14 mar Vai parar tudo
Da coluna de Moacir Pereira (DC, 14/03/2011)
Está difícil circular pelas ruas de Florianópolis? A mobilidade urbana vira um caos nos feriados? E agora também nos dias normais? Vai ficar muito pior. No ritmo do atual aumento do número de veículos, dentro de pouco tempo não existirão mais estradas para transitar na Ilha de Santa Catarina. É complicado andar de carro em São José? O cenário de futuro próximo também é negro. O mesmo vale para Palhoça e Biguaçu, completando o quadro de múltiplas dificuldades na Grande Florianópolis.
Primeiro dilema, que se agrava a cada mês: o ingresso numeroso de novos veículos para registro no Detran. Segundo, que aumenta o calvário: não há planejamento urbano na maioria das principais cidades para racionalizar o trânsito de veículos, disciplinar a circulação nas áreas de maior concentração e, principalmente, de incentivo ao transporte de massa. Aqui não se cogita nem rodízio de placas. Pedágio na ponte, nem pensar!
De todos os municípios do Estado, o que sofre mais a falta de mobilidade é a Capital. E por motivos simples: a Ilha de Santa Catarina tem limitações geográficas por sua topografia e pelas limitações legais à expansão da malha viária; há uma concentração exagerada no Centro Histórico; o próprio poder público não colabora para desafogar o movimento de veículos na área insular. A concentração de todas as secretarias de Estado na SC-401 só contribui para agravar a situação. Com o Centro Administrativo na área continental seria diferente. E, finalmente, a ausência de transportes de massa.
OS NÚMEROS
Segundo estatísticas do Detran, há cinco anos, os quatro municípios da Grande Florianópolis tinham 303.852 veículos em circulação, entre automóveis, caminhões, caminhonetes, motocicletas, etc. Em fevereiro de 2011, o total de veículos registrados era de 482.530. Nos municípios de Palhoça e Biguaçu, o aumento, em cinco anos, foi de 100%. Palhoça tinha 33.435 unidades e agora tem 67.054, enquanto, em Biguaçu, o total passou de 15.099 para 29.061 veículos. São José contava com 68.154 e agora tem 115.884 veículos. E Florianópolis tem o maior número de veículos: 272.531. Tinha 187.144 há cinco anos. Joinville, a cidade com maior população do Estado, conta, hoje, com 288.775 no total. Mas perde para Florianópolis quando o comparativo inclui apenas o número de automóveis. A Capital tem 189.922 carros, contra 187.117 da Cidade dos Príncipes. Joinville leva vantagem em relação a Florianópolis. A cidade é plana e possui uma estrutura viária muito mais bem planejada.
As motos em circulação nas cidades catarinenses são, também, outro fenômeno. No geral, o número de registros teve aumento de quase 100%. Passou de 20.991 para 36.492 motos em Florianópolis, de 26.640 para 46.644 em Joinville, de 12.326 para 21.812 em São José, de 7.455 para 15.417 em Palhoça e de 3.560 para 7.012 motocicletas em Biguaçu. O entrelaçamento entre a Ilha de SC e os municípios da microrregião, com uma integração de trabalhadores, atividades comerciais e no setor de serviços, além da inexistência de transporte de massa e de transporte marítimo, transforma a Capital numa cidade com acentuada perda da qualidade de vida, sem qualquer mobilidade.
Agrava-se o diagnóstico pela ausência de um debate técnico, sério e participativo de quem poderia dar contribuição. Surgem projetos que logo são descartados, como a ponte estaiada entre a Colombo Salles e a Pedro Ivo ou o túnel submarino. A Câmara Municipal ignora o problema de maior interesse da população, a Assembleia Legislativa tem aqui suas instalações, mas também não está nem aí. E a própria Universidade Federal, que tem massa crítica, mostra-se equidistante.
Ônibus elétrico, trem de superfície e transporte coletivo eficiente são opções inteligentes adotadas no resto do mundo. Aqui, fora de pauta.