28 abr Receita de mobilidade
Entre os problemas que degradam os centros urbanos e deprimem a qualidade de vida dos seus moradores e eles são inúmeros , avultam o da falta de mobilidade e o da inadequação dos sistemas de transporte coletivo. As duas questões estão relacionadas. Nos aglomerados urbanos de maior porte, atualmente, o cidadão, além de passar, em média, deslocando-se de casa para o trabalho quase três horas por dia, gasta mais com transporte do que com alimentação. O problema é mundial, mas em algumas cidades e regiões chegou ao paroxismo, a exemplo de Florianópolis e seu entorno. A Capital dos catarinenses hoje é a cidade brasileira campeã da falta de mobilidade no trânsito, e ainda ostenta o humilhante título de vice-campeã mundial desta modalidade.
Um dos especialistas participantes do Fórum Internacional de Mobilidade Urbana, promovido pelo Ministério dos Transportes e a rede Cities for Mobility em Florianópolis, o inglês Rodney Tolley, a convite deste jornal, avaliou três dos maiores “gargalos” do trânsito local e as medidas anunciadas para saná-los. Com lógica impecável, lembrou que a construção de mais pontes, viadutos, mais duplicações de rodovias e outros projetos são apenas medidas com reduzido prazo de validade, pois em pouco tempo serão superadas pela demanda e o círculo vicioso continuará.
O “xis” da questão – e só não o vê quem não quer – é que não dá mais para “pensar” e investir nas cidades em função dos carros e não da qualidade de vida dos moradores. O uso do transporte individual há que ser desestimulado por todos os meios possíveis. E alternativas confortáveis e eficientes para o transporte coletivo devem ser priorizadas. Uma frase de Mr. Tolley resume tudo: “Aumentar vias e estacionamentos em uma cidade com congestionamentos é como alguém com obesidade afrouxar o cinto em vez de tentar emagrecer.” Com humor britânico, é verdade. O “cinto” da Capital e região sequer tem mais furos para “afrouxar”.
(Editorial, DC, 28/04/2011)