande Florianópolis, o principal problema é o comprometimento da malha viária. A medida que a chuva foi diminuindo, era possível visualizar os buracos. Em Palhoça, parte de uma ponte na Guarda do Cubatão cedeu. Durante a tarde, técnicos faziam a manutenção e não houve necessidade de interdição.
Falta de energia
Apesar de algumas cidades terem ficado sem energia elétrica na noite de segunda-feira, a Celesc não confirma que o problema tenha sido o temporal. O município mais prejudicado foi Laguna, onde 60 mil pessoas ficaram sem luz. O motivo teria sido o rompimento de um cabo. Joaçaba, Lages e Mafra também registraram queda de energia na noite de segunda-feira. Ontem, a situação estava normalizada.
(Por Marjorie Basso, DC, 31/08/2011)
No rastro das águas
As fortes chuvas que castigaram Santa Catarina no início desta semana, atingindo volumes recordes de precipitação em quase todas as regiões, causaram novos prejuízos tanto para a cidadania quanto para os poderes públicos. No rastro das águas deste mês de agosto que hoje chega ao fim e que não deixará saudade , sobraram residências, fábricas e estabelecimento comerciais alagados, deslizamentos, lavouras arrasadas. Também equipamentos públicos essenciais à organização, segurança e bem-estar da sociedade foram danificados ou destruídos pelas chuvas torrenciais que segundo estima a Central RBS de Meteorologia acumularam em torno de 300 milímetros durante o mês, enquanto a média histórica, dependendo da região, oscila de 80 a 130 milímetros.
O tempo pode melhorar a partir desta quarta-feira com a entrada de uma massa de ar frio e seco. Mesmo assim, manda a experiência e recomenda a prudência que não é bom baixar a guarda. Recomendação avalizada pela Defesa Civil. Nessas últimas semanas, o tempo tem sido motivo de preocupação coletiva e assunto de todas as conversas.
Depois do tormento e da tormenta, será a hora de os poderes públicos lançarem-se à recuperação dos estragos causados em equipamentos e serviços essenciais de uso coletivo. Na Grande Florianópolis, sobram calçadas destruídas, crateras nas pistas de rolamento de ruas e rodovias, iluminação pública afetada e escolas e postos de saúde inundados, que precisam ser reparados com urgência. À sociedade cabe vigiar e cobrar para que isto seja feito com a devida presteza.
Ademais, sempre vale lembrar que os efeitos deletérios desses fenômenos climáticos adversos costumam ser ampliados por pessoas que desrespeitam os regulamentos e posturas, atirando lixo nas ruas e cursos de água, bloqueando os dutos de escoamento pluvial e cometendo outros malfeitos que merecem punição.
(Editorial, DC, 31/08/2011)