População de Florianópolis pode ficar sem transporte a qualquer momento

População de Florianópolis pode ficar sem transporte a qualquer momento

Depois de um ano marcado por um acordo sem greve, a ofensiva do sindicato laboral em 2011 iniciou antes do período legal previsto em lei
Motoristas e cobradores do sistema de transporte coletivo de Florianópolis interromperam, sem aviso prévio, o fluxo de ônibus no Ticen (Terminal Central) durante uma hora na manhã de ontem. Após decretar estado de greve em duas assembleias, das 10h30 às 11h30 desta quinta-feira (24), centenas de pessoas ficaram sem o serviço de transporte.
O estado de greve decretado prevê paralisações do transporte público mais vezes, e sem aviso prévio. “Amanhã (sexta) ou segunda, por exemplo, podemos parar novamente”, diz Deonísio Linder, secretário de finanças e assuntos jurídicos do Sintraturb (Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Urbano) de Florianópolis. O objetivo é estabelecer uma “jornada de lutas” a favor da campanha salarial 2011, porém o protesto organizado ontem foi antecipado no calendário da convenção coletiva, cuja data base é fixada em maio.
Com o fechamento das entradas e saídas de ônibus, os passageiros que chegavam à região central precisaram desembarcar no meio do caminho e do trânsito movimentado do Centro. Já quem estava dentro do Ticen, pretendendo embarcar, precisou ter paciência para esperar uma hora até o retorno do serviço. “Enquanto não houver licitação ou uma drástica mudança no transporte nós é que pagaremos a conta”, diz o passageiro Marco Silveira, que esperava embarcar no ônibus que o levaria até o Pantanal.
Pauta exige melhores condições de trabalho
De acordo com Linder, este ano a categoria dos trabalhadores não está focada na área financeira, mas nas condições de trabalho. A mais importante delas, segundo ele, é a redução da jornada de 6h40 para 6h de trabalho e o fim da jornada de três horas. “Na terça-feira, tivemos uma reunião com os patrões e as negociações foram encerradas com muita provocação na mesa. A categoria não aceita esta posição. Por isso foi aprovada a jornada de lutas, assim não deveremos ter greve por tempo indeterminado, mas paralisações parciais e temporárias a qualquer dia ou hora”, explica.
Os trabalhadores do transporte coletivo da Capital ainda pedem o reajuste salarial relativo à inflação do período mais 5% do aumento real. Segundo Linder, o valor do ticket alimentação, que hoje é R$340, também está sendo discutido e a intenção é que passe a valer R$380. A categoria ainda pede a volta do anuênio, benefício perdido na greve de 1998.
Retrospectiva
Depois de um ano marcado por um acordo sem greve, a ofensiva do sindicato laboral em 2011 iniciou antes do período legal previsto na legislação trabalhista.
2011
– Já em março, trabalhadores dizem estar “focados não na área financeira, mas nas condições de trabalho” e paralisam o transporte coletivo antes do período de convenção coletiva (maio). Ameaçam ainda manter “paralisações parciais e temporárias a qualquer dia ou hora”.
2010
– Rodadas de negociação alcançam números positivos de reajuste (vale-alimentação, salário e participação nos lucros), e sindicato dos trabalhadores fecha a convenção coletiva sem greve.
2009
– Houve pelo menos quatro paralisações no ano, uma delas chegando a 33 horas.
– Mais de 15 ônibus foram danificados a pedradas e pauladas durante tumultos de grevistas.
– Trabalhadores reivindicavam estabilidade de emprego para os cobradores; Setuf condicionou reajuste de 7% nos salários ao reajuste da tarifa em R$ 0,15. Também condicionou o aumento em R$ 310 no vale-alimentação ao subsídio pago pela prefeitura (R$ 0,12 por passageiro, aproximadamente R$ 550 mil por mês nos cofres municipais).
2008
– Greve durou 37 horas.
– Empresas ganharam por meio do Legislativo municipal um subsídio de cerca de R$ 550 mil mensais, aprovado na noite do dia 2 de julho na Câmara de Vereadores, em “regime de urgência urgentíssima”.
Voz do povo
Leitores do ND Online repercutem a disputa antecipada entre patrões e empregados do transporte coletivo.
“R$380,00 de Vale Alimentação é um abuso. Os funcionários do Estado ganham 126,00 (6,00 por dia) há mais de 100 anos!” – Felipe
“Todo ano é a mesma ladainha! Florianópolis já se cansou dessa balela todo o ano. Se vai aumentar a passagem, aumenta logo, deixa de enrolação, prefeito! Os usuários que se danem, como sempre!” – Jorge Nereu
“A população inteira de uma cidade não pode se tornar refém de uma categoria profissional. Quando vai se tomar uma atitude com relação a isto? Licite-se, proíba-se a greve, instaure-se sindicâncias. Faça-se alguma coisa.” – Marcelo Billes
“A passagem ainda nao aumentou [a passagem] para colocar os passageiros contra os trabalhadores. Ele [o prefeito] já liberou o aumento, mesmo assim os empresários ficam jogando…” – Alex.
(ND, 25/03/2011)
Paralisações serão sem aviso prévio
Transporte coletivo será suspenso, hoje, entre 30 minutos e uma hora
Se você depende de ônibus, é melhor sair um pouco mais cedo de casa hoje. Sem aviso prévio, trabalhadores do transporte coletivo da Grande Florianópolis entraram em estado de greve e fizeram a primeira paralisação-relâmpago do serviço, ontem, entre 10h30min e 11h30min.
Na plataforma A do Terminal Integrado do Centro (Ticen) houve um princípio de tumulto por parte dos usuários, que se indignaram, pois não foram avisados sobre a parada. Eles ameaçaram pular as catracas de entrada. Viaturas da PM cercaram a área para acompanhar a movimentação, enquanto os ônibus ficaram estacionados no entorno do terminal. O que mais se ouvia na plataforma eram reclamações dos usuários que perderam compromissos. Sob gritos de protesto, as catracas foram liberadas.
Motoristas e cobradores montaram uma tenda na Praça das Nações, no Centro da Capital, para realizar assembleias. Ontem, foram duas, às 9h30min e 15h30min. Segundo o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Urbano de Passageiros da Região Metropolitana (Sintraturb), Ricardo Freitas, neste ano as paralisações serão curtas, de 30 minutos a uma hora, e fora de horários de pico, ao contrário de anos anteriores, e devem continuar hoje.
A principal reivindicação do sindicato é a redução da jornada de trabalho de seis horas e 40 minutos para seis horas diárias, com a manutenção do salário. O sindicato pede, também, aumento do vale-alimentação, de R$ 340 para R$ 380, além de uma revisão geral do texto da convenção coletiva. A categoria tem cerca de 5 mil funcionários na região, e destes, 4 mil são motoristas e cobradores.
Sindicato quer o fim da jornada de três horas
A entidade também quer acabar com a jornada especial de três horas, realizada por alguns trabalhadores em horários de pico. As empresas têm um limite de 15% dos funcionários para este tipo de contrato. No entanto, de acordo com o sindicato, algumas empresas trabalham com índices que chegam a 45%.
Cerca de 400 motoristas e 400 cobradores trabalham no regime de três horas (regido pela CLT, com salário proporcional). Por meio de nota, o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros de Florianópolis, Waldir Gomes, afirmou que a extinção do turno de três horas acarretará em um custo ainda maior para o sistema. Isto porque os funcionários que atualmente trabalham apenas três horas passariam a cumprir o horário integral e com salário maior. O dirigente afirma que o sistema está financeiramente saturado há anos.
– Temos um prejuízo mensal que vai de R$ 900 mil a até R$ 1,5 milhão e não suporta mais nenhum tipo de aumento de custos sem repasse à tarifa – alega.
Segundo Gomes, a convenção coletiva segue em vigor até o dia 30 de abril e paralisações como a de ontem são intempestivas e fora de qualquer legalidade.
O vice-prefeito e secretário de Transportes da Capital, João Batista Nunes, ficou surpreso com a paralisação. Na próxima semana, ele pretende se reunir com representantes do sindicato patronal e dos trabalhadores para encontrar um consenso.
– Não se pode regredir. Não podemos colocar em risco a cidade por causa de questões trabalhistas.
Segundo João Batista, a tarifa deve aumentar neste ano, porém, apenas a reposição da inflação. O reajuste da tarifa já foi autorizado pelo Conselho Municipal dos Transportes e depende do aval do prefeito Dário Berger. Com isso, o valor pago com o cartão passaria de R$ 2,38 para R$ 2,54.
JOÃO BATISTA NUNES
Vice-prefeito e secretário de Transportes
“Não se pode regredir. Não podemos colocar em risco a cidade por causa de questões trabalhistas.”
(DC, 25/03/2011)