16 maio O futuro da Ponta do Coral, Florianópolis
Plano diretor permite edificações de lazer e turismo na região. Hantei pretende investir R$ 275 milhões
O novo empreendimento anunciado pela construtora Hantei, nesta semana, prevê destinar 19.500 metros quadrados na Ponta do Coral para uso público e turístico, como uma continuação da recém-revitalizada avenida Beira-mar Norte. Estão no papel praças, anfiteatro e playground.
Para conquistar a viabilidade de construção, já cedida pela Prefeitura, a Hantei iniciou as tratativas em 2004. Na época, segundo o diretor executivo da empresa, Aliator Silveira, uma audiência pública realizada com a comunidade local e com representantes do governo municipal aprovou o projeto com uma condição: parte da área deveria ser pública. Mas o atual tamanho do terreno, de 14.700 metros quadrados, não viabilizaria o projeto privado associado ao público. Para resolver o impasse, a Prefeitura criou a lei complementar 180/05 aprovando o alargamento do aterro em 50%. Assim, a Ponta do Coral passará a ter 30.000 metros quadrados, dos quais 65% serão destinados para área pública.
Com um investimento aproximado de R$ 275 milhões, o Parque Marinas Ponta do Coral terá um hotel de alto padrão e 1.320 vagas para estacionamento privado. Juntos ocuparão um espaço de 10.500 mil metros quadrados. Já na área pública estarão disponíveis praças, anfiteatro, playground, equipamentos de ginástica para a terceira idade, o museu do pescador – uma embarcação ancorada que será aberta para visitação – e 100 vagas de estacionamento público.
(ND, 16/05/2011)
Vivendo o mar
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 15/05/2011)
Os catarinenses que viveram em Florianópolis na década de 1960 não se esquecem dos cenários. Eles estão imortalizados nas obras de Eduardo Dias e Martinho de Haro. Quase toda a população conhecia o Mercado Público. Para ali se dirigia à procura de peixe fresco. Pescadores ancoravam com lanchas grandes e canoas médias e ali mesmo vendiam o fruto de seu trabalho. O artesanato cerâmico estava espalhado pelo chão, numa vitrina singular, facilitando a escolha e a compra. Aquele pequeno trecho da Baía Sul tinha pelo menos seis trapiches, onde tudo acontecia: dos barcos trazendo pescado e verduras às competições de remo, e o espaço para a pesca de linha ou caniço. Era a área pública mais democrática da bucólica Capital. Mais ao sul, o Veleiros da Ilha, com duas rampas de acesso das embarcações e dois trapiches.
Quadro semelhante registrava-se na Baía Norte. Ali, eram oito os trapiches que permitiam o desfrute das maravilhas do mar. Iam da Praça da Esteves Júnior, na Praia do Müller, até o pontal do Abrigo de Menores, onde a Standard Oil do Brasil entregava o combustível trazido pelo mar. No meio do percurso, entre outros, o trapiche e as duas rampas do Iate Clube de Florianópolis, defronte à Igreja São Luiz. Em quase todos, as bateiras e canoas atracavam para o desembarque de frutas e verduras das comunidades do Norte da Ilha, repetindo uma tradição vinda do Império.
O aterro da Baía Sul tirou o sufoco do Centro de Florianópolis, mas nasceu com um equívoco mortal: na urbanização, “esqueceram-se” de preservar as ligações do homem com o mar. O que se viu foi a deterioração da zona do aterro junto ao mar e seu total esquartejamento, numa omissão criminosa das autoridades. O aterro era para servir ao povo, pretendia ser imitação do Central Park ou do Hyde Park. Virou um amontoado de ônibus, espaço de horrorosos galpões, obras improvisadas e estacionamento particular. O único trapiche ali instalado, na frente do CentroSul, não serve para nada.
Redenção
Quem viaja está calejado de saber que as áreas públicas mais visitadas, tirando os museus e os espaços culturais, são as marinas, os waterfronts e os calçadões junto às águas do mar, rios e lagoas. São centenas, milhares de exemplos pelo Brasil e pelo mundo. Empreendimentos privados servindo ao público, gerando empregos, integrando o homem à natureza para melhor protegê-la.
Bayside, em Miami; Marina da Glória, no Rio; Darling Harbour, em Sydney; Píer 17, em Nova York; Iate Clube de Porto Belo, Auckland, Fischermann Warf de São Francisco, as Ilhas do Caribe, o waterfront de Cidade do Cabo, o colar de marinas da costa italiana, os empreendimentos da Corte d’Azur, são alguns dos milhares de exemplos a revelar que o mar exerce um magnetismo sobre o homem. Quem lá esteve testemunhou pessoalmente. É prova contundente desta realidade mundial que Florianópolis e quase todo o litoral catarinense teimam em ignorar. E quem não os conhece pode acessar a internet. Imagens encantadoras e definitivas.
Vital, portanto, que a sociedade se inteire deste excepcional projeto do grupo Hantei, o Parque Marinas Ponta do Coral. Trata-se de investidor privado para um moderno conceito de uso público que colocará Santa Catarina num outro patamar em termos de lazer e desenvolvimento turístico. O terreno é particular, mas sua destinação diversificada, comercial, cultural e de serviços, transformará uma área abandonada, usada por viciados em drogas, num novo dínamo da economia regional.
A extraordinária paisagem que a natureza proporciona aos seus filhos e visitantes tem contornos e diversificação geográfica ainda mais rica ao redor da Ilha. Só há um meio de possibilitar à população inteira o mesmo direito e o mesmo prazer: empreendimentos náuticos, como trapiches, marinas e ancoradouros, integrando o homem com o mar. Como ocorre no resto do planeta.