Na Capital, shopping alaga e ponte cede

Na Capital, shopping alaga e ponte cede

No ginásio da Escola Estadual Jacó Anderle, em Canasvieiras, no Norte da Ilha, em Florianópolis, 174 famílias dividem o alojamento com colchões, toalhas, travesseiros, lençóis e crianças jogando bola pela quadra.

Para as crianças, as cenas da destruição causada pelas chuvas em todo o Estado já são passado, trocada pelo futebol e pelos novos amigos. Os pais, em compensação, tentam mudar o rosto triste, o olhar preocupado e o pensamento distante. Mas esconder o desconforto é difícil.

Laíza Siqueira teve trinta minutos antes de ter a casa completamente alagada no Bairro Rio Papaquara. A filha, Fernanda Rafaela, que ontem completou quatro meses de vida, parecia alheia à situação. A mãe, conformada, gastava todo o tempo disponível brincando com a criança.

– Eu nem sei como está minha casa. Só deu tempo de pegar minha filha, juntar algumas roupas em uma bolsa e sair – conta.

Enquanto os três filhos brincam na quadra, Tereza de Souza lamenta ter deixado tudo pra trás e nem quer imaginar como as coisas estão na casa onde mora, no Bairro Vargem Grande:

– Nossa situação não está nada boa. Pelo menos estamos aqui, a salvo. As crianças estão ali, brincando, e para eles tudo é festa.

Perto dali, era dia de limpeza no Ilha Shopping. Por volta do meio-dia de sábado, a água surgiu violenta pelos corredores, arruinando o trabalho de quem sempre teve bons negócios nessa época do ano.

Na loja onde se vendiam livros e revistas, a água, que chegou a atingir um metro e meio de altura, estragou toda a mercadoria, estimada em R$ 70 mil. Ainda assim, a gerente Anne Vilar espera reabrir o negócio na sexta-feira, quando novos livros vão chegar de São Paulo.

– A chuva foi tão violenta que a comporta não aguentou. Eu trabalho com feiras em todo o Brasil e nunca me aconteceu nada assim. Olha só pra isso – diz, indicando o chão cheio de barro e madeiras quebradas que tomaram conta do shopping.

Por conta da chuva forte de sábado, a cabeceira de uma das pontes sobre o Rio da Palha, na SC-401, no Bairro Ingleses, cedeu no fim da tarde de ontem e acabou formando uma cratera.

O buraco mostra a fragilidade do terreno, que está oco, sobrando apenas a camada asfáltica.

Com isso, a Polícia Rodoviária Militar (PMRV) interditou a pista no sentido Bairro-Centro e controlou o fluxo de veículos. Apesar do buraco, o trânsito não precisará ser desviado, mas o deslocamento terá de ser em pista simples, já que apenas uma faixa foi interditada.

Por conta do movimento no Norte da Ilha, o local apresentou engarrafamento nos dois sentidos. Um engenheiro responsável pela manutenção da rodovia esteve no local para averigar a situação e concluiu que a ligação do asfalto com a ponte caiu. A previsão é de que a pista seja liberada na tarde de hoje. A PMRV passou a noite no local monitorando a situação.

(DC, 24/01/2011)

Dia de contabilizar perdas

Em cidades da Grande Florianópolis, ontem foi dia de realizar faxina e de voltar às casas atrás do que sobrou depois da chuva
Com um olhar cabisbaixo, o pequeno Josué Soares acompanhou, ontem, o pai no retorno a sua casa, no Loteamento Benjamim, em São José. O menino, de oito anos, é um dos cinco filhos do servente João Arlei Veloso, 48 anos, que tão cedo não vai esquecer da enxurrada do último fim de semana.

No município, 31 famílias (em um total de 110 pessoas) ficaram desabrigadas e foram alojadas no Ginásio Forquilhão. As localidades mais afetadas no município foram: Bela Vista, Forquilhinha, Roçado, Loteamento Benjamim e Loteamento Solemar.

Em poucos minutos, na madrugada de sábado, a água subiu mais de três metros e a esposa e os cinco filhos do servente de pedreiro precisaram ser resgatados pelos vizinhos e pelos bombeiros. Josué dormia ao lado dos irmãos quando a casa começou a ser tomada pela água, às 6h de sábado.

– Fiquei no abrigo, mas a solução é ir para a casa da minha sogra e esperar pelo fim da chuva. Eu tenho medo de morar aqui, mas não temos outra opção – lamentou João Arlei, que trocou, há dois anos, a comunidade do Brejaru, em Palhoça, pela nova residência.

A casa de Claudemir foi condenada pela Defesa Civil. Ele espera pela ajuda da Prefeitura de São José.

– Não tenho para onde ir, porque os meus parentes não têm condições de receber ninguém. Estão falando no aluguel social, mas quando terminar não terei para onde ir do mesmo jeito – relatou.

O secretário de Assistência Social de São José, Paulo Roberto Vieira, informou que as 31 famílias estão recebendo todas as refeições. Os desabrigados também tiveram atendimento médico no sábado.

– Todos os desabrigados foram cadastrados e a Defesa Civil prepara o relatório para a liberação do aluguel social. Neste período, o prefeito Djalma Berger quer construir as casas afetadas – disse o secretário.

(MICHAEL GONÇALVES, DC, 24/01/2011)