Prefeitura ainda não decidiu se recorre da decisão do TCE de licitar os estacionamentos da Aflov

Prefeitura ainda não decidiu se recorre da decisão do TCE de licitar os estacionamentos da Aflov

Segundo procurador-geral do município, Jaime de Souza, se decidir pela concorrência, primeiro passo é regularizar área junto à União
A Prefeitura da Capital ainda não definiu se vai recorrer ou não da decisão do TCE (Tribunal de Contas do Estado) que determina a realização, em seis meses, de licitação para a exploração dos estacionamentos em áreas públicas no Centro da cidade, hoje administrados pela Aflov (Associação Florianopolitana de Voluntários). A associação ocupa os espaços desde 1997 quando recebeu permissão de uso por meio de decreto assinado pela então prefeita Angela Amin.
“Primeiro vamos analisar a determinação do tribunal para saber se recorreremos ou não. Caso não nós não recorrermos, entendendo que o tribunal está com a razão, o caminho não pode ser outro senão iniciar o procedimento licitatório”, afirma o procurador-geral do município, Jaime de Souza, lembrando que o vencedor da licitação não deve ser conhecido no prazo de seis meses.
Durante plenária na quarta-feira (15), os conselheiros do TCE entenderam que o município desrespeito a Lei de Licitações ao permitir que uma associação privada explore serviços em terrenos públicos sem licitação. Além disso, aplicou multas de R$ 3.500 à ex-prefeita Angela Amin e de R$ 3.000 ao atual prefeito Dário Berger, que não interrompeu a autorização irregular.
Jaime de Souza concorda com recomendação do TCE de que a Aflov deixe de ser presidida por primeiras-damas para evitar conflito de interesses em função da proximidade com a prefeitura.
União está disposta a ceder terrenos
De acordo com o procurador-geral, caso o município decida pela licitação vai procurar a União, dona de seis dos sete terrenos ocupados pela Aflov, para regulamentar a permissão de uso da União para o município. Após a prefeitura determinar as regras do edital, seria lançada licitação. Segundo Souza, a Aflov poderia participar da concorrência. Sobre a possibilidade de a prefeitura administrar diretamente os estacionamentos, o procurador-geral entende que “o serviço não é próprio da administração pública” e que “deve ser explorado pela iniciativa privada”.
A superintendente do Patrimônio da União em Santa Catarina, Isolde Espíndola, adianta que a União não tem projetos para a área e, por isso, não seria contrária em ceder o espaço para o município fazer a licitação, desde que a prefeitura solicite a regularização dos terrenos. “É preciso fazer uma discussão com a prefeitura, mas, a princípio, não haveria problema”, observa. Sobre a determinação do TCE de que a permissão de uso seja precedida de concorrência pública, Isolde diz que acha “justa porque dá oportunidade para outras entidades concorrerem”.
Multados pelo TCE
A presidente da Aflov, Carmen Halsey, e a ex-presidente da entidade, ex-secretaria de Assistência Social e ex-primeira-dama, Rosemeri Bartucheski, multada em R$ 2.500 pelo TCE, informaram que não vão se manifestar até a notificação oficial do tribunal. Os ex-secretários de Saúde, Manoel Américo de Barros Filhos e Walter da Luz; além do atual secretário João José Cândido da Silva, também multados pelo tribunal, não foram localizados pela reportagem para comentar o assunto. Contatada pelo ND, a ex-prefeita Angela Amin não deu retorno até o início da noite desta quinta-feira (16).
Entenda o caso
A Aflov foi criada há 30 anos como entidade privada e sem fins lucrativos. A presidência é ocupada pela primeira-dama ou pessoa por ela indicada.
Em 1997, por decreto da prefeita Angela Amin, a Aflov teve a permissão para explorar estacionamentos em sete áreas públicas no Centro da Capital – seis terrenos da União e um do município. Não houve licitação.
Projeto de lei 1.918, do Executivo, que validaria a permissão de uso 179/97, tramitou na Câmara de Vereadores, mas nunca foi aprovado. Foi arquivado em 2005 e sumiu misteriosamente dos arquivos da câmara.
A permissão por decreto municipal não tem valor legal, segundo o procurador-geral do município, Jaime de Souza. A permissão de uso dos terrenos também é questionada pela superintendente do Patrimônio da União em Santa Catarina, Isolde Espíndola, para quem a cessão está “pendente de regularização”.
Atualmente, a Aflov dispõe de 1.947 vagas de estacionamento e cobra R$ 2,50 por hora, com potencial de faturamento mensal de mais de R$ 1 milhão. No entanto, a entidade garante que a arrecadação é de aproximadamente R$ 430 mil mensais porque parte das vagas é ocupada por mensalistas (que pagam um valor mais em conta) e os estacionamentos não permanecem lotados todos os dias.
Por ser entidade privada, não presta contas do que arrecada nem ao município, nem à União, nem ao Tribunal de Contas do Estado. Seu estatuto prevê apenas a necessidade de um balanço anual aprovado em assembleia geral.
Para a ex-prefeita Angela Amin, o decreto de 1997 é legal e transparente.
O Ministério Público do Estado está em processo de análise das contas da Aflov, como faz com todas as entidades do terceiro setor que recebem recursos públicos
A Câmara de Vereadores estuda abrir a CPI da Assistência Social para investigar o setor no município, entre as entidades a serem averiguadas está a Aflov.
Na quarta-feira (15), o TCE apreciou auditoria realizada nas contas da prefeitura, envolvendo a Aflov, e determinou que o município realize licitação para a exploração dos espaços públicos em seis meses. A prefeitura pode recorrer em 30 dias.
Além disso, o tribunal multou sete ocupantes de cargos públicos. A ex-prefeita Angela Amin em R$ 3.500 por ter autorizado a exploração sem licitação e o atual prefeito Dário Berger em R$ 3.000 por ter mantido a autorização irregular.
Dário Berger foi multado em mais R$ 2.500; os ex-secretários de Saúde, Manoel Américo de Barros Filho e Walter da Luz, e o atual João José Cândido da Silva também foram multados no mesmo valor, por terem firmado convênios com a Aflov para contratação de profissionais sem concurso público.
Rosemeri Bartucheski, ex-mulher de Dário Berger, e secretária de Assistência Social e presidente da Aflov na época, foi multada em R$ 2.500 por ter substituído o repasse de 20% dos valores arrecadados pelos estacionamentos ao Fundo Municipal de Assistência Social, previsto no termo de permissão de uso, por fornecimento de materiais e serviços.
O TCE ainda recomendou que a Aflov altere artigo do estatuto que prevê a ocupação da presidência da entidade pelas primeiras-damas “para evitar problemas e empecilhos”
(Por Maiara Gonçalves, ND, 17/06/2011)