As perspectivas do mercado de reciclagem de resíduos sólidos em Florianópolis

As perspectivas do mercado de reciclagem de resíduos sólidos em Florianópolis

Mercado com potencial de crescimento na Grande Florianópolis, a reciclagem e comércio de resíduos sólidos ainda não recebe a atenção que merece. Para entender melhor sobre o assunto, foram coletadas diferentes opiniões: por que não há mais investimentos para o setor?

Os galpões da ACMR recebem por mês mais de 600 toneladas de resíduos sólidos, entre latinhas de alumínio, garrafas PET, papéis de escritório e papelão, vindos de toda Florianópolis, e que movimentam por mês mais de R$ 20 mil. Atualmente, a coleta é feita por caminhões da prefeitura.

A Lei Nacional de Resíduos Sólidos, sancionada em agosto de 2010, obriga todas as cidades a se adequarem à cadeia de produção, coleta, triagem e tratamento dos resíduos. Isso significa que os catadores, comuns à paisagem urbana da capital, devem estar fora de circulação.

Segundo o Portal Economia SC o gerente do Departamento de Coleta de Resíduos Sólidos da Companhia de Melhoramentos da Capital, Paulo Pinho afirma que a prefeitura tem feito a sua parte. “Após a aprovação da Política dos Resíduos Sólidos, temos trabalhado para atender todas as ruas da cidade” explica. “Contamos com a cooperação de duas associações de catadores, são mais de 800 toneladas de resíduos coletados e esse número tende a crescer. Queremos trabalhar não apenas na questão da coleta, mas também da educação para a reciclagem do resíduo” afirma.

Dados de 2010 da própria Comcap revelam que no ano de 2010 mais de 90% da população da Capital possui acesso à coleta seletiva. Calcula-se que apenas na grande Florianópolis o volume mensal de resíduos recicláveis ultrapasse mais de 1 milhão de toneladas por mês. Contudo, nem todas as cidades seguem o exemplo de Florianópolis e muitas não possuem a coleta seletiva em todos os bairros, muitas vezes terceirizando a coleta e reciclagem do pouco que é coletado.

“Mercado só tem desperdiçado”

“É um mercado que só tem desperdiçado” revela Rodrigo Sabatini, proprietário da NovoCiclo, empresa que trabalha no recolhimento e triagem de resíduos sólidos e na reeducação social acerca do material reciclável. “Quando eu falo de desperdício, não falo apenas dos vários mil reais que estão indo, literalmente, para o lixo. Falo, principalmente do capital humano. Muitas pessoas com potencial estão por aí catando material e ganhando muito pouco. A questão do resíduo é cara para a sociedade e ela não olha para os catadores com justiça” explica Rodrigo.

Com 10% do seu quadro formado por ex-catadores, a NovoCiclo conta com uma estrutura de coleta dos resíduos e reeducação social no bairro de Coqueiros. Luciana do Nascimento, funcionária da empresa, coordena o Espaço Recicle, onde os moradores do bairro podem trocar resíduos sólidos por uma pontuação, que pode ser trocada novamente por produtos feitos a partir de materiais recicláveis.

“As pessoas ainda estão chamando resíduos sólidos de lixo” lamenta Luciana. “Lixo é aquilo que é completamente inútil pra você. Mas quando você compra um produto onde a embalagem pode ser reutilizada, você possui um resíduo do que consumiu. A questão da produção da indústria hoje em dia é residual: temos ‘sobras’ de tudo que consumimos e podemos fazer muito com elas” completa.

Mestranda do programa de Pós-Graduação do curso de Engenharia Sanitária da Universidade Federal de Santa Catarina, a bióloga Naiara Ramos pesquisa atualmente o cotidiano de catadores de material reciclável para o desenvolvimento de um novo veículo para catadores de todo país.

“Trabalhamos para promover melhorias para os catadores, através do desenvolvimento de um carrinho motorizado” explica Naiara, apontando logo depois para uma série de gráficos na tela do computador. A pesquisa do Laboratório de Resíduos Sólidos da UFSC já entrevistou mais de duzentos catadores de material reciclável com a ideia de desenvolver um carrinho motorizado para catadores.

Josué dos Santos é carroceiro e catador de materiais recicláveis em Palhoça. Com uma renda de cerca de R$ 500 por mês, entende que faltam investimentos por parte do poder público e dos empresários para fazer o mercado dos resíduos sólidos crescer.

A falta de mais investimentos no ciclo dos resíduos sólidos tanto por parte dos empresários, quanto do governo ou da sociedade civil leva todos os lados a consequências negativas: menos resíduos reciclados, mais resíduos jogados na natureza, menos pessoas empregadas, menos capital girando.

Para Alexandre Siqueira, que hoje trabalha como secretário e coordenador de triagem na ACMR, há vários tabus a serem vencidos no setor. “Não há linhas de crédito específicas, perdemos muito na mão dos atravessadores, que só tem o trabalho de levar o resíduo triado para a fábrica. Hoje metade da ACMR trabalha com carteira assinada, mas o número poderia ser muito maior se houvesse mais incentivos nesse setor” adverte.

(EconomiaSC, 28/02/2011)