SC precisa ir além do turismo sazonal

SC precisa ir além do turismo sazonal

Todo verão a história se repete. O litoral catarinense recebe milhões de turistas e fica evidente a necessidade de melhora na infraestrutura para receber tanta gente. Mesmo com os problemas, Santa Catarina continua a ser um dos destinos mais procurados dentro do País. Dados deste ano do IBGE apontam que a atividade turística cresce acima dos outros setores da economia.

Para propor alternativas para o setor, foi realizado na semana passada em Brasília o seminário “Imagem do Brasil e a Promoção Turística Internacional”. Discutiu-se saídas para a área, além do debate da imagem do Brasil no exterior. Um dos organizadores do evento foi José Zuquim, presidente do Instituto Marca Brasil (IMB), uma Organização Social Civil de Interesse Público (OSCIP), sem fins lucrativos.

Confira abaixo a entrevista exclusiva de Zuquim para o Portal EconomiaSC.

Santa Catarina possui sérios problemas de infraestrutura e ao mesmo tempo tem uma tradição turística. O que explica essa contradição?

A demanda existe pela vocação do Estado para o turismo. Além disso, há equipamentos de primeira qualidade. Mesmo com as políticas públicas não correspondendo integralmente, isso não impede que os turistas sejam atraídos. A mobilidade ainda está garantida. Os aeroportos, per exemplo.

Há uma deficiência, mas que está voltada mais para a questão do conforto. É justamente neste ponto que deve se investir, visando aumentar a qualidade dos serviços. Melhorar a infraestrutura é necessário para atender a uma demanda maior. Os turistas vêm em buscas das belezas e atrativos do Estado. O que se deve focar é na melhora da oferta. Aumentando a oferta, a tendência é que a demanda também cresça.

O que mais precisa ser feito para que o Estado continue a se destacar na área turística?

O plano de marketing e divulgação do Estado está bastante consolidado. Há um posicionamento em férias, na mídia, nas agências de viagens e convites a personalidades. O que precisa ser mais bem trabalhado é a sazonalidade. Fora da temporada, a visitação recrudesce consideravelmente. Com isso, o número de negócios cai também.

O turismo foi a atividade que mais cresceu neste ano de acordo com o IBGE. Como se dá a relação entre desenvolvimento turístico e econômico?

Primeiro precisa se esclarecer que não existe mais esta divisão. Turismo também é economia. É um elemento muito forte dento da balança comercial. Gera bilhões de dólares em receitas. É natural que algumas atividades cresçam mais do que outras, até por motivos históricos. Se você pegar a indústria, por exemplo, a concorrência planetária é muito grande na compra de máquinas e equipamentos.

A grande exposição que o Brasil vem tendo internacionalmente vem contribuindo para que o turismo cresça mais rapidamente. Hoje, o Brasil possui um papel importante na política global. Outro ponto é o turismo doméstico, que cresce assustadoramente, em especial na parte de aviação. O número de passageiros quase dobrou nos últimos anos. E daí se volta à questão da infraestrutura, que precisa ser melhorada para atender ao crescimento da demanda.

Que regiões brasileiras possuem um potencial turístico ainda não explorado totalmente?

Todas. Não há destino no País que não precise ampliar sua capacidade. Olhando o mapa dos Estados, todos têm condições de melhorar nessa área. Historicamente, a região da costa é que possui um maior desenvolvimento, resultado do tipo de colonização que nós recebemos.

Existe algum País que possa ser tomado como exemplo?

Não se pode mais tomar países como exemplos. Hoje há o turismo de lugares. Tem de se vender o Brasil por partes, assim como Santa Catarina. Se você pega a Amazônia, por exemplo, tem que se olhar para a experiência do Peru do turismo de selva. Quanto ao turismo radical, não há como não citar a Nova Zelândia. A segmentação é irreversível. Esse tipo de turismo cresce hoje a taxas de 8% enquanto o tradicional se expande a 2% ao ano.

Você citou que a imagem do Brasil vem melhorando lá fora. A que imagem queremos chegar?

Precisa se diferenciar a imagem de marca. A marca precisa reproduzir a imagem que já se tem do Brasil, confirmar a sua identidade. É isso que se discute atualmente, sobre como o mundo olha para nós. Existem alguns pontos de vista, de que somos um país hospitaleiro. A partir daí se confirma a necessidade de se promover o turismo no Brasil de uma forma segmentada.

Como modificar clichês e estereótipos que o Brasil carrega?

O brasileiro precisa entender que esses clichês e estereótipos já mudaram muito. Essa história de falar que o Brasil é samba, Pelé e carnaval é um discurso ultrapassado. O Brasil carrega boas referências lá fora, de um país moderno, com belezas naturais. É um país que está na moda no ponto de vista de posicionamento político e econômico. Os formadores de opinião no mercado de turismo já têm essa nova opinião. O que tem de se fazer é transformar essa visão em produto.

E a imagem do Rio após a onda de violência? Como lidar com uma imagem negativa perante aos olhos internacionais?

Não há dados sobre isso ainda. Não se sabe como foi a repercussão do ponto de vista científico. O que se sabe é que os sites e jornais internacionais colocam a invasão dos morros cariocas de uma forma positiva. De que o Estado finalmente tomou uma posição de enfrentar o problema. Os efeitos positivos deverão vir mais para frente. Está se atacando a ineficiência do Estado.

Em uma análise geral, o turismo nacional está caminhando bem?

Os resultados têm sido bons tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Isso é importantíssimo. Basta você notar que o número de voos não aumenta tanto assim, porém o gasto médio de cada turista cresce bastante. A qualidade do turista que nos visita está maior.

(Economia SC/Sebrae-SC, 13/12/2010)