04 jul Florianópolis, o paraíso da classe A no estado
Pesquisa da FGV mostra que a Capital só perde para Niterói (RJ)no total de famílias da classe social com maior poder aquisitivo
Uma pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas), divulgada nesta semana, expôs uma face do Brasil ainda pouco conhecida. É o mapa das classes econômicas, mostrando como estão distribuídas as famílias ricas e pobres do país. A boa notícia, pelo menos para os catarinenses, é ver na lista Florianópolis posicionada como a segunda cidade com maior percentual da população integrando a classe A. Na Capital, mais de 27,7% das famílias têm uma renda per capita superior a R$ 6,7 mil. A cidade perde apenas para Niterói, no Rio de Janeiro, onde mais de 30% da população faz parte da classe econômica mais alta.
“Florianópolis pode ser vista como o futuro do Brasil: presença forte da classe A e B com pouca desigualdade de renda. Isso ocorre porque, aos poucos, as classes C e D vão sendo alçadas pelo crescimento econômico e geração de emprego”, opina Marcelo Neri, professor da FGV e coordenador da pesquisa.
O resultado não chega a surpreender. Em pesquisa anterior da FGV, Florianópolis já se destacava por ser a capital com maior índice de sucesso de pequenos e médios empresários, elevando a renda da população. “Lembra bastante o modelo europeu”, completa Neri.
A cidade também possui um funcionalismo público de peso, concentrando os setores de administração de estatais e outros serviços, como tribunais de Justiça.
Quem for aprovado em um concurso para trabalhar na esfera federal, por exemplo, pode começar ganhando mais de R$ 6 mil de vencimentos mensais. A própria UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) é um ímã para as classes mais abastadas por dois motivos: pelos salário que proporciona aos professores e pelo conhecimento de mercado que dissemina entre seus estudantes, que no futuro tendem a seguir carreiras consolidadas e com boa remuneração.
“O setor de tecnologia da informação também contribui. São empresas que demandam grandes investimentos e em geral têm remunerações maiores se comparadas a de setores mais tradicionais”, aponta o economista Crisanto Soares Videiro, professor da Univali e consultor financeiro.
Qualidade de vida atrai quem tem poder aquisitivo
Mas não é só isso. Há uma ligação entre presença da classe A e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). As cidades que lideram o ranking divulgado pela FGV têm historicamente bons resultados na avaliação do IDH. Quando uma cidade torna-se boa para se viver, muitas famílias de condições econômicas mais favoráveis sentem-se atraídas, mudam-se para lá e ajudam a encorpar a fatia da sociedade que está no topo da pirâmide econômica, alterando o perfil da cidade.
“A presença da classe A acarreta no aumento de custo de vida na cidade, mas traz benefícios muito bons. Ela exige uma gama de serviços superiores, promove qualificação e valoriza a educação. É uma classe econômica bem exigente”, aponta o professor.
Outra cidade catarinense que ficou entre as 10 da lista da classe A foi Balneário Camboriú. O município do litoral ocupa a oitava posição no ranking nacional e a segunda no estadual.
Produtos e serviços com padrão mais elevado
Para atender essa parcela significativa da população com renda per capita acima de R$ 6,7 mil, a cidade teve de começar a oferecer produtos e serviços diferenciados. Hoje, lançamentos imobiliários, por exemplo, começam a ter preocupação redobrada na qualidade, oferecendo no condomínio espaço gourmet, piscina aquecida, spa e até mesmo vestiário para diaristas. Nos supermercados, há uma oferta maior de produtos premium, como vinhos importados e cortes especiais de carnes.
Outro exemplo é Jurerê Internacional, um polo com hotéis, restaurantes e empreendimentos imobiliários voltados para os mais abastados. Na vida noturna, algumas casas cobram mais de R$ 150 de entrada para os consumidores.
“A presença da classe A traz benefícios para outras fatias sociais. Um prédio de luxo, por exemplo, emprega pessoas das classes B, C ou D. É uma característica que beneficia a todos”, afirma Doreni Caramori Junior, presidente da Acif (Associação Comercial de Industrial de Florianópolis).
Ser reduto da classe A também ajuda a Capital a se destacar no cenário nacional. Hoje, o foco da economia brasileira está voltado para o crescimento das classes C e D, que estão ganhando poder de consumo. Por ser um centro de famílias mais ricas, Florianópolis pode atrair iniciativas diferenciadas, com rentabilidade maior e com mais valor agregado, sendo boa alternativa para investidores.
(Por Daniel Cardoso, ND, 03/07/2011)