12 jan Vitoria-Gasteiz: cidade medieval é capital verde da Europa
Escolhida como capital verde da Europa para 2012, Vitoria-Gasteiz é uma cidade de tamanho médio – em torno de 250 mil habitantes — do país Basco, na Espanha, que demonstra que é possível mudar os hábitos e construir um ambiente urbano em maior harmonia com a natureza. Em pouco tempo, realizou projetos específicos para pedestres, ciclistas, automóveis, ônibus e trens. O resultado foi reduzir quase pela metade o uso de transporte individual.
A última pesquisa de mobilidade, por exemplo, apontou que metade dos deslocamentos feitos na cidade são realizados a pé, com uma diminuição de 45% no uso de veículos privados. Conforme explica Andrés Alonso López, chefe do Serviço de Planejamento Ambiental e Gestão de Recursos da cidade, o plano de mobilidade faz parte de um programa ainda mais amplo de mitigação das emissões de carbono, que pretende atingir a neutralização completa das emissões do município até a metade do século.
Para isso, são várias as medidas em andamento. Entre elas, a criação de um “anel verde’ em torno do município, uma área de preservação permanente que resulta 42 metros quadrados de área verde por habitante e que se tornou um atrativo turístico com mais de 500 mil visitantes/ano. Na área de energia renovável e eficiência energética são 79 projetos que incluem a instalação de18 mil metros quadrados de painéis solares (outros 30 mil estão em andamento), além da substituição de semáforos e da iluminação pública por equipamentos mais eficientes. A gestão de resíduos sólidos foi revista, com a colocação de metas ambiciosas de reciclagem e de redução do volume de lixo até 2016.
Segundo López, a temática socioambiental entrou definitivamente na agenda política do município há 15 anos, com a assinatura da Carta de Aalborg de Cidades e Povos Europeus pela Sustentabilidade. Esse foi também o início da confecção da Agenda 21 local, que em seu plano de ação 2010-2014 envolve 228 projetos em execução.
“A cidade vinha crescendo bastante. Para se ter uma ideia, eram 50 mil habitantes há 30 anos. Então, havia vários indicadores de que, se medidas não fosse tomadas, a cidade caminharia para o colapso”, explica López. “O maior desafio foi convencer a população e os grupos políticos de que são necessários compromissos de longo prazo. Não se trata do projeto de uma administração”.
O primeiro passo, segundo ele, foi obter consenso político. “Não se pode tomar medidas impopulares, como por exemplo, triplicar o valor do estacionamento dos automóveis em vias públicas centrais, se no dia seguinte a oposição vai aos jornais dizer que se estivesse no poder cobraria menos ou faria de graça”.
Outro ponto está na comunicação com a população. A iniciativa Civitas Europa, de mobilidade sustentável, inclusive elogia a forma como Vitoria-Gasteiz informou seus cidadãos sobre o novo sistema de transporte urbano. Houve, por exemplo, uma mudança completa em termos de horários e itinerários dos ônibus e do transvia (espécie de bonde moderno) que ocorreu praticamente da noite para o dia. Previamente, voluntários percorreram exaustivamente as diversas linhas explicando e distribuindo folhetos para a população sobre como seriam as mudanças.
As mudanças no sistema público de transporte também incluíram a construção de 21 km de ciclovias, completando os 95 km atuais, a instalação de 236 bicicletários (chegando a 600), a adoção de um sistema de registro municipal de bicicletas e até mesmo a criação de um Observatório da Bicicleta, que tem como objetivo fazer propostas para melhorar a infraestrutura e também promover o uso das bikes.
López diz não saber informar qual foi o total que essas mudanças custaram aos cofres do município. Mas garante que cada centavo aplicado retorna para a cidade de diversas formas, desde a economia energética à melhoria da qualidade de vida da população. “Hoje, há uma participação muito grande da população nos projetos do município, como fica evidente pelas hortas e jardins comunitários que se espalham pela cidade. As pessoas passam a se sentir responsáveis pela qualidade do meio ambiente urbano e isso não tem preço”.
(Por Romeu de Bruns, O Eco Cidades, 28/12/2010)