Campeche prepara-se para receber multidão em show do Ben Harper no Riozinho

Campeche prepara-se para receber multidão em show do Ben Harper no Riozinho

Antes da emissão das licenças ambientais, a empresa organizadora deve realizar ajustes para garantir preservação de restinga no terreno

A Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) realizou vistoria ontem à tarde no Point do Riozinho, na praia do Campeche, local que deve receber os shows do cantor californiano Ben Harper, de Donavon Frankenreiter e Tom Curren. O órgão precisa emitir licença ambiental para que o evento possa ser realizado no próximo sábado (5), mas, segundo técnicos, muitos ajustes devem ser feitos para garantir que a área de preservação permanente não seja prejudicada.

Segundo o diretor superintendente do órgão, Gerson Basso, o Plano de Gestão para o evento foi apresentando apenas no dia 28 de Janeiro, mas, mesmo com o prazo curto, é possível que o resultado do laudo técnico fique pronto até hoje. O diretor de fiscalização da Floram, Bruno Palha, afirma que a empresa deverá delimitar as áreas de restinga e manter a proteção do curso d’água. Além da implantação de obstáculos físicos para proteção das dunas, a Floram pede a presença de pessoas da empresa promotora para reforçar a proteção da vegetação. Os técnicos da Floram ainda exigiram que seja garantido o acesso livre à orla marítima e que a empresa garanta a limpeza da praia antes e após o evento.

Ocorrendo qualquer tipo de degradação ambiental a empresa será responsabilizada pela Floram, sendo obrigada a implantar um Plano de Recuperação de Área Degradada. De qualquer forma, mesmo sem a licença ambiental, a estrutura para a apresentação está quase pronta. Estão em fase final de montagem o palco, os camarins, os camarotes, os banheiros e as cercas para evitar a destruição da vegetação de restinga que cerca o terreno onde o evento deve ser realizado.

Limite de público

O limite de público ainda não foi definido pelo Corpo de Bombeiros. Segundo o capitão Charles Alexandre Vieira, a empresa organizadora do evento ainda não entregou o projeto preventivo para o show. “Dessa maneira não temos como avaliar a possibilidade de o evento acontecer. Um engenheiro já veio conversar conosco, mas só poderemos fazer a vistoria mediante um projeto especificando saídas de emergências, espaço, expectativa de público, entre outros. Se até no máximo quinta-feira eles não entregarem, teremos que procurar o Ministério Público e o show pode ser cancelado”, explica. A organização espera autorização para, pelo menos, oito mil pessoas.

Hoje, segundo vice-prefeito de Florianópolis, João Batista Nunes, uma reunião entre todas as partes envolvidas deve definir esquemas de policiamento, trânsito, transporte coletivo, entre outros, na presença do prefeito Dário Elias Berger. “Gostaríamos que as pessoas entendessem que é um evento que muitas cidades gostariam de receber. É uma agenda positiva para a cidade. Por isso, todos os problemas serão discutidos, juntamente com a comunidade, para garantirmos acessibilidade e segurança para participantes e moradores”, diz.

Show traz alegria aos comerciantes e moradores, mas também preocupa

Independente do número, uma multidão irá ao Campeche assistir ao show. Esse movimento está animando os comerciantes da região. O dono de uma tenda na praia Felipe Guilherme, 30 anos, espera lucrar mais que no Ano Novo. “No Revéillon, as pessoas trazem bebida de casa. Em show, não é assim”, diz. Para ele, além dos ambulantes, quem tem casa ou pousada no Campeche também vai ganhar.

O serralheiro Daniel Mansur, 22 anos, que está de férias, vai usar o jardim da sua residência como estacionamento. “Devo cobrar uns R$ 30 por carro, mas também vou ficar de olho no preço que os outros moradores vão colocar”, revela. Na semana passada, quando a banda Dazaranha se apresentou no local, Daniel diz que não havia carros parados nas ruas. “Mas só porque estavam multando. Acho que agora, que vai vir mais gente, vai ter.”

Porém, quando a votação do Praia Skol Music foi feita pela internet, a maior parte das pessoas achou que o show seria na areia da praia, totalmente aberto para a população. O que se revelou, depois, foi que a apresentação seria em um terreno privado, com número limitado de convites gratuitos distribuídos. “Eu votei em outra ideia, não nessa, que não é democrática”, reclama o professor da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) José Cury, 58 anos.

O embaixador da Skol em Florianópolis e um dos proprietários do Point do Riozinho, Marcos Santos, explica que, inicialmente, a intenção era fazer o evento na praia. “Mas, como o mar do Campeche é bravo, ficamos com medo de montar tudo e uma ressaca levar”, diz. Por conta da impressão de que o show será na praia, frequentadores do local temem que a quantidade de pessoas supere, em muito, a previsão de oito mil. “Vão vir umas 100 mil pessoas. É claro que vai ter impacto ambiental, que vai ter gente em cima da vegetação de restinga que ainda resta aqui”, comenta o funcionário público Ernon Vieira, 55 anos.

A comerciante Beatriz Trivella, 56 anos, ressalta que pessoas de outros lugares do Brasil virão para o evento. “A minha filha, que mora em Campinas, estava planejando vir com uns dez amigos. Mas agora vou avisar a ela que o evento não vai ser na areia, e sim em um local fechado”, conta. Foi cogitada a possibilidade de se colocar dois telões na praia para quem não conseguisse entrar. Porém, a Polícia Militar desautorizou a ação por questões de segurança. A produção do show afirma que está sendo divulgada a informação de que só será possível entrar com o ingresso adquirido antecipadamente e que não acredita que as pessoas possam aparecer no local sabendo que não conseguirão assistir ao evento.

Ingressos devem ser retirados quinta, sexta e sábado na Passarela Nego Quirido

Para conseguir um ingresso para o show no Point do Riozinho é preciso cadastrar-se no site http://www.skol.com.br/praiaskol. Para cada CPF será autorizada a reserva de apenas dois convites. Um e-mail com uma senha e um código de barras será enviado para o usuário, que deve imprimir essa mensagem e levá-la, juntamente com um documento e dois quilos de alimentos não-perecíveis, à Passarela Nego Quirido. A entrega dos ingressos será feita na quinta e sexta-feira, das 9h às 21h, e no sábado, das 8h às 12h. A organização do evento alerta que na hora e local da apresentação não será possível pegar os ingressos, nem que a pessoa tenha todos os itens necessários em mãos.

Manifestantes vão à Câmara de Vereadores pedir cancelamento do show

Cerca de 30 pessoas, todos moradores de Sul da Ilha, foram à Câmara de Vereadores na noite de ontem pedir explicações sobre a autorização do show que deve acontecer no Campeche, neste final de semana. Segundo uma das manifestantes, membro do movimento Campeche Qualidade de Vida, Elaine Tavares, um mega show pode levar mega empreendimentos ao bairro. “Nós não queremos isso. O Campeche está virando um Ingleses ou uma Canasvieiras. Ele é um bairro residencial que só pode receber prédios com no máximo dois andares. Mas isso está saindo do controle”, comenta. Para ela, a dúvida está no fato de que nenhum dos movimentos organizados do bairro foi notificado sobre o evento. “Queremos saber quem autorizou a empresa a fazer o show ali. Não há qualquer alvará e a área é de ecossistema frágil. O Campeche não tem estrutura para receber um evento como esse”, afirma.

(Emanuelle Gomes, ND, 02/02/2011)

Autorização para show de Ben Harper será concedida após ajustes

Plano de Gestão apresentado a Fundação Municipal de Meio Ambiente deverá sofrer adequações

Servidores da área técnica da Fundação Municipal de Meio Ambiente estiveram durante a tarde desta terça-feira realizando vistoria na área territorial (Bairro do Campeche – zona sul de Florianópolis), onde poderá ser realizado o show internacional do californiano Ben Harper. Esta vistoria teve como finalidade analisar as áreas de preservação permanente do entorno do evento.

Segundo o diretor superintendente Gerson Basso o Plano de Gestão foi apresentando no dia 28 de Janeiro para um evento que se realizará no dia 05 de Fevereiro. “O prazo é curto, estamos fazendo todos os esforços para entregar o resultado do laudo técnico até quarta-feira, para que os organizadores façam às alterações necessárias e o ambiente de restinga próximo a área do evento não seja danificado”.

O diretor de fiscalização Bruno Palha afirma que após ter acesso ao laudo técnico notou pontos a serem adequados e irá chamar integrantes da organização para que promovam as mudanças necessárias, delimitando as áreas de restinga, e mantendo a proteção ao curso d’água. Além da implantação de obstáculos físicos para proteção da vegetação fixadora de dunas a área técnica impôs a presença de pessoas da empresa promotora visando reforçar a proteção da vegetação.

Os técnicos da Floram exigiram da empresa organizadora que seja garantido o acesso livre e franco a orla marítima, tendo em vista que a praia é de uso comum do povo. Neste sentido também está sendo exigido a implementação de procedimentos que garantam a limpeza da praia antes, durante e após o evento.

Ocorrendo qualquer tipo de degradação ambiental a empresa será responsabilizada pela Floram, sendo obrigada a implantar um Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).

Mantido o cronograma da área técnica da Floram será realizada nova vistoria técnica para verificação do cumprimento das condicionantes ambientais impostas.

Informações técnicas

Segundo o geógrafo Cal Lopes as faixas de praias juntamente com as dunas e áreas de restingas são partes integrantes dos ecossistemas da planície litorânea de relevada importância ecológica e extremamente importantes à preservação da biodiversidade e apresentam paisagem notável de grande beleza cênica.

Do ponto de vista legal, são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APP), conforme a Lei Municipal n° 2.193/1985 (Plano Diretor dos Balneários da Ilha de Santa Catarina), onde, o artigo 21, estabelece que as APP’s são aquelas necessárias à preservação dos recursos e das paisagens naturais, à salvaguarda do equilíbrio ecológico. As dunas são espaços territoriais especialmente protegidos também nos termos do artigo 2º da Lei Federal nº 4.771/1965 (Código Florestal Brasileiro, e Resolução CONAMA, n° 303/2002.

São caracterizadas, como regra geral, pela intocabilidade e vedação de uso econômico direto, constituem-se em espaços territoriais de domínio público, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso.

Em face da indiscutível relevância das áreas públicas de uso comum do povo, fragilidade aos processos antrópicos, bem como sua proteção legal, o desenvolvimento de atividades não deve comprometer os atributos naturais essenciais da área.

(PMF, 02/02/2011)