Uma afronta à cidadania

Uma afronta à cidadania

Da coluna de Carlos Damião (ND, 25/03/2011)
Greves do transporte coletivo seguem sendo um abuso na Capital, sem que as autoridades façam nada para impedi-las
É muito estranho que, ano após ano, os moradores da Grande Florianópolis tenham que aceitar, passiva e coletivamente, essa anarquia em que se transforma a negociação salarial entre empresários e empregados do sistema de transporte coletivo. Na volta do feriado (24), a população foi surpreendida pela ação de motoristas e cobradores, que paralisaram o serviço pelo período de uma hora. Assim, sem mais nem menos, sem avisar ninguém, de uma forma prepotente, autoritária e ilegal. O curioso é que, do ponto de vista da autoridade, não houve qualquer tipo de manifestação em relação ao caso. Numa prova de que, em Florianópolis, o direito coletivo continua sendo torpedeado e afrontado pelo interesse corporativo e antidemocrático de uma minoria. Não é justo. A massa de cidadãos florianopolitanos não merece ser maltratada dessa forma e, pior de tudo, sem que uma única autoridade constituída diga ou faça algo.
Covardia
É interessante ainda observar, sobre esse “estado de greve” de motoristas e cobradores, que a força pública só é utilizada contra manifestações da sociedade que questionam o aumento das tarifas de ônibus. Alguém por aí já viu a polícia usando tropa de choque para colocar os ônibus parados em funcionamento? Nunca. Quando muito, os coletivos são multados por “estacionamento em local proibido”.
Desobediência
Paralisação-relâmpago, sem aviso prévio, como fazem os motoristas e cobradores de ônibus, é crime contra a ordem pública. Trata-se da mais descarada desobediência civil, que tem de ser punida com o mais absoluto rigor. Chega de impunidade!
Sem cinto
Virou moda em Florianópolis: motoristas e passageiros desfilam pela cidade sem utilizar cintos de segurança. Policiais e guardas municipais não se mexem para multar os infratores. Além de desrespeitar a lei, esses abusados ainda colocam as próprias vidas em risco.
Abandono
Morador de Capoeiras assinala: o viaduto da Via Expressa que divide os bairros Capoeiras e Abraão está abrigando uma verdadeira vila de moradores de rua, que utilizam o local para consumir crack, beber e dormir. Acionada, a Secretaria do Continente deu uma resposta evasiva. “A gente não pode fazer nada, porque eles sempre voltam”.
Donos da…
Flanelinhas vendendo talões de Zona Azul a R$ 5 cada um não chega a ser surpreendente. Faz tempo que a região central da cidade está transformada em terra sem lei. Amigo da coluna flagrou cidadão bem vestido reservando vagas públicas na Praça 15 de Novembro para um bar da Rua Fernando Machado. Ele cobrava R$ 10 dos motoristas que estacionavam.
… cidade
Na mesma região do Centro, uma senhora costuma marcar vagas para dirigentes de uma dessas igrejas evangélicas que se multiplicaram ultimamente pela cidade. Os locais reservados por ela em geral abrigam luxuosos automóveis importados, pertencentes aos pastores que atuam nos templos.
Teoria e prática
Florianópolis vai realizar em 26 e 27 de abril o Fórum Internacional sobre Mobilidade Urbana, promovido pela Shopconsult e pela Rede Mundial Cities for Mobility, com apoio do Governo de Santa Catarina. O interessante é que a mobilidade, enquanto teoria, vai muito bem. Já a prática…
Suplício
“Levei 40 minutos da Chácara do Espanha até a sinaleira da Catedral. Obviamente não tinha nenhum guarda municipal para agilizar o trânsito, mudar o tempo da sinaleira…”. Registro do jornalista Alexadre Gonçalves, em seu twitter (@agenteinforma), sobre o absurdo fechamento parcial da Rua Arcipreste Paiva, na quarta-feira (24) à tarde, para que um guincho pudesse transferir material de construção numa obra particular.
Esclarecimento
A Câmara de São José, ao contrário do que se diz, tem trabalhado bastante desde o início da legislatura, em fevereiro. O presidente Neri do Amaral (PMDB) enviou extenso relatório para apreciação deste colunista. De fato, o que compete à Câmara tem sido realizado.
Mas o presidente da Câmara de São José esclarece e provoca: “O Poder Legislativo pode responsabilizar-se por suas ações, mas não pode criar projetos que exigem dotação orçamentária, nem executar obras. Os vereadores aguardam que o prefeito encaminhe projetos importantes para São José, como o Plano de Cargos e Salários dos Servidores Municipais e o novo Plano Diretor”.
Sucupira…
Não há dúvida que o novo trapiche da Beira-mar ficou um espetáculo, resgatando um espaço que fazia muita falta à comunidade. Agora, o que é inexplicável é o fato de que a placa de inauguração, descerrada no aniversário da cidade, tenha 56 nomes registrados! É uma coisa, digamos assim, bem sucupiriana. Imagine, leitor, como será a placa de inauguração do novo cemitério da cidade, quando este for implantado. Alguém vai fazer questão de ter o nome imortalizado?
… é aqui
E vejam mais esta: na programação de aniversário da cidade constou a “inauguração” da Feira Miramar de Artesanato no Parque de Coqueiros. O detalhe é que a feira já existe há três anos e não havia motivo para “inaugurá-la”. Não bastasse isso, nem prefeito, muito menos representante, apareceu para o tal ato marcado no calendário de eventos. Ninguém entendeu nada.
Nossa cultura
O boi de mamão da Associação Folclórica do Pantanal encantou o público que foi ao trapiche da Beira-mar, no final da tarde de quarta-feira (23), prestigiar as comemorações do aniversário de Florianópolis. Quem assistiu não esquece a beleza do espetáculo, em especial o “nascimento” da bernunça filhote.
Violência
Cena recorrente nos morros da aniversariante Florianópolis: no caso da imagem, o voo rasante do helicóptero da polícia sobre a Vila Cachoeira, entre os bairros do Monte Verde e Saco Grande, próximo ao Centro Administrativo, após tiroteio registrado na tarde desta quinta-feira (24). Aliás, a região, que fica ao lado do gabinete do governador Raimundo Colombo, está se tornando uma das mais violentas da Grande Florianópolis.