14 fev Travessia embaixo d’água: opção de nova ligação Ilha-Continente seria túnel subaquático
Paralelo ao projeto do Deinfra, de fazer ponte estaiada, Prefeitura de Florianópolis pensa em um túnel no fundo do mar
O projeto do Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura de Santa Catarina) de construir a quarta conexão entre Ilha e Continente, por uma ponte estaiada entre a Colombo Salles e a Pedro Ivo, conforme a reportagem do Notícias do Dia mostrou no fim de semana, não é a única opção para a nova ligação. Em paralelo, a Prefeitura da Capital desenvolve o projeto de um túnel subaquático que ligaria as avenidas Beira-mar Norte e Beira-mar Continental, o chamado Eixo-Norte, com integração de uma avenida em Barreiros para acesso direto à BR-101 na altura do bairro Serraria, em São José.
De acordo com o secretário de Obras da Capital, Luiz Américo Medeiros, a construção no local seria uma alternativa para desafogar o trânsito hoje concentrado nas pontes que desembocam na BR-282 e na Ilha. “Não queremos ficar inteiramente dependentes da Via Expressa que já está saturada”, explica Medeiros. A Prefeitura de Florianópolis estuda duas possibilidades de nova conexão, o túnel subaquático e uma nova ponte, ambas ligando as avenidas, mas o prefeito Dário Berger já deixou clara a inclinação pela primeira opção.
“Precisamos urgentemente de uma alternativa. A ideia do túnel é minha. Ele tem um menor impacto na paisagem, é uma obra mais rápida, mais barata e com pouco impacto ambiental. Se eu fosse governador seria minha obra prioritária”, afirma Berger. O prefeito não desqualifica o projeto do Deinfra, mas acredita que ele peca por não retirar o trânsito pesado da Via Expressa. Por isso, defende que a quarta ligação seja em outro eixo. “Não é (o do Deinfra) o projeto ideal”, avalia Dário Berger.
O município já realizou uma avaliação inicial sobre os custos de se construir um túnel ou uma ponte entre a Beira-mar Norte e a Beira-mar Continental. Segundo o secretário de Obras, o túnel custaria em torno de R$ 149 milhões, enquanto a ponte sairia pelo valor de aproximadamente R$ 338 milhões. Para executar todas as obras viárias no entorno, seriam necessários mais R$ 450 milhões, independentemente se a opção for pelo túnel ou pela ponte.
Manutenção de ponte é mais barata
O pré-orçamento apresentado pela prefeitura, que aponta vantagem financeira na opção pelo túnel, não leva em consideração os custos de manutenção. Segundo o secretário Luiz Américo Medeiros, é certo que a manutenção de um túnel, em comparação a uma ponte, é mais alta. “A viabilidade econômica ainda será estudada”, pondera.
Conforme o secretário, embora a prefeitura prefira o túnel, a decisão final sobre o que será construído depende das parcerias que o município conseguir viabilizar, tarefa assumida pelo prefeito Dário Berger. “Se encontrarmos parceiros que invistam no túnel, faremos o túnel. Se encontrarmos parceiros que apenas queiram investir em ponte, faremos uma ponte”, ressalta Medeiros.
Em ambos os casos, o secretário prevê que se leve de dois a três anos para agilizar toda a parte burocrática, com desenvolvimento de projetos, licenciamentos e captação de recursos. O prazo de execução da obra está avaliado em mais de três anos. Portanto, em menos de cinco anos a obra não seria inaugurada. Ou seja, a população ainda tem um longo tempo para ficar trancada em congestionamentos.
Para Deinfra, um projeto complementa o outro
Para o presidente do Deinfra, Paulo Meller, que desenvolve o conceito de uma nova ponte, do tipo estaiado, para ligar a Ilha ao Continente, os projetos do departamento e do município não são opositores. “Um não inviabiliza o outro, pelo contrário, um complementa o outro”, pontua Meller.
No entanto, a possibilidade de uma quinta conexão – ou seja, a construção da ponte e do túnel ao mesmo tempo – está descartada, segundo o prefeito Dário Berger. Conforme ele, a decisão final ainda cabe ao Estado e, se a opção for pelo projeto do Deinfra, a prefeitura não bancará a ideia do túnel sozinha.
“Antes ter o acesso do Deinfra do que não ter nada. Nesse caso, o Estado teria o meu apoio (pela construção da ponte)”, analisa Berger, ressaltando que, sem auxílio do governo, o município não disporia de recursos para a execução das obras do túnel.
Exemplos pelo mundo
De acordo com o prefeito Dário Berger, o projeto de túnel subaquático não está baseado em uma obra específica semelhante, mas é fruto da experiência que se tem com túneis na Europa, por exemplo. Atualmente, a Coreia do Sul constrói um túnel submerso para interligar a cidade de Busan e a ilha Geoje. Serão posicionadas, a 48 metros de profundidade, 18 células pré-fabricadas de concreto, com 180 metros cada uma para completar 3,2 quilômetros de túnel que integra o projeto com 8,2 quilômetros de extensão. O custo será de 5,8 bilhões de dólares (R$ 9,8 bilhões).
Em São Paulo, o ex-governador José Serra havia anunciado, em janeiro de 2009, que construiria um túnel para ligar as cidades de Santos e Guarujá. Inicialmente, havia receio de construir uma ponte em função da navegação do porto de Santos. Em maio do mesmo ano, o governo paulista voltou atrás e divulgou a opção pela construção de uma ponte estaiada, com altura na linha d’água de 70 metros. A mudança de planos se deu em função do orçamento. Segundo estudo da Prefeitura de Santos na época, o custo de um túnel na região seria cinco vezes superior ao de uma ponte (que é de R$ 500 milhões), chegando ao valor de R$ 2,5 bilhões de reais.
SAIBA MAIS
* Túnel subaquático: R$ 149 milhões
* Ponte estaiada: R$ 338 milhões
* Obras viárias no entorno: R$ 450 milhões (independentemente se a opção for túnel ou ponte)
* Com extensão de 1.050 metros, o túnel seria formado por dez células, pré-fabricadas com concreto especial, de 105 metros de comprimento por aproximadamente 20 metros de largura (a espessura das paredes seria próxima de um metro).
* Seriam seis pistas de rolamento (três em cada sentido). A ideia é que uma das três pistas de cada lado fosse exclusiva para ônibus.
* Haveria uma ciclovia e uma pista para pedestre
* As células seriam conduzidas até um dique na baía Norte. Com o alagamento do dique, cada célula seria transportada até o fundo da baía (cerca de 15 metros), através de rebocadores.
* No fundo do mar, uma espécie de pista já estaria preparada para acomodar as cápsulas.
* Uma a uma, as peças seriam soldadas para formar o túnel.
(Por Maiara Gonçalves, ND, 14/02/2011)