Sem união dos poderes públicos, problemas de mobilidade em Florianópolis estão longe de solução

Sem união dos poderes públicos, problemas de mobilidade em Florianópolis estão longe de solução

Falta de planejamento faz com que engarrafamentos como o da noite de terça (1º) sejam cada vez mais frequentes
Enquanto a batata quente da mobilidade urbana da Ilha é jogada de um colo para o outro, em pura demonstração de falta de planejamento e união política entre os governos federal, estadual e municipal, a população vive à mercê de dias caóticos como o da noite de terça-feira (1ª). Pelo Twitter, internautas manifestaram toda a revolta pelo trânsito completamente congestionado resultado de pequenos acidentes que, juntos, travaram a cidade. Pelas ruas, motoristas trancados nas filas e trabalhadores empilhados nos pontos de ônibus.
Não é a primeira vez que um acidente para o trânsito na Capital, nem que se cobra soluções de mobilidade, tampouco que se pede melhorias no transporte coletivo, mas quase nada se vê na prática. “Enquanto a União e o Estado continuarem se omitindo não haverá solução. A prefeitura não consegue resolver sozinha”, defende o presidente do Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis), Átila Rocha dos Santos.
Segundo ele, é preciso planejamento, mas isso não significa trabalho exclusivo do Ipuf. “O Estado tem sido omisso por muito tempo. O último grande planejamento viário na região foi feito em 1960. A principal rodovia estadual da Capital, a SC-401, espera há 13 anos pelo fim da duplicação. A principal rodovia federal que nos atende, a BR-101, ainda não foi duplicada”, observa. “Nós temos feito obras em pontos de estrangulamento, como o elevado da Seta e do Rita Maria, mas enquanto a opção for pelo automóvel não há solução que resolva o problema”, afirma.
“A solução é tirar o carro da rua e implantar um sistema de transporte público de altíssima qualidade. Precisamos transportar pessoas e não veículos”, ressalta o engenheiro e professor do Departamento de Automação e Sistemas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Werner Kraus Junior, para quem as obras viárias não resolvem a questão. “Apenas transferem o ponto de estrangulamento. Não há mais capacidade viária para o número de veículos na cidade”.
Aos motoristas, paciência
Os motoristas que permaneceram por horas nas filas se deparavam com uma questão, até o momento sem resposta: até quando pequenas colisões provocarão grandes congestionamentos na cidade? Para Policia Militar e Guarda Municipal não há solução sem alterar a estrutura da malha viária, restando como única saída a paciência.
“Nessa ocasião fizemos o que estava a nosso alcance. Só podemos sinalizar, orientar e liberar pistas. Desvios, troca do fluxo dos semáforos entre outras providências devem ser tomadas pela prefeitura”, afirma o comandante do 4° Batalhão da PM, tenente-coronel Carlos Alberto de Araujo Gomes. “A saturação do número de veículos pelas ruas aliada às vias estreitas, algumas, sem alternativa de desvio como as pontes Colombo Salles e Pedro Ivo, não nos fornecem muitas saídas. Há pouco o que se fazer na Capital com a realidade que temos”, diz.
Para o diretor da Guarda Municipal, Ivan Couto, “não há como fazer grandes mudanças”. “Só podemos sinalizar, orientar e tentar encontrar desvios, mas nessa terça-feira até eles estavam congestionados. Resta aos motoristas a paciência e mesmo diante de situações extremas seguir o Código Brasileiro de Trânsito para não complicar ainda mais a situação, delicada e complexa” (Aline Rebequi).
Integração zero
De acordo com Werner Kraus Junior, a implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transport), é a opção mais “rápida e barata” e só não foi colocada em prática ainda por “falta de vontade política”. Ele destaca ainda a importância se de pensar em um sistema de transporte metropolitano e integrado, envolvendo todas as prefeituras da Grande Florianópolis, mas com horários adequados e sem tantas baldeações.
Os usuários também querem mais planejamento. Para o vendedor Marcelo Sena, 43, que esperou durante uma hora e trinta minutos um ônibus na rodovia SC-401 na noite de terça, os consertos de pistas e demais estruturas devem ser realizados somente à noite e os veículos envolvidos em acidentes retirados da pista com mais agilidade. “Eles precisam ter consciência de que as pessoas têm seus compromissos e não podem ficar presos no trânsito desse jeito”, reclama (colaboração Anita Martins).
Entenda o Caso
* Após as 16h de terça (1º), o trânsito travou nas principais vias da Capital depois de uma sequência de acidentes. O primeiro na ponte Colombo Salles envolvendo um motociclista. Filas se formaram até as proximidades do supermercado Angeloni, na avenida Beira-mar Norte. O problema logo foi sentido no Ticen (Terminal de Integração do Centro).
* Às 17h, mais dois acidentes são registrados na avenida Gustavo Richards, em frente ao Centrosul. O trânsito no túnel Antonieta de Barros travou. Na sequência um motorista da Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital) perde o controle de um caminhão e colide com o guard-rail da rodovia SC-401, no sentido Centro/Norte, provocando ainda mais filas.
* O dia 1º de março de 2011 não foi o único em que a Ilha parou. Em 1994, caminhão de lixo tipo caçamba, com seis metros e capacidade para transportar até 25 toneladas, tombou na entrada da ponte Colombo Salles, formando um “L” na pista, além de espalhar toneladas de lixo e chorume. A Colombo Salles foi totalmente interditada. Na Pedro Ivo, só havia uma pista liberada e durante três horas ninguém saiu da Ilha. No Centro, o trânsito parou e a fila foi se formando ao longo da Via Expressa e chegou à BR-101.
(Por Maiara Gonçalves, Notícias do Dia, 03/03/11)