31 jan Turismo planejado na base do chutômetro
Um dos principais setores de SC não se entende quando o assunto é estatística
Quantos turistas vieram curtir o verão catarinense nesta temporada e quanto estão gastando em hospedagem, alimentação e lazer? Eles chegaram ao Estado de carro, de avião ou de ônibus? Por incrível que pareça, estes dados, imprescindíveis para planejar o turismo de SC e medir os seus resultados com seriedade, são impossíveis de serem obtidos de forma rápida e confiável.
Um exemplo disso é a Pesquisa de Demanda Turística da Santur, órgão oficial de divulgação de SC. Ela fornece informações como o movimento de visitantes em SC e, em algumas cidades do Estado, a sua procedência e o gasto médio diário. Os dados mais recentes disponíveis no site da Santur são de junho de 2009.
Especialistas e lideranças políticas e empresariais do trade turístico catarinense, que representa 12,5% do PIB estadual, concordam que faltam indicadores básicos para o setor no país e em SC. Investimentos em infraestrutura, novos negócios e na promoção do Estado se apóiam muito mais na experiência dos veteranos deste negócio ou mesmo “no improviso”, como define o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de SC (ABIH-SC), João Eduardo Amaral Moritz.
O Conselho Mundial de Viagem e Turismo (WTTC), que realizou a sua reunião anual em Florianópolis em 2009, fez um alerta a este respeito no estudo que mediu o impacto do setor de turismo na economia catarinense. Segundo o documento, muitas estatísticas utilizadas “precisam ser interpretadas com cautela”, porque até dados oficiais são incompletos ou conflitantes.
Setor hoteleiro merece atenção
O problema também foi constatado no Plano Nacional de 2007-2010 lançado pelo Ministério do Turismo. O documento propõe a consolidação de um sistema padronizado de indicadores, necessidade óbvia para um país que receberá uma Copa do Mundo e uma Olimpíada até 2016. O ministério ainda trabalha para dar uma utilidade aos dados contidos nas fichas que os hóspedes preenchem quando chegam aos hotéis, que não têm praticamente nenhuma destinação hoje.
Na opinião de Paulo Mélega, administrador pós-graduado em gestão de turismo e hotelaria e especialista em investimentos hoteleiros, o Brasil evoluiu no trato de indicadores nos últimos 20 anos, mas ainda é pouco.
Ele aponta dois problemas principais: a falta de indicadores básicos, especialmente para a rede hoteleira – taxa de ocupação e lucratividade dos leitos, entre outros – e a baixa confiabilidade das informações existentes.
– Esses fatores fazem com que os hoteleiros, as empresas e até o governo gastem muito dinheiro e energia no processo. Tão ruim quanto não ter dados é ter uma informação não confiável, porque isto leva as pessoas a tomarem decisões de forma temerária.
Em SC, não há consenso sobre a melhor solução para o problema. A Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte e a Santur apostam no avanço do Plano Catarina, elaborado para guiar as principais decisões estratégicas para o setor. Os indicadores seriam apurados por 10 núcleos de profissionais que atuarão nas 10 regiões turísticas do Estado.
Para presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagem de SC (Abav-SC), Eduardo Loch, o que falta é um “organismo oficial” capaz de concentrar as informações e organizá-las. Em vez de 10 núcleos regionais, ele acredita que bastaria uma central para fazer o serviço a um custo reduzido.
120 milhões de reais é quanto a Secretaria de Turismo de SC investirá em 2011
40 mil empregos diretos foram gerados pelo setor hoteleiro em 2010
200 mil empregos indiretos teriam sido gerados pelo setor no ano passado
300 milhões de reais é o quanto a hotelaria de SC fatura por ano
Veja mais estatísticas do turismo em SC (arte DC)
(ALESSANDRA OGEDA, DC, 30/01/2011)
Fecomércio cria metodologia
A Federação do Comércio de Bens, de Serviços e de Turismo de SC (Fecomércio-SC) tomou a frente em busca de estatísticas confiáveis do Estado. A entidade fez a primeira grande pesquisa da área de turismo em 2010, durante a Oktoberfest de Blumenau. A metodologia desenvolvida está agora sendo ajustada para apurar dados e indicadores de outros produtos turísticos do Estado. Em fevereiro, o núcleo de pesquisas pretende fazer um levantamento sobre a temporada de verão e, em março, sobre o Carnaval.
– Estamos trabalhando em parceria para conseguir este levantamento com base científica, obtendo dados confiáveis. A Confederação Nacional do Comércio está trabalhando neste sentido em nível nacional – afirma João Moritz, presidente da ABIH-SC.
Na opinião dele, a mentalidade dos empresários do setor está mudando e partindo para a profissionalização.
– As pessoas estão entendendo que é preciso apurar a taxa média de ocupação e o retorno financeiro dos leitos de todos os hotéis. Não somos concorrentes, mas aliados. Só com dados confiáveis poderemos planejar com mais segurança nossos hotéis. Hoje atuamos na base do improviso – avalia Moritz.
Para o presidente da Abav-SC, Eduardo Loch, falta o governo estabelecer regras claras para o turismo.
– Não há uma legislação específica para todas as áreas. Não estão claros os direitos e deveres de todo o setor. A iniciativa privada está avançando, mesmo sem indicadores e uma legislação que nos proteja. Sem contar a falta de infraestrutura – afirma.
Prova do comentário de Loch é que o Cadastur do Ministério do Turismo, que prevê o “cadastro obrigatório” de sete classes de prestadores de serviços do segmento, não tem os dados completos de Santa Catarina. Na categoria parques temáticos, por exemplo, não aparece o Beto Carreiro World.
Loch ressalta que a falta de indicadores não prejudica apenas a decisão de investimentos do governo, mas afeta as pequenas empresas do setor.
(DC, 30/11/2011)
Coleta será regionalizada
Após investir R$ 800 mil para a elaboração do Plano Catarina, um projeto de marketing criado para transformar SC em líder do turismo sustentável e ativo no país, o governo parte para a fase seguinte.
Até o final do ano, de acordo com o presidente da Santur, Valdir Walendowsky, as equipes dos 10 núcleos regionais previstos pelo projeto estarão ativas. Em 30 dias, segundo Walendowsky, a coleta de dados com um novo software desenvolvido para apurar indicadores do setor deve começar a ser utilizado em diferentes regiões do Estado.
– Com estes núcleos e dados, teremos o conhecimento exato da realidade do Estado no dia a dia. A partir dos indicadores que estas equipes vão coletar, o Estado poderá dedicar recursos para investimentos mais cirúrgicos. Teremos dados reais para justificar os nossos investimentos – acredita.
Os indicadores apurados pelos núcleos regionais serão utilizados para a tomada de decisões de prefeituras, governo do Estado e da iniciativa privada, segundo o presidente da Santur. Atualmente o governo está testando um novo software para palmtop, desenvolvido especificamente para a coleta de 40 a 50 indicadores, que será adotado pelos técnicos nas diferentes regiões do Estado.
De acordo com Walendowsky, a equipe envolvida com esta nova fase do Plano Catarina deverá ser composta por 180 pessoas. Mas para conseguir estas informações, segundo ele, será fundamental o trabalho em parceria com entidades de classe e as prefeituras. A relação com a iniciativa privada melhorou nos últimos anos, mas alguns ainda resistem em passar dados.
– Temos um grupo de 30 municípios com o qual vamos trabalhar em conjunto. Mas o ideal é que todas as cidades participem. Muitas vezes uma prefeitura menor não tem pessoal especializado, mas daí a Santur entra para fazer treinamentos.
(DC, 30/01/2011)
Secretaria quer avaliar eventos
O secretário de Turismo, Cultura e Esporte de SC, Cesar Souza Júnior, diz que a sua preocupação fundamental para a área é que os indicadores sejam aprimorados.
– Queremos compreender exatamente a quantidade de recursos que o turismo coloca no Estado, inclusive o quanto o setor contribui com a receita tributária. Depois que conseguirmos apurar estes dados, não será uma surpresa que o turismo corresponda a mais de 13% do PIB do Estado – aposta o secretário.
Segundo Souza Júnior, a Secretaria pretende avaliar todos os projetos apoiados pelo Fundo Estadual de Incentivo ao Turismo (Funturismo) de maneira que possa calcular qual foi o impacto real de cada evento na atração de turistas para o Estado.
– Não podemos ficar no empirismo (em relação à eficácia dos projetos) e nem participar de feiras a esmo.
Na opinião do secretário, o Estado deve combater os dois inimigos do turismo catarinense: a sazonalidade excessiva e a concentração de ofertas turísticas em poucas cidades. O terceiro objetivo seria o de incentivar o turismo interno, estimulando o catarinense a conhecer o próprio Estado.
(DC, 30/01/2011)