A omissão histórica do Estado

A omissão histórica do Estado

Da coluna Ponto Final, por Carlos Damião (ND, 26/11/2010)
Florianópolis tem mais de 70 favelas. A maior parte das ocupações irregulares é reconhecida oficialmente, através de projetos aprovados na Câmara de Vereadores. O parlamento municipal admite denominações de servidões, que são, ao fim e ao cabo, a prova maior de que não houve planejamento urbano nesses bairros populares. O leitor sabe quantas servidões existem em Florianópolis: 5.000. Isso mesmo. São 5.000 ruelas implantadas pelos próprios moradores, sem qualquer tipo de controle do poder público.
Assim, não é de se estranhar que, mesmo em menor proporção, tenhamos aqui um retrato tão explosivo quanto o do Rio de Janeiro. Exatamente porque a questão do tráfico de drogas está intrinsecamente ligada à existência (e tolerância estatal) de uma rede de situações sociais complicadas, cuja única serventia é sustentar currais eleitorais. O que acontece no Rio é fruto de décadas de descaso do poder público. Nossa situação não é diferente, embora, em escala, nossas mazelas relacionadas à violência ainda sejam muito menores.